Não é, de todo, uma realidade incomum. A única coisa que sei é que é uma situação triste.
Sinto que os meus pais são companheiros. Acredito que se amem como amigos. Nada mais que isso. O amor carnal não existe e acredito que tenha existido durante muito pouco tempo.
Nunca os vi como namorados, amantes, apaixonados. Sempre os vi apenas como amigos. E acho que por vezes nem isso… Sempre houve respeito, sim. Mas sabem aquela relação de ver os nossos pais andarem de mãos dadas, de se acarinharem e mostrarem o amor que os une para o mundo? Eu nunca vi isso.
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Se me deixa triste? Já deixou! Agora não. Com tudo o que vejo, prefiro mil vezes que tenha sido assim, do que ter assistido a outros episódios violentos.
Na minha casa sempre existiu respeito. Sempre! Mas hoje, já em idade adulta, penso: será que os meus pais se respeitaram a eles próprios? De que forma? Se viveram tudo aquilo que sentiram ou ficaram condicionados a uma vida infeliz por causa dos filhos, ou pelas questões financeiras, ou por qualquer outra razão?
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Quando era pequena, nem queria imaginar os meus pais a seguirem caminhos diferentes. Hoje penso se terá sido justo ficarem presos a uma vida sentimentalmente vazia, quando podiam ter sido muito felizes com outras pessoas, sem nunca perderem o amor dos – e pelos – filhos.
Sei que hoje a realidade é diferente, que é tudo mais “facilitado”, mas… cada vez penso mais nisso. Olho para eles e vejo-os a envelhecer só porque sim ao lado daquela pessoa, embora acredite que a grande amizade esteja lá.
Não é justo! Todos deveríamos ter a coragem e a oportunidade de vivermos o que sentimos.
Texto: Anónimo