A Semana Internacional da Tiroide, de 25 a 31 de maio, visa alertar para disfunções como o hipotiroidismo, que podem gerar dificuldades na fecundação, aumentar o risco de aborto, prejudicar o desenvolvimento do bebé e chamar a atenção para a necessidade de avaliar a função tiroideia por todas as mulheres que queiram engravidar.
Produtora de hormonas que ajudam no crescimento e metabolismo do cérebro, fígado, coração e outros tantos órgãos vitais, a glândula tiroide pode, ao longo da sua vida, sofrer algumas disfunções que afetam cerca de 80 por cento das mulheres a partir dos 35 anos e que podem ser entendidos através de diversos sintomas. Os nódulos, o bócio, o hipotiroidismo e o hipertiroidismo são as patologias da tiroide mais comuns.
No mundo inteiro, acredita-se que 1,6 mil milhões de pessoas possam sofrer com disfunções da tiroide, sendo a doença mais comum nas mulheres pois estima-se que uma em cada oito mulheres está em risco de desenvolver problemas de tiroide durante a sua vida.
Qual é o panorama nacional?
Há poucos dados publicados acerca da prevalência das doenças da tiroide em Portugal. Estima-se que cerca de 5% da população possa sofrer de algum distúrbio desta glândula, sendo o mais frequente o hipotiroidismo. As doenças endócrinas são, na sua maioria, mais frequentes nas mulheres e as doenças da tiroide, nomeadamente a disfunção da tiroide, os nódulos e o cancro, obedecem à mesma regra.
Pensa-se que as mulheres terão um ambiente hormonal mais propício ao aparecimento de doenças endócrinas. Por terem maior probabilidade de sofrer alterações do seu sistema imunológico apresentam mais doenças auto-imunes da tiroide que são as principais responsáveis pelo hipotiroidismo e hipertiroidismo.
O que é o hipotiroidismo?
É uma patologia insidiosa que se manifesta lentamente e os seus sinais e sintomas podem ser inespecíficos. Os que estão mais vezes presentes são: cansaço, maior sensibilidade ao frio, queda de cabelo, pele seca, aumento de peso, edemas, fraqueza muscular, depressão, obstipação, irregularidades menstruais.
Basicamente, se a produção de hormonas tiroideias se tornar insuficiente, a concentração de T4 e T3 reduz-se no sangue, a concentração da hormona hipofisária estimuladora da tiróide – TSH – eleva-se no sangue, menos hormonas tiroideias entram nas células e o metabolismo celular desacelera. É como se todo o organismo funcionasse mais devagar.
Hipotiroidismo na gravidez
Sabe-se que o hipotiroidismo pode levar a problemas de fertilidade, de crescimento fetal e no pós-parto. No caso da mulher em idade fértil que pretende engravidar o hipotiroidismo não tratado pode dificultar a fecundação, aumenta o risco de aborto e a evolução normal da gestação.
Também durante a gestação, os sinais e sintomas do hipotiroidismo são inespecíficos e facilmente confundíveis com queixas frequentes na gravidez: aumento de peso, falta de forças, cansaço e obstipação. Pode haver ainda um aumento do volume da glândula tiroideia, vulgarmente conhecido por bócio. Durante a gravidez há alterações fisiológicas no organismo da mãe que obrigam a glândula tiroideia a um esforço.
Até cerca das 20 semanas de gestação a tiroide fetal não sintetiza as hormonas necessárias para o desenvolvimento do feto pelo que este necessita das hormonas tiroideias produzidas pela mãe. As hormonas da tiroide são indispensáveis ao desenvolvimento do sistema nervoso central fetal.
Um défice destas pode-se traduzir mais tarde num atraso cognitivo ou dificuldades de aprendizagem da criança. Assim se compreende que o diagnóstico e tratamento tardios do hipotiroidismo materno podem comprometer o desenvolvimento do feto e mais tarde da criança. O hipotiroidismo não tratado pode ainda causar alterações na circulação sanguínea placentária, do liquido amniótico e aumentar a probabilidade de um parto pré-termo ou instrumentado.
As grávidas que apresentam hipotiroidismo causado por Tiroidite auto-imune crónica (ou de Hashimoto) têm maior probabilidade de desenvolver depressão pós parto e exacerbação da tiroidite durante um período limitado de tempo.
Quais são as medidas a tomar em caso de gravidez?
Se o hipotiroidismo já era conhecido pela mulher antes de engravidar e se não estiver tratado conduz geralmente a uma infertilidade. Deverá estar controlado e a mulher deve falar com o seu médico e fazer análises da função tiroideia quando pensar em engravidar.
Se o hipotiroidismo foi diagnosticado antes da gravidez, a dose de levotiroxina (T4) usada para tratar o hipotiroidismo necessita de ser aumentada, até 30% a 50%, pelas 4 a 6 semanas de gestação. Após o parto, as necessidades de levotiroxina, em geral, diminuem para doses habituais na mulher não grávida, mesmo durante o período de amamentação.
Desde que a função da tiroide esteja dentro dos limites pretendidos durante a gravidez e a mulher seja convenientemente vigiada a gestação pode decorrer de uma forma perfeitamente normal.
Portanto, toda a mulher que planeie engravidar deve realizar uma análise da função tiroideia. No inicio da gravidez deve ser também testada novamente a função tiroideia . Caso a mulher tenha uma doença de tiroide prévia a vigilância desta deve ser mais frequente durante a gestação.
Quais os sintomas de hipotiroidismo que não devem ser ignorados?
Os sintomas que estão mais vezes presentes são: cansaço, maior sensibilidade ao frio, queda de cabelo, pele seca, aumento de peso, edemas, fraqueza muscular, depressão, obstipação, irregularidades menstruais. O volume da tiroide pode estar aumentado (bócio) ou não. A persistência de dois ou mais destes sintomas devem fazer suspeitar de um hipotiroidismo.
Devido a um maior acesso á informação algumas pessoas conhecem a importância da tiroide contudo a maioria das mulheres desconhece o papel desta em etapas cruciais da vida, nomeadamente no crescimento e desenvolvimento sexual, na concepção e na gravidez.
Sobre a Semana Internacional da Tiroide
Este é o 12º ano em que se assinala, em Portugal, a semana internacional da tiroide. Uma iniciativa que este ano é apoiada pela Associação das Doenças da Tiroide (ADTI), Associação Portuguesa de Fertilidade (APFertilidade) e pela Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e pela Merck.
Sobre a Merck
A Merck é uma empresa líder em ciência e tecnologia, que opera nas áreas de Healthcare, Life Science e Performance Materials. Cerca de 52.000 colaboradores trabalham para marcar uma diferença positiva em milhões de vidas de pessoas, todos os dias, criando formas de viver mais felizes e sustentáveis. Desde tecnologias avançadas de edição de genes e descobertas únicas de formas de tratar as doenças mais desafiantes, até ao desenvolvimento da inteligência dos dispositivos – a Merck está em todo o lado. Em 2018, a Merck gerou vendas de 14,8 mil milhões de Euros em 66 países.
Artigo escrito com base numa entrevista feita à Dra. Maria João Oliveira, Endocrinologista e membro da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo (SPEDM) www.spedm.pt