Saúde

Filhos de pais diabéticos correm maior risco de sofrer com a doença

Filipa Rosa
publicado há 5 anos
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As mulheres que têm diabetes na gravidez poderão deixar de ter após o parto? De que forma afeta a probabilidade das crianças terem diabetes? E qual a probabilidade após o parto de voltarem a ter?

No Dia Mundial da Diabetes, que se celebra a 14 de novembro, quisemos perceber os riscos que correm a mãe e o bebé quando a diabetes faz parte da sua vida.

O site Crescer entrevistou o doutor António Garrão, coordenador do Departamento de Endocrinologia da CUF Infante Santo, que explica com clareza os riscos e cuidados a ter.

Leia aqui a nossa entrevista:

 

Crescer – Que cuidados deve ter uma grávida diabética?

Dr. António Garrão – Nas situações em que a mulher tem diabetes fora do contexto de uma gravidez, ou seja, a diabetes é prévia a uma eventual gravidez, os cuidados devem começar muito antes da conceção. Nestes casos, a gravidez deverá ser sempre planeada e só deverá ocorrer após uma rigorosa avaliação dos riscos para a mãe e recém-nascido. Tendo em atenção o facto de existir uma relação entre a exposição do embrião (fase muito precoce do desenvolvimento) a níveis elevados de glicose e uma maior probabilidade de ocorrência de malformações fetais, é muito importante que se atinja um bom controlo da diabetes ainda antes da conceção.

A necessidade de bom controlo da glicemia mantém-se durante toda a gravidez, para todas as grávidas com diabetes. Níveis de glicemia inapropriadamente elevados estão, de forma inequívoca, associados ao surgimento de uma série de complicações que podem afetar a normal evolução da gravidez, pondo em risco tanto a saúde da grávida como a do recém-nascido.

Para que consigamos cumprir o objetivo a que nos propomos, o cumprimento rigoroso de um programa alimentar, elaborado por um profissional especializado, com treino na abordagem de grávidas com diabetes e a adesão a um programa de exercício físico adaptado à situação específica da grávida, são indispensáveis. A auto-avaliação dos níveis de glicemia, várias vezes durante o dia e o acompanhamento médico diferenciado, no contexto de equipas multidisciplinares experientes são, também, de extrema importância para a promoção de uma gravidez saudável, com redução dos riscos para a mãe e recém-nascido.

Há probabilidade das crianças herdarem diabetes?

Nas formas mais comuns de diabetes, os filhos de pais diabéticos podem herdar uma «tendência» ou risco aumentado de vir a ter a doença. Nestes casos a expressão da diabetes está em grande parte dependente de fatores ambientais. Na diabetes tipo 2, responsável por mais de 90 por cento dos casos, estes fatores são bem conhecidos e estão relacionados com o sedentarismo e uma alimentação pouco saudável, hipercalórica, ambos facilitadores de um ganho de peso excessivo.

Existem, no entanto, formas de diabetes muitíssimo raras, designadas por monogénicas, em que a transmissão genética de pais para filhos pode ocorrer. Não constituem de forma alguma a regra.

Depois do parto é possível deixar de ser diabética? Ou poderá piorar?

A maioria das grávidas a quem foi feito o diagnóstico de «diabetes», tem diabetes gestacional. Nesta categoria são incluídas as grávidas em que a hiperglicemia (excesso de glucose no sangue) surgiu ou foi diagnosticada durante o decurso do período gestacional. A diabetes gestacional é, na generalidade dos casos, identificada na sequência da realização do rastreio obrigatório, efetuado na altura da primeira visita médica da grávida ou entre as 24 e 28 semanas de gestação, quando o primeiro teste foi negativo. Quando a situação é reavaliada seis a oito semanas após o parto, só uma pequena percentagem destas mulheres continua a cumprir os critérios de diabetes. No entanto, o facto de ter tido diabetes gestacional constitui um indicador claro de risco acrescido de vir a ter diabetes no futuro, fora do contexto de gravidez. É, por este motivo, importante que estas mulheres sejam acompanhadas após o parto, com o objetivo de promover a adoção de um comportamento alimentar saudável e a prática de atividade física regular, procurando deste modo diminuir a probabilidade de surgimento da doença.

Quando a diabetes é prévia à gravidez, durante o período gestacional pode ocorrer progressão de algumas complicações crónicas da doença, já existentes no momento da conceção, de que é exemplo a doença da retina ou retinopatia diabética. Este agravamento pode ter consequências para toda a vida. Reforço, por isso, ser de extrema importância que as mulheres com diabetes, em idade fértil, que pretendam engravidar, sejam devidamente avaliadas e aconselhadas, ainda antes da conceção e que a gravidez seja acompanhada por uma equipa de saúde treinada no seguimento de grávidas com diabetes

Uma pessoa que sempre foi saudável pode ter maior probabilidade de ter diabetes na gravidez?

Em Portugal, em 2016, 7,5 por cento das grávidas foram diagnosticadas com diabetes gestacional e, quando consideramos apenas o grupo de grávidas com idade igual ou superior a 40 anos, este valor sobe para 16,5 por cento. Trata-se, por isso, de uma situação relativamente frequente. O aparecimento de diabetes durante a gravidez deve-se ao facto da placenta produzir um conjunto de hormonas que aumentam a resistência à ação da insulina, dificultando assim a entrada da glucose nas células. As pessoas susceptíveis, de que são exemplo aquelas que tem excesso de peso ou familiares em primeiro grau com diabetes, indício de que poderão ter, também elas, um património genético facilitador do surgimento da doença, podem não conseguir ultrapassar a ação «diabetogénica» destas hormonas. O resultado final é o surgimento de hiperglicemia, ou seja de diabetes gestacional. Esta situação ocorre, sobretudo, a partir do segundo trimestre de gestação.

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