Queridos (não vos conheço, mas fica sempre simpático), Pais,
O meu nome é Rute e o meu filho, de três anos, chama-se António.
Somos uma família feliz (à nossa maneira), temos momentos divertidos (à nossa maneira), somos apaixonados (à nossa maneira) e birrentos (à nossa maneira)… Ou seja, somos uma família como outra qualquer.
Na nossa casa não existe o criticar a educação ou o comportamento alheio. Existe o compreender que todos somos diferentes uns dos outros e que, um dia, somos nós a passar por algo e no outro será outra família.
Claro que existem chamadas de atenção, que existem conversas, que existem gritos (muitos!), que de vez em quando as ‘senhoras palmadas’ também surgem e, desculpem os mais sensíveis, mas são bem dadas e não lhes faz mal nenhum. (Ups… chegou o momento em que choquei as mãezinhas e paizinhos que nunca tiveram de passar por uma birra daquelas bem feias, em que a criança se deita no chão do supermercado e que grita como se a tivessem a ‘matar’… ou em que os braços e pés ganham uma vida e velocidade sem igual em direção a nós!)
Não me venham com falsos moralismos. Nem me venham com conversas desnecessárias e com paleio que não interessa a ninguém.
O meu filho faz birras e às vezes tira-me do sério. Já chorei várias vezes a pensar onde estaria a errar. Já conversei com a pediatra, com amigas que têm filhos e com mães de colegas da escola… e aqui vem o melhor e o pior!
A pediatra, impecável, por sinal, sempre me alertou para o que poderia surgir. Mas tenho pena que nem todos os Pais sejam alertados para isso. Os vossos filhos podem até não vir a fazer birras (e que sorte que vocês têm!), mas deveriam existir alertas para o ‘como lidar com as birras dos filhos dos outros’.
As pessoas são más com crianças de dois/três/quatro anos. As pessoas são más! Está-lhes no sangue.
Se gosto de ver (e ouvir!) o meu filho a fazer birras à frente de toda a gente? Não! Odeio! Mas ainda odeio mais os vossos olhares mesquinhos, de estranheza e de surpresa. Isso é que me incomoda. E já chorei e me enervei mais vezes por vossa culpa do que pelas birras do meu filho.
Que sorte vocês têm em os vossos filhos serem perfeitinhos. Que sorte vocês acharem que dão a educação perfeita porque os vossos miúdos não fazem birras. «Conta-se pelos dedos de uma mão as vezes que chamei a atenção do meu filho», ouço de vez em quando. E olha que bom para vocês! Querem que vista o vestido de gala para vos aplaudir?
Estou farta da mesquinhez dos Pais que se julgam os melhores do Mundo, os donos da educação perfeita e os que acham que os seus filhos são a ‘última bolacha do pacote’.
Lamento desiludir-vos, meus queridos! Mas o meu, para mim, é a ‘última coca-cola do deserto’. E é o mais bonito e o mais perfeito. E sabem porquê? Porque é MEU! E só por isso é o mais especial do Mundo.
Aaaahhh.. o vosso também? Que engraçado! Afinal temos alguma coisa em comum!
Não se esqueçam do que me dizem muitas vezes: «São fases, Rute! Calma! As birras fazem parte!» Ai que bem que sabe ouvir isto de outros Pais! De Pais que nem têm razão de queixa dos seus meninos, mas que me dizem a sorrir que não sabem «o dia de amanhã» e que um dia, certamente, serão os deles a passar por birras ou outro tipo de ‘problemas’.
Ser mãe e pai é um desafio diário. Os filhos testam-nos a cada dia que passa. Eles amam-nos mais a cada dia que passa. Não vêm com livro de instruções, nem com um botão onde posso carregar e desligar as birras ou outra coisa qualquer…
Pensem antes de criticarem o comportamento alheio das crianças e dos Pais.
Um dia podem ser vocês e vos garanto… não vão gostar de sentir na pele o que um dia fizeram sentir aos outros!
Sejam felizes… com ou sem birras!
Texto: Rute