Quando me dizem para não julgar, nem apontar o dedo àquela que abandonou o bebé no lixo, não sou capaz de não o fazer. E sabem porquê? Porque eu fui a filha de uma sem-abrigo durante dois anos. Andei na rua com a minha mãe, a dormir em escadas debaixo da ponte, onde calhasse e em momento algum a minha mãe me tentou matar nem pôr no lixo, nem afogar-me no rio. Protegeu-me do frio e do calor da melhor maneira que conseguiu, porque sabia que eu não era culpada pelos erros dela.
Como é que eu posso entender alguém que sabia que estava grávida? Sim, porque ela tinha namorado e um dos sem-abrigo alertou-a sobre o facto de estar grávida e ela ainda teve a esperteza de mentir ao dizer que tem problemas intestinais…
LEIA TAMBÉM: Bebé encontrado no lixo: Psiquiatra afirma que «vai ser muito difícil para o filho compreender a atitude da mãe»
Como posso compreender alguém que depois do nascimento do filho ainda fica indecisa se afoga o filho ou o deixa ser triturado vivo? Por que razão não decidiu dar um rumo à sua vida durante os nove meses de gravidez? E mesmo que não conseguisse, era só pô-lo à porta de um café de uma igreja em infinitos sítios e sair dali.
Por isso, não consigo entender como se quer fazer tanto mal a quem não pediu para nascer! E, sim, condeno, aponto o dedo, porque, como já disse, eu fui a filha de uma sem-abrigo que, apesar de todas e mais algumas dificuldades, cuidou de mim e amou.
Texto anónimo partilhado no grupo de Facebook As Mães de Cabelos em Pé