Saúde

Implante coclear: A solução para crianças e adultos surdos ou com problemas de audição

Filipa Rosa
publicado há 6 anos
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A surdez é um dos problemas que afeta milhares de crianças e adultos em todo o mundo. Há crianças que já nascem surdas, sendo mais fácil o diagnóstico ainda no hospital, mas há meninos que só durante a infância começam a dar os primeiros sinais de problemas de audição.

Com o avanço da tecnologia, hoje em dia é possível proporcionar um futuro melhor a todas as pessoas que sofrem com a doença. Nunca ouviu falar em implantes cocleares? O site Crescer falou com a doutora Luísa Monteiro, especialista nestes implantes que considera um sucesso. «É muito importante divulgar esta miraculosa tecnologia. Talvez sirva para desmistificar e apoiar as crianças surdas e as suas famílias», diz-nos a otorrinolaringologista.

Surdez: O diagnóstico

A surdez pode ser diagnosticada logo ao nascer, nunca o é durante a gravidez. «Suspeita-se logo no rastreio antes da alta da maternidade e o rastreio definitivo deverá estar completo por volta dos três meses, excepto nas formas, mas raras, de aparecimento mais tardio. Algumas causas são genéticas e podem ocorrer em famílias em que nunca houve surdez, no caso de pais portadores de genes de surdez. Pode surgir em casos de infeção que tenha ocorrido durante a gravidez provocada pelo citomegalovírus (causa mais frequente de surdez não genética nos países desenvolvidos)», explica-nos.

«Os bebés com grande prematuridade ou com complicações graves ao nascer, podem também desenvolver surdez logo nos primeiros momentos de vida.»

Pode ser complicado para um pai ou para uma mãe perceber que o seu filho está com problemas de audição. Luísa Monteiro deixa alguns alertas. «Nem sempre é fácil, sobretudo quando a doença se instala progressivamente e quando não se acompanha de dores de ouvidos ou saída de pus. Se a criança tem um atraso de aquisição de linguagem, muitas otites, se fala muito alto e diz ‘hã?’, se muitas vezes não percebe o que se diz, sobretudo em ambiente com ruído (como no carro em andamento), se coloca sempre o som da televisão muito alto, está na altura de visitar um otorrinolaringologista. Se a criança é pequena, não consegue, na maior parte das vezes, explicar que está a ouvir mal.»

Nos mais pequeninos há que estar atento a outros fatores. «Em crianças muito pequenas podem existir alterações de comportamento, agressividade, sintomas de frustração ou isolamento no infantário porque a criança não ouve o suficiente.»

Atenção às otites!

As otites são o verdadeiro pesadelo para os pais. É um dos maiores problemas que surge nos primeiros anos de uma criança. E nem sempre se curam com facilidade. «Há problemas de audição relacionados com problemas inflamatórios ou infecciosos do ouvido médio (otites seromucosas, perfurações timpânicas, lesões dos ossinhos do ouvido médio ou colesteatomas) que podem provocar diferentes graus de perda auditiva, não sendo surdez, e que se podem tratar ou melhorar substancialmente através de operações», explica Luísa Monteiro.

«No caso das otites seromucosas arrastadas ou mais graves, a operação de colocação de tubinhos (ventiladores) no tímpano resolve na maior parte das vezes o problema de audição, de grau médio, causado por esta doença. No caso das otites com lesão dos ossinhos ou perfuração da membrana do tímpano geralmente faz-se uma cirurgia de reparação do ouvido médio. Nos colesteatomas (quisto benigno, mas progressivamente destrutivo do ouvido), o objetivo principal é a erradicação da doença, podendo ou não ser fácil a restituição da audição.»

De que forma é que prejudica a criança o diagnóstico tardio?

Há consequências graves no desenvolvimento de uma criança se o diagnóstico não for feito logo com os primeiros sinais. Há que estar atento! «As crianças necessitam ouvir bem para que possam adquirir competências comunicativas, desenvolver a linguagem e aprender. Grande parte da aprendizagem na infância é uma aprendizagem por exposição ao meio ambiente e à interação social, só alguma parte dos conhecimentos são adquiridos, formalmente, na creche ou na sala de aula. Sabemos hoje que o cérebro humano é ávido de comunicação e de linguagem, grande parte da qual é verbal e auditiva (palavras, sons da natureza, música, etc.)», refere a especialista.

«Se estiver diminuída a capacidade auditiva, quer por períodos longos, quer de forma definitiva, irá haver menor desenvolvimento das funções cerebrais relacionadas com a audição e a produção de fala que será tanto mais afetada, quanto mais tempo se passar sem mitigar o problema.»

Segundo Luísa Monteiro, cresse que o maior período de desenvolvimento cerebral das crianças ocorre até aos três anos de idade (neuroplasticidade cerebral), daí a urgência em diagnosticar precocemente e tratar os problemas auditivos mais graves até esta idade. «O que está recomendado é que, apesar do rastreio auditivo antes da alta da maternidade, pais, pediatras e educadores estejam alerta par sinais precoces de perda auditiva de aparecimento ao longo da infância. Antes da entrada no ensino regular aos seis anos, todas as crianças deveriam fazer um rastreio auditivo.»

Em que consiste o implante coclear?

O implante coclear, segundo explica Luísa Monteiro, consiste numa aplicação de um aparelho por baixo da pele, na região atrás do ouvido e que tem elétrodos muito finos que se introduzem no ouvido interno. Vai receber o som já codificado pela parte externa do implante (processador) através da pele e assim a função ausente ou muito alterada do ouvido, é substituída e o cérebro é estimulado, permitindo que, com o treino, o paciente reconheça os sons e adquira linguagem oral.

«É uma cirurgia delicada, mas geralmente muito bem tolerada pelo doente, com internamento muito curto e poucas dores. Raramente ocorrem vertigens, transitórias, e só após a ativação da parte externa é que o paciente tem sensação auditiva. Sempre que o doente desliga ou tira o processador externo, a sensação auditiva desaparece, isto é, sem a ligação externa o doente continua a ser surdo», esclarece, acrescentando que a cirurgia poderá demorar entre uma hora e meia a três horas em cada ouvido.

Qualquer pessoa ou criança poderá ser submetida a esta cirurgia e ter uma melhor qualidade de vida. «Todas as crianças e adultos com surdez de grau profundo bilateral ou grau severo sem ganhos suficientes através de aparelhos auditivos convencionais são candidatos a implante coclear, bilateral no caso das crianças (ver Norma de Orientação Clínica da DGS de dezembro de 2015, relativa à surdez infantil)», afirma Luísa Monteiro, que considera esta técnica um verdadeiro sucesso.

«Há muitos casos e felizmente a taxa de pessoas com acesso a esta tecnologia está a crescer de ano para ano, em virtude das ações de rastreio auditivo e divulgação destas tecnologias junto da comunidade médica e junto do público em geral. No entanto, devemos continuar a campanha de diagnosticar e implantar cada vez mais precocemente as crianças surdas, idealmente até aos dois anos de idade, e não esquecer os adultos que vão progressivamente perdendo a audição, quer em idades produtivas das suas vidas, quer os cidadãos seniores em que não se deve encarar a surdez progressiva e socialmente incapacitante como uma fatalidade irreversível.»

Cuidados no pós-cirurgia

Há alguns cuidados a ter após a operação? «Existem cuidados relacionados com a manutenção do equipamento que são sempre explicados ao doente e aos seus cuidadores e alguns cuidados com a zona do implante, mas que não impedem o paciente de ter uma vida absolutamente normal, familiarmente e socialmente integrada», explica Luísa Monteiro.

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