Muitas são as mães que se queixam de ter a casa sempre desarrumada, de nunca conseguirem ter tudo impecável. Mas será que quem tem é feliz?
Quando era solteira tinha sempre a sala linda e maravilhosa. As almofadas no lugar, a mesa de jantar limpa, as cadeiras no sítio… Hoje, com três filhos, se houver uma almofada no sofá é uma sorte! Os brinquedos estão espalhados por toda a casa. Há livros didáticos que são lidos diariamente em família, há jogos que tornam os nossos serões mágicos, há quilos de roupa por lavar do fim de semana divertido no parque (e do resto da semana).
Há migalhas no chão, no sofá, na cama e sabe-se lá mais onde! Há desenhos colados nas portas e no frigorífico com dedicatórias à mamã e ao papá. Há loiça suja das panquecas de aveia que fizemos de manhã todos juntos. E panos de cozinha que parece que vieram da guerra!
Há meias no chão do quarto dos miúdos, maquilhagem roubada à mãe num estado lastimável no quarto da miúda, bonecos perdidos dentro da nossa própria cama.
Há carrinhos dentro das botas e sapatos, que os papás só descobrem quando se vão calçar… Há toda uma banheira onde reina o mundo animal. Ao cantinho estão as nossas coisas de higiene (se estiverem no sítio é uma sorte também). Há bancos e banquinhos nas duas casas de banho, várias pastas de dentes, porque cada dia é um sabor… Enfim, manias!
À noite vão todos para a cama. Silêncio. Paz. A casa está um caos. Nem sempre tenho cabeça para arrumar a tralha. Afasto os brinquedos com os pés e sento-me no sofá (ups, um boneco apita debaixo do meu rabo e eu só penso: «OH NÃO! ELES VÃO ACORDAR!»). Mas não, estão ferrados. Ferrados de cansaço, da brincadeira, da felicidade que vivem diariamente em família.
E é assim que tem de ser. Hoje não me apetece arrumar. Fica para amanhã. Somos felizes assim. Quem não é?
Texto: Clara Gonçalves
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