Saúde

Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção: «É muito desgastante lidar com a reprovação social»

Redação
publicado há 5 anos
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Muitas vezes as crianças são irrequietas e têm os chamados “bichos carpinteiros”. Mas o que por vezes é confundido com má educação ou rebeldia, é, em alguns casos, algo diferente.

Já ouviu a sigla PHDA? Sabe o que significa? É Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. Mas o que é esta perturbação? Teresa Melo, Presidente da Associação de Apoio à Criança Hiperativa, explica.

«É uma perturbação do neuro desenvolvimento, portanto tem uma base neurológica. É uma perturbação que pode ser, digamos, enquadrada nas perturbações do desenvolvimento, mas que tem características específicas em três tipos de comportamento: a questão da hiperatividade… o comportamento motor, a questão da desatenção… o chamado défice de atenção e a questão da impulsividade e hiperatividade e défice de atenção. Ou seja, o tipo misto e défice mais comum desta perturbação».

Segundo Teresa, durante alguns anos, a questão da designação acabou por ser «um bocadinho prejudicial ao entendimento desta perturbação, porque baseava-se muito na questão do comportamento, que no fundo é uma manifestação e não uma causa… a causa é neurológica. O comportamento é que é a manifestação dessa causa.»

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Como diagnosticar esta perturbação?

Para muitos pais, os filhos são irrequietos e na verdade, «a irrequietude e agitação motora, não significam que a criança possa ter esta perturbação.» Para a presidente da Associação de Apoio à Criança Hiperativa «vai muito além desta questão.»

Há critérios de diagnóstico para a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (que pode ler aqui) mas independentemente do que possa ler, nada dispensa uma visita a um especialista para tirar todas as dúvidas. «A avaliação deve ser médica, deve ser clínica. Uma avaliação que incide, sobretudo, na vertente cognitiva: a parte neurológica e a parte de saúde mental, porque há a necessidade de aprofundar a questão de saúde mental. Se existe ou não outro tipo de perturbação, como são exemplo: distração, falta de atenção, irrequietude… Pode, muitas vezes, demonstrar sinais de um quadro grave de ansiedade ou quadro dessa área mais específica da saúde mental», adianta Teresa.

Mas há que realçar que «nem sempre só uma opinião será o suficiente. O ideal será haver uma avaliação mais transversal que abarque estas áreas do desenvolvimento.» E dessa forma, há especialistas que devem ser procurados. Mas quais? «Os especialistas mais dentro dessa matéria: os neuropediatras, os pedopsiquiatras ou pediatras de desenvolvimento e a avaliação psicológica, que no fundo também vai aqui trazer determinadas questões ligadas à parte emocional e que tenha a ver mais com a área da afetividade e parte emocional, que muitas vezes é preciso compreender, para eliminar e despistar estes casos.»

Uma associação para ajudar crianças hiperativas… mas não só!

Teresa Melo é presidente da Associação de Apoio à Criança Hiperativa, mas também mãe. A ideia de criar este grupo de apoio surge como que uma resposta para aquilo que eram as suas próprias dificuldades. «O meu filho mais velho já tem 18 anos e há cerca de 10 começaram a surgir situações mais complexas e com as quais não sabia lidar. Foi um desbravar de caminho. Até porque não havia grande informação nem grande apoio até a nível de outros pais que pudessem partilhar histórias… e não havia tanta informação. Surgiu quase como que uma necessidade de tentar procurar de que forma é que eu, como mãe, me posso também ajudar e ajudar outros pais nestas situações», começa por explicar.

Teresa reside em São João da Madeira, na zona do Porto e na altura em que descobriu a perturbação do filho teve de deixar de trabalhar. «No caso do meu filho a hiperatividade não estava sozinha. Tinha perturbação de autismo e comportamento que não era fácil controlar. As manifestações eram sobretudo comportamentais e tinha alterações de sono. Não era um menino nada fácil. Era uma criança bastante difícil até na própria inclusão. Havia sempre muitos problemas associados à situação escolar.»

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Nessa altura, a vida, obrigatoriamente, mudou. «Predispus-me a ser voluntária e acabei por conseguir que a Câmara Municipal me disponibilizasse um espaço para eu começar a ter um grupo de pais que partilhavam as mesmas situações e que, no fundo, precisávamos ali de algum apoio entre nós. E começou assim, com um grupo de pais. À medida que íamos tendo questões mais complexas para dar resposta, começámos a perceber que se calhar isto passava um bocadinho mais por tentar outro tipo de abordagens. Fomos criando chaves com outros elementos, com profissionais e formámos a associação desde 2015 (mas começou em 2008 como grupo de pais). Conseguimos levar este projeto para além da “portinha” de apoio aos pais», diz, com orgulho.

«Temos imensos problemas fora de casa»

Teresa garante que as principais funções da Associação de Apoio à Criança Hiperativa são, acima de tudo, «apoiar famílias, docentes, portadores de PHDA em diferentes contextos – fazer aceitar e respeitar o portador de hiperatividade e défice de atenção, promovendo o seu sucesso pessoal.»

E por isso mesmo fazem vários workshops e dão palestras em escolas. Até porque o lidar com crianças com PHDA “dentro de quatro paredes” é uma coisa e fora, ainda é outro. «Muitas vezes, dentro de casa, conseguimos ir tendo algum tipo de flexibilidade e de orientação para começarmos a compreender melhor os nossos miúdos e ter uma atitude mais assertiva com eles. Isso também muda a nossa perspetiva de lidar com o assunto dentro de casa. Mas temos imensos problemas fora de casa. Um deles é o contexto da escola, em que muitas vezes nós não conseguimos que a escola dê resposta a estes miúdos. E se pensarmos no impacto que esta perturbação tem nas aprendizagens, o PHDA nas escolas, percebemos que este é, de facto, um grande desafio para nós como pais e aos miúdos como alunos. Daí a necessidade de haver nas escolas mais formação para este tema.»

As escolas podem ser incluídas nos problemas da sociedade… Na sociedade que ainda não está familiarizada com a PHDA. «É muito fácil julgar. Estamos habituados a ter tudo de forma muito rápida e transpomos isso para todos os setores da nossa sociedade. É muito fácil apontar o dedo àqueles pais que aparentemente não conseguem controlar um filho quando o comportamento não é adequado. Até mesmo nas escolas eu acho que isso ainda se acentua mais porque temos, muitas vezes, pais que descrevem situações horríveis. Contam que os mais pequenos não querem que aquelas crianças estejam na mesma sala que elas… todos os dias recebo chamadas de mães a contarem histórias que me assustam. Desde crianças que são deixadas dentro da sala para não irem para o recreio com os colegas, para não brincarem com eles… Fazem coisas tudo ao contrário do que deve ser feito. Porque impedem as crianças de adquirir aquelas competências que lhes falta», desabafa Teresa.

Por isso existe esta associação que vai às escolas ajudar os professores e alunos, para que percebam o que é, afinal de contas, a PHDA e como se deve lidar com crianças com esta perturbação. «Para quem sofre desta perturbação e quem tem de lidar com ela é muito duro. É muito desgastante ter de lidar com esta reprovação toda social», assegura.

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Como entrar em contacto com a Associação de Apoio à Criança Hiperativa

O grande objetivo desta associação é que esta rede de apoio se espalhe pelo país. «Temos uma psicóloga, uma terapeuta da fala, nutricionista e uma educadora de infância ligada ao ensino especial que dá apoio na área psicopedagógica. São as pessoas que estão envolvidas voluntariamente na associação. Trabalhamos em regime de voluntariado. Não temos outro tipo de intuito a não ser levar o projeto mais além e criarmos hipótese que mais pessoas façam o mesmo e criem uma rede de apoio. Não temos outra fonte de financiamento. Temos um protocolo com a Câmara Municipal que nos permite ajudar na aferição das famílias mais carenciadas. As outras cobramos uma quota simbólica de 20 euros anuais».

E a grande ferramenta de trabalho destes profissionais é a Internet. «Temos procura de pais de todos os sítios do país, até porque não há uma grande resposta a este nível. A importância do trabalho com a família é posto de lado. Nós conseguimos dar resposta mais presencial na zona norte, indo às escola e fazendo ação de sensibilização. Continuamos a ter portas abertas. Antes tinha de ir de porta em porta, hoje em dia já são as escolas e as associações de pais que nos pedem. Na Internet damos imenso apoio e telefónico também. Situações difíceis damos ajuda através de médicos de referência. Temos também consultas online de psicologia. Tentamos sempre dar as melhores respostas possíveis», finaliza.

Para quem quiser entrar em contacto com a Associação, poderá fazê-lo das seguintes formas:

Morada: Avenida Doutor Renato Araújo, 441, 3.º Andar
São João da Madeira

Telefone: 918 691 972

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