Sempre idealizei o parto do meu filho como o momento mais feliz da minha vida. E assim foi até ao dia em que fui internada, às 38 semanas de gestação.
Estava tudo preparado para a indução do parto, mas demorou até começar a fazer dilatação (mais de 12 horas) e o meu medo começou. Era quase 21:00 quando comecei a ouvir conversas de que, a partir da meia-noite, havia greve de enfermeiros.
Comecei a ficar com muito medo. Muito mesmo! Pedi, por tudo, para me levarem naquele momento para cesariana porque tinha receio do que pudesse acontecer depois da meia-noite. Tinha medo de não ter a assistência necessária, do meu bebé ser prejudicado… enfim… de um sem fim de inseguranças!
Acabou por nascer depois da meia-noite, sim! Mas com os cuidados necessários naquela altura, principalmente graças ao meu médico.
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Mas de manhã, começaram os problemas. Uma enfermeira, com má cara, e com um discurso agressivo, veio ter comigo a perguntar se já tinha mudado a fralda do bebé e que eu tinha de saber o que fazer à criança. Expliquei que era primeiro filho, tinha dúvidas e que estava com muitas dores e quase sem me mexer devido ao parto complicado que tinha tido. Ela não quis saber.
Até que chegou outra e parou à minha frente e disse: «Só para avisar que estamos em greve de enfermeiros e só estamos a assegurar os serviços mínimos. Por isso, se quiser dar banho ao seu filho, terá de o fazer por sua responsabilidade».
Huumm… Ok! O meu primeiro filho acabou de nascer, nunca dei banho a nenhum bebé e, quase sem me mexer, vou dar banho ao menino? Não! O bebé ficou com o cabelo cheio de sangue, placenta e afins durante quase dois dias! Todo sujo das secreções do parto. E ninguém teve a amabilidade de me ajudar.
Obrigavam-me a levantar para ir buscar o suplemento, sabendo elas o tipo parto que tinha tido, que estava toda rasgada de uma ponta à outra e mal me mexia. Eu tocava na campainha, ia lá uma enfermeira e depois dizia para me levantar e ir ao corredor…
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Gritava comigo porque estava com muitas hemorragias e sujava muitos pensos e resguardos e elas não tinham de estar sempre de um lado para o outro porque estavam com serviços mínimos.
Até que nesse mesmo dia, um anjo da guarda entrou na minha vida. Um enfermeiro que até medicamentos me deu “às escondidas”, ajudou-me em tudo! Em tudo! Foi um amor!
Mas sinceramente, nada apaga o que as outras me fizeram a mim e às outras mães. Foram insensíveis connosco.
Tal como elas, também nós trabalhamos, também nós nos sentimos frustradas com os nossos trabalhos. E ninguém tem de pagar por isso. Muito menos a nível de saúde.
Elas estão no seu direito de fazer greve! Mas também têm o dever de me fazer o bem. E isso não aconteceu.
Textos: A.C.