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O pai e um aborto…

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publicado há 6 anos
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Os bebés são um bocadinho mais das mães. E é com muito orgulho que o digo. São e merecem ser! Aquele ser humano que lhes dá vida, que os carrega, que os faz nascer é algo fora de série…

Quando esse bebé não nasce, estes seres humanos transformam-se… Para além de mães que nunca deixarão de ser, ganham competências de verdadeiras guerreiras, ficam dotadas de uma força sobrenatural e a esperança domina todos os seus pensamentos.

Choram e sofrem muitas vezes em silêncio. A sociedade ignora, os médicos menosprezam mas a vida delas muda… e muda para sempre!

O pai é no fundo um mero espectador… um espectador impotente! Infelizmente, somos invadidos por um profundo sentimento de impotência! O medo e a frustração aparecem depois… Dávamos tudo para invertermos os papéis…

Sentimo-nos perdidos, não sabemos como ajudar… não conseguimos evitar aquele triste desfecho.

Olhamos para os olhos em água da pessoa que escolhemos para partilhar a vida e ficamos sem chão. Não podemos dizer que está tudo bem porque não está… não podemos dizer que é normal porque não é… Não há palavras, nada faz sentido…

Abraçamos, abraçamos o mais forte que conseguimos e prometemos que estaremos sempre ali. O olhar de medo da mãe é das visões mais aterradoras a que um pai assiste. Mas o nosso papel é o de nos aguentarmos fortes, mesmo estando destruídos por dentro.

No dia em que soubemos que nada havia a fazer não estávamos no Porto, tínhamos o médico longe e tivemos de recorrer ao único hospital perto de nós. Quero acreditar que temos mesmo muito azar nas idas aos hospitais públicos porque corre sempre mal… desta vez não foi exceção!

Com as mãos e olhos no telemóvel enquanto percorria as redes sociais, a médica diz que não há nada a fazer… com toda a indelicadeza do mundo, informa que irá prescrever uns medicamentos e que depois, caso a coisa corra mal, a mãe poderá voltar ao hospital…

E desta maneira desumana e fria, se diz a uma futura mãe que aquele sonho que carrega deixará de ser real. Naquele momento, apeteceu-me deitar as mãos àquele telemóvel e dizer umas boas verdades àquela médica mas achei que as minhas mãos seriam muito mais úteis num abraço e as palavras teriam melhor uso apaziguando a dor da mãe.

De olhos em lágrimas a Maria agradece mas recusa-se a levar qualquer prescrição dizendo que falará com o médico que a acompanha.

Os minutos seguintes foram só nossos… Naquele piso vimos dois bebés acabados de nascer e entregues aos pais que esperavam por notícias. A Maria, sorriu. Tudo parecia tirado de um filme de terror mas por outro lado, sabíamos que, juntos, tudo seria possível.

Liguei ao médico que acompanhava a Maria, organizámos tudo para deixar a Benedita entregue aos avós e partimos os dois em direção ao Porto. A viagem pareceu uma eternidade… aquele silêncio da Maria aterrorizava-me. Dei-lhe a mão e não a larguei por um segundo.

Nos dias seguintes foi vista umas 10 vezes pelo médico, foi tratada com respeito, com carinho e muita dedicação. Não tomou quaisquer comprimidos, não esteve internada, não sentiu dores e tudo aconteceu da forma mais natural possível.

Há momentos que não esqueço e aquele em que a tinha deitada por cima das minhas pernas enquanto aquelas contrações aconteciam, ficará para sempre gravada. Com a voz mais doce e uma calma fora de série, conversava comigo e comia pintarolas…

De 1 em 1 minuto sentia uma contração, fechava os olhos e voltava a abrir. Continuava a conversar… Dizia-me que estava bem. A Maria é muito insensível à dor e fica sempre mais preocupada com os que a rodeiam do que propriamente com ela. Aquele momento não foi exceção.

Nessa semana ficámos apenas os dois. A nossa família passou de quatro para três membros mas o nosso amor crescia. Prometemos que faríamos de tudo para voltar a conseguir.

A Dita regressou e era altura de lhe contar… momento difícil, mas a Maria conseguiu fazer daquilo a história mais bonita e mais mágica de sempre. Todas as noites dos dias seguintes a Benedita ia à janela procurar a estrela mais brilhante e dizia boa noite ao bebé.

Na verdade, não perdemos um bebé, ganhamos uma estrela que nos protege, nos guia e nos torna pessoas melhores.

(…)

Texto: Duas para Um - Daddy Blog 

 

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