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A todas as mães emigrantes: «Ser mãe fora de Portugal é…»

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publicado há 5 anos
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Susana Morais vive em França há cinco anos, é casada e tem duas filhas. No página Oh Mamã faz desabafos, dá dicas e informações sobre maternidade. Leia o testemunho sincero que a jovem escreveu sobre ser mãe fora de Portugal. Um sentimento «agridoce».

 

Ser mãe fora do nosso país é fazer as compras e decorar o quarto do bebé, sem alguém para nos ajudar a concluir a tarefa ao pormenor (sim, porque para o marido, rosa é rosa e um body é um body).

É ter medo que na altura em que as águas rebentarem, o marido esteja a trabalhar e não temos mais ninguém para nos socorrer. É ter pânico, de com o stress na altura do parto não perceber o que dizem, por ser em outra língua e não saber o que fazer. É, na altura em que o efeito da epidural começa a passar, não perceber que lhe disseram para esperar pela cadeira de rodas e cair estatelada no chão por ainda ter as pernas tipo esparguete.

Raio do francês que demorou para entrar! É ter quatro amas devido aos horários de trabalho, sofrer por ter que deixar as filhas com várias pessoas diferentes sem as conhecer bem, mas ficar orgulhosa por conseguirmos dar conta do recado.

É ter a consciência pesada por ver a escola a aproximar-se e saber que vão ter que lidar com o facto de não falarem francês, mas ao mesmo tempo ter orgulho de poder ir de férias e falarem com os avós na sua língua.

É ir passear com as duas filhas pequenas e ouvir que emigrei só para receber os abonos e ficar em casa sem fazer nenhum (eu até gostava de saber como se faz nenhum com duas filhas). É ter medo de passar metade da nossa vida longe dos nossos pais e outra metade longe dos filhos, por estes quando forem grandes não quererem voltar de vez para Portugal como nós planeámos.

É ser mãe longe das nossas mães, longe dos nossos, das nossas raízes, logo não ter o colo da mãe quando nós também precisamos de colo. É ir para o nosso país e levar as férias todas para as minhas filhas se habituarem à família e quando finalmente se habituam, ter que voltar. É ensinar as minhas filhas que os avós estão dentro de telemóveis, nas vídeo chamadas. É ter que explicar porque choramos sempre que deixamos o nosso país depois das férias.

É ter os nossos filhos a ouvirem os nossos planos, de um dia voltar para onde pertencemos. É impingir às nossas filhas viagens de carro França-Portugal, de ida e volta duas vezes ao ano. É poder ter uma casa com jardim para brincarmos nos dias de sol juntos, é podermos ter os animais que elas e nós tanto gostamos, pois o preço da ração ao fim do mês não nos obriga a tirar comida do nosso prato. É não termos que fazer ginástica para que os dias do mês sejam maiores que o ordenado. É podermos comprar um monovolume de sete lugares para viajarmos confortavelmente. É sermos emigrantes aqui e emigrantes lá, ter estabilidade emocional num país e estabilidade financeira noutro.

Esta é a minha história, com muito mais para escrever lado a lado com o meu marido e duas filhas, com lápis coloridos, pois emigrar foi o pior que me aconteceu, mas também foi o melhor, um doce amargo. Tenho muito a agradecer ao país que me deu o equilíbrio necessário para começar a ser feliz. As minhas filhas vão crescer a ouvir as nossas histórias, vão crescer a saber que podemos replantar as nossas raízes onde bem nos apetecer, e que mesmo que não tenhamos o sol igual ao nosso país, pudemos ter as flores mais bonitas do mundo.

 

 

 

Texto: Susana Morais, na página Oh Mamã

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