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O monstro da meningite… esse ladrão de vidas

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publicado há 6 anos
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Fim do dia. Recolho-me na banheira para um banho bem quente. Haverá melhor terapia para um dia cheio de desgostos e aflições? O mergulho na vida dos outros é bem capaz de afogar um coração. Eles trazem um batalhão, para ajudar no combate a tanta bala embutida. Naqueles rostos de cansaço e medo, ainda sobra espaço para a esperança.

Eles, os pais, os pais daquela menina. Ela chama-se Anabela, ela tem dois anos, ela tem os dois sexos e hoje descobrimos que andava a ser perseguida por um monstro. Monstro esse que se apoderou dela. Tomou conta do seu cérebro, da sua visão e das suas capacidades motoras.

E nós que insistimos em dizer às crianças que os monstros não existem. Pois mentimos! Mas este monstro tem um nome! Ele foi apanhado… já tarde. Chama-se meningite.

Agora é prisioneira daquela cama de hospital. Daquele quarto que mais se parece uma bolha insuflável. Da janela, o sofrimento e dor no rosto daqueles pais que a acompanham. Que deixam a marca de suor das mãos naquela porta que os separa. As lágrimas escorrem pelo rosto e ninguém sabe dizer quanto tempo mais o relógio continuará a contar os minutos. Em mim… a culpa. A culpa de não ter identificado os sinais. Tantas pistas deixadas pelo ladrão de vidas e eu nem dei por elas.

O vazio na sala do infantário. A falta que me faz aquela criancinha que só pensava em comer. Que toda a hora me pedia por mais. Comer era a sua atividade preferida. Não havia legos nem pincéis que mudassem sua bússola. Aquela criancinha que adorava ficar abraçada por tempo indefinido. Os abraços eram maravilhosos, daqueles que conseguem fazer o ontem demorar. Era uma criança muito emocional, muito sensível. Com os colegas, enamorava-se pelo toque nos cabelos, demorava-se nos abraços e nos sorrisos.
Ela morava na ternura e vivia do aconchego.

Agora estamos aqui com falta de abraços demorados. E a mãe que nos visita com os braços vazios. Os braços de uma mãe não são para serem vazios. Malditos os monstros que vêm ensanguentar corações e deixar órfãos os colos.

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Passados seis meses…

Um passarinho nos trouxe uma carta. Carta escrita pelas linhas da vida. Minha menina de pele tão branca como a neve. Seus olhos eram duas amêndoas. Seus cabelos loiros eram tão suaves como as penas de um pássaro. Essa carta dizia-nos, a Anabela já estava fora de perigo. Nela, restaram as marcas desse monstro. Seus olhos não viam mais a beleza que outrora puderam ver. Seu corpo não podia mais dançar livremente. Seu cérebro não podia raciocinar de acordo com sua idade. Sua boca não nos beijaria mais com palavras soltas.

Para se lembrar das pessoas que passaram pela sua vida, podia levar minutos, horas, momentos. Sempre ou nunca. Quando nos veio visitar, os seus abraços não eram mais dóceis e aconchegantes. Eram frios e insensíveis. No seu rosto apagado, a esperança de uma recordação. Agora vai para uma escola especial. Ela sempre foi especial, de uma forma desmedida que não se encaixa nessa matemática. Mas agora precisa de acompanhamento. Precisa de outros abraços confortantes. De uma atenção só dela e para ela. Foi embora do meu ninho, aquele meu passarinho. Que a maldita meningite decidiu tirar de mim. Quebrou as asas, mas nunca os sonhos.

Para a Anabela, a menina que o monstro se apoderou.


Texto: Sandra Silva (Facebook e Instagram)

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