Ser mãe não é fácil, mesmo quando somos demasiado cuidadosas. Nem um pai nem uma mãe consegue prever certas situações que colocam a vida dos nossos filhos em risco. Mas, mesmo assim, sinto-me culpada por tudo aquilo que a minha filha sofreu…
Ela tinha apenas dois anos e meio. Eu tinha sido mãe há pouco tempo de um bebé que só bebia leite no biberão. Fiz a minha rotina normal do dia: fervi a água, dividi-a por vários biberões e coloquei-os em cima da mesa, bem longe do alcance da Mariana. O Manuel tinha apenas dois meses, tinha fome de três em três horas e chorava muito quando acordava. Eu preparava sempre tudo à noite. E ela nunca sequer tinha mostrado interesse naquilo.
Houve um dia que me distraí, fui à casa de banho e o meu marido ao lixo. Só a oiço aos berros, a chorar imenso… Nunca vou esquecer aquela agonia. Corri para a cozinha e estava ela no chão com parte do corpo queimada, dois biberões caídos ao seu lado… e o que aconteceu? Puxou a toalha da mesa até conseguir alcançar um dos biberões. Não sei se tinha sede e pensava que poderia beber daquele biberão ou se simplesmente lhe apeteceu fazer asneira.
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Só sei que até hoje me sinto culpada. Todos dizem que não posso pensar assim, mas o meu coração até acelera só de pensar!
Fomos de urgência ao hospital. Ficou internada um mês.
Hoje tem nove anos e, felizmente, as marcas estão disfarçadas. Mas tem algumas cicatrizes pelo corpo… Marcas de negligência. Marcas de quem não pensou em tudo, de quem não conseguiu programar com exactidão o que uma criança faz num minuto que seja sozinha…
Mas tenho de aceitar que não sou perfeita, como nenhuma mãe o é, certamente…
E que atire a primeira pedra quem nunca errou enquanto mãe ou pai.
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Texto: Márcia Fonseca
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