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«As crianças são o futuro… mas também são o presente»

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publicado há 6 anos
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É um lugar-comum dizer-se que as crianças são o futuro e realmente faz sentido, são elas que vão tomar conta do mundo quando tiverem idade para isso. Mas será que elas sabem ou, de alguma maneira, pressentem que assim será? Terão noção da tamanha responsabilidade que lhes está a ser pedida? Será que elas têm noção de que o futuro do planeta, da economia, do comércio, das relações internacionais e tudo mais dependerá um dia delas? Será que, qual príncipes e princesas cujo destino estava traçado à nascença, sabem o peso que têm desde cedo entre mãos?

Acredito que nós, das gerações imediatamente anteriores, não teríamos essa noção e que essa responsabilidade nos era transmitida de uma outra forma, não tão urgente, não tão gritante. Talvez com mais crueza, mas também com mais compasso de espera. Era-nos dado tempo. Tempo para consolidar o que nos era dito na sala de aula e não só. Tínhamos tempo para brincar, aprender, comer, dormir e ser amadas e era só isso que queríamos, de uma maneira geral. E isso já era muito! Mas parece-me que, de há uns anos para cá, começámos a impor mais cedo a ideia de as crianças têm como missão prepararem-se para a vida adulta e o mais rapidamente possível, «para ontem», digamos assim. O aprender e memorizar tomou uma proporção grandiosa face ao resto, mas não necessariamente uma dimensão mais profunda e eficiente.

Como professora, passo por crianças nas salas de aula e nos corredores que têm na face e na linguagem o pavor da escola. Vejo-lhes a angústia expressa na forma como tratam o outro, como provocam desacatos, como gritam, discutem e se aborrecem com as matérias e as atividades. Não lhes vejo nos olhos e no sorriso a alegria de aprender.

Os currículos tornaram-se maiores e a motivação para aprender tornou-se inversamente proporcional, dá-me ideia. Mas muito poucos parecem ter notado isso. Será caso para se dizer que «o pior cego é aquele que não quer ver»?

As crianças regem-se pelos horários dos adultos: acordam cedo, permanecem na escola a maior parte do dia e regressam quando os pais ou outros cuidadores conseguem ir buscá-las. Alguns vêm cedo. Outros tarde, muito tarde. Algumas delas vão para Centros de Estudo fazer os trabalhos de casa, estudar mais um bocadinho e, se tiverem sorte, brincar e conviver depois disso tudo. Só depois de isso tudo, porque «primeiro está o dever». Brincar e conviver está no fundo da cadeia educativa.

Como é que brincar passou para segundo plano na vivência de uma criança?

Terá isto algum fundamento pedagógico? Quem nos disse que deveria ser assim? Estamos a ter bons resultados? Precisamos de refletir sobre o assunto. Precisamos de refletir sobre o rumo que estamos a dar à Educação, pois só nos estamos a centrar na velocidade e no fundo, como alguém muito sábio escreveu «a direção é mais importante do que a velocidade». Estamos em velocidade de cruzeiro. Com medo de que o futuro nos fuja, mas esquecendo o presente.

Mas pensemos nelas, nas crianças. O que é que essa ideia de futuro projeta nas suas mentes? Ou melhor, será que as crianças acolhem com alegria ou desconfiança esse tal «futuro» que depositamos nelas? E quando finalmente chegarem a esse patamar, ao patamar do estado adulto, se assim quisermos chamar, o que irão fazer? Será que podem ser adultos se saltarem a parte de ser crianças? Não ficarão alguns degraus por subir pelo meio? Não ficará uma parte delas por viver e celebrar?

Estou convicta de que precisamos de abrandar para pensar, para respirar fundo e tomar novas e melhores decisões. Vamos a isso.

 

 

 

Texto: Isabel Lima, Professora do 1.º Ciclo, Estudante de Coaching e de PNL

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