Educação

Estas crianças e jovens são a prova de que o desporto não tem género

Andreia Costinha de Miranda
publicado há 5 anos
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Este é apenas o mote para a reportagem que o site Crescer elaborou com quatro jovens que não desistem dos sonhos que têm, apesar da maioria sociedade continuar a “bater na tecla” de que há desportos “para rapazes” e desportos “para raparigas”.

Nos dias de hoje muito se fala (ainda!) dos desportos que são alegadamente para rapazes ou raparigas.

Nos dias de hoje ainda existem crianças que não seguem os sonhos que têm, pelas palavras de discriminação que ouvem por parte dos amigos ou familiares.

Nos dias de hoje ainda existem crianças que sofrem em silêncio porque são gozadas devido aos desportos que praticam.

Uma menina jogar futebol deve ser normal. Um menino fazer ballet, não deve ser surpresa.

Este é apenas o mote para a reportagem que o site Crescer elaborou com quatro jovens que não desistem dos sonhos que têm, apesar da maioria sociedade continuar a “bater na tecla” de que há desportos “para rapazes” e desportos “para raparigas”.

Veja o vídeo, em baixo.

Desconstruir a diferença de género

A luta pela igualdade entre rapazes e raparigas no desporto é, cada vez mais, uma realidade. Mas antes de explicarmos às crianças, «precisamos nós – sociedade – de perceber que não existe esta diferença no desporto entre géneros», garante a psicóloga, coach e facilitadora da parentalidade consciente Cátia Pereira Dias.

Nenhuma criança nasce a achar que existem desportos para rapazes e desportos para raparigas. Mas há questões que fazem com que esta seja a realidade que as crianças conhecem. «O condicionamento inicial, que começa logo em bebés, dos brinquedos para rapazes e para raparigas, da forma de vestir, bem como que os rapazes são mais fortes do que as raparigas, que os rapazes jogam à bola e as meninas brincam com bonecas, faz com que para a criança seja esta a verdade», explica a especialista.

Para ajudar a desconstruir estas crenças inerentes à diferença de género é importante perceber de onde vem esta ideia. «O desporto nasce na Grécia Antiga, como um culto e muito ligado à perfeição. Os conflitos entre estados estavam muito presentes e viram que uma das formas de os resolver, era juntar o desporto com a competição. Assim nascem os Jogos Olímpicos, onde escravos e mulheres não eram permitidos. Explorar a nossa história mais a fundo, perceber de onde vimos, vai ajudar os pais e educadores, a explicar as crianças de onde vem esta diferenciação.» 

Atualmente, existem vários exemplos de desportistas que demonstram, claramente, que o desporto é mesmo para todos. «Dar a conhecer esses exemplos às crianças é uma forma de demonstrar que, seja qual for o desporto que ela escolhe, o importante é que gostem», acrescenta Cátia.

As conotações associadas aos desportos que se praticam

Se as raparigas praticam desportos considerados para meninos, são apelidadas de “maria-rapaz”, mas se os meninos praticam desportos considerados para meninas, a conotação é mais complicada e, alegadamente, mais difícil de gerir para a criança. Então, de que forma os pais podem ajudar neste aspeto? Que tipo de abordagem deverão ter para com o (a) filho (a)? A psicóloga Cátia Pereira Dias, explica.

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«A melhor forma que os pais têm de ajudar o seu filho, perante esta situação, é estando presentes, demonstrando não só pela presença física, bem como através de palavras, como é exemplo: “Eu estou aqui para ti”. Esta presença é fundamental para criar um vínculo seguro, um espaço de diálogo, desprovido de julgamento e de crítica, e de aceitação pelo que está acontecer. Ajudar a criança a aceitar é fundamental, porque vai ajudar a criança a ter mais consciência dos seus recursos internos. Como? Ajudando a criança a gerir a emoção com curiosidade nas sensações corporais e na sua respiração, fazendo-lhe perguntas do género: “Como te sentes quando…?”, “e como te sentes, quando te sentes que estás…?” Seguido de reconhecer a emoção… “Eu vejo que ficas triste (ou outra emoção) quando….”.

Por fim, fazer uma simulação através de roll-play com a criança que, quando confrontada com a situação, de como poderá reagir. Sendo que as respostas vêm todas da criança, podemos fazer perguntas assim: “Como gostarias de reagir?” Temos de ajudá-la a ligar-se com aquilo que é importante para ela por estar a fazer este desporto. É fundamental que os pais tomem uma posição neutra, de presença autêntica, porque é normal para qualquer pai ficar mais exaltado quando sabe que o filho está nesta posição. Então, o primeiro passo da presença, de ligação a uma intenção maior é: “Eu quero estar ao lado do meu filho nesta situação”. É um passo imprescindível.»

Sim, os pais também têm culpa!

Os pais são, muitas vezes, culpados na ideia de que existem atividades para rapazes e atividades para raparigas. São os primeiros a dizer aos filhos para não praticarem determinado desporto porque é para menino ou para menina. Está mais do que na hora de mudar essa ideia.

«Esta ideia ainda está muito ligada às diferenças de género e, como tal, é quase inevitável ligar desportos de muita força, de luta, de competição aos homens do que às mulheres, porque não lhes era dado espaço para o fazer e, porque as mulheres continuam a ser uma minoria ainda em muitas áreas», explica a especialista que deixa alguns conselhos que os pais devem ler com muita atenção.

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«Os conselhos que posso dar aos pais, e são questões que me surgem em consultas, é de perceber qual o resultado que vão ter quando insistem que a filha tem que ir para o ballet e o filho para o futebol. Porque, cada vez é mais comum, aparecerem crianças desmotivadas com o desporto, porque não se identificam, porque o treinador é extremamente competitivo, porque o treino é muito exigente física e mentalmente, porque é mais uma atividade para além das muitas que já têm. Os desportos deveriam ser vistos como atividades de lazer e muito importantes para o desenvolvimento natural da motricidade, bem como da união do grupo de amigos.

Quando os pais insistem num determinado desporto correm muitos riscos de sofrer uma forte quebra nas suas expectativas, porque não perceberam que esse não era o desporto escolhido pela criança. Insistir num desporto e principalmente manter a ideia de que há desportos para rapazes e para raparigas é não querer ver o potencial gigante que uma criança tem e que não está a ser valorizado nas áreas de que ela gosta.»

E Cátia Pereira Dias deixa ainda uma última reflexão. «Uma criança que está desmotivada no desporto, eventualmente, também está desmotivada na criança. Faça a pergunta a si mesmo: Será que estou a ouvir verdadeiramente e a ver o meu filho tal e qual como é?»

Atitudes das crianças para com os outros: os pais têm um papel fundamental

Muitas vezes as crianças são cruéis umas com as outras. Umas sem a noção de que estão a magoar, outras apenas “porque sim” e outras com alguma maldade pelo meio. Aqui, entram, mais uma vez, os atores que têm um papel fundamental: os pais.

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«Eu lembro-me de assistir uma vez um jogo de futebol e sair de lá horrorizada, porque os pais conseguem ser muito mais agressivos no desporto do que as crianças. Onde vão as crianças encontrar estas crenças? As crianças têm os pais como exemplo para tudo o que fazem, mesmo que os pais não tenham consciência disso.

E, por vezes, fazem-no para que sejam amadas, vistas, reconhecidas, mesmo que isso implique fazerem desportos que não gostem», adianta a profissional.

E os conselhos aos mais pequenos também são essenciais: «Às crianças que gozam com outras crianças eu deixo estas palavras: o que é importante é fazermos o que realmente nos apaixona e que elas (as que gozam) também podem fazer essa escolha, mesmo que tenham muito medo de enfrentar os pais, ou até que pensem que fazer ballet é ser-se fraco, quando fazer ballet implica uma força interior incrível. Experimenta por ti mesmo», finaliza.

 

 

 

Agradecimentos: Cátia Pereira Dias, Psicóloga | Coach | Facilitadora Parentalidade Consciente 

Site: www.catiapereiradias.com
Facebook: https://www.facebook.com/catia.pereira.dias.a
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