Saúde

A importância das vacinas: Mais vale prevenir que remediar!

Redação
publicado há 6 anos
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Nos últimos 100 anos verificou-se um enorme aumento da esperança média de vida, em todo o mundo, fruto de grandes avanços nas condições de vida das populações, do desenvolvimento das ciências biomédicas e da oferta de cuidados de saúde, sobretudo a vacinação, que muito fez pela redução acentuada do número de casos de várias doenças infecciosas graves e da sua gravidade, especialmente na infância.

Uma vacina é um preparado de um ou vários antigénios de um determinado agente infeccioso (vírus, bactéria, parasita…), que, quando inoculado no nosso organismo, por via oral, nasal, subcutânea, intradérmica, intramuscular ou outra, atua sobre o sistema imunitário para estimular a produção de anticorpos contra esse agente infeccioso, evitando que a pessoa vacinada venha a ter essa doença ou fazendo com que adoeça com menor gravidade quando for contagiada por esse agente.

As vacinas demoram dias ou semanas a produzir os seus efeitos, necessitando, na maioria dos casos, de ser administradas em várias doses separadas, que vão induzindo uma resposta imunitária cada vez mais potente e duradoura. Algumas vacinas têm um efeito protetor muito elevado (sarampo, poliomielite…), enquanto outras apenas conferem uma proteção parcial e/ou de curta duração (tuberculose, raiva, gripe…).

Prevenção da doença

Os anticorpos produzidos como resposta à vacinação são semelhantes aos que o nosso organismo produz como resposta a uma doença natural, mas, em geral, são menos potentes e menos duradouros do que os naturais, o que obriga, em alguns casos, a fazer reforços vacinais (Haemophilus influenzae b, poliomielite, sarampo, papeira, rubéola) e a programas de revacinação ao longo da vida (tétano, difteria, tosse convulsa).

Uma vacina pode ser constituída por antigénios de um único microrganismo (por opção ou porque não se deva misturar com outras vacinas) ou de vários microrganismos (vacinas combinadas, o que baixa os custos, facilita a logística e aumenta a adesão à vacinação.

O objetivo primário da vacinação é a prevenção de uma doença em indivíduos ou grupos, o objetivo último é a erradicação de uma doença (a varíola foi considerada pela OMS erradicada em 1980 e falta pouco para erradicar a poliomielite) e o objetivo global é conseguir o máximo de eficácia, isto é, fornecer o máximo de proteção com o mínimo de efeitos secundários e de custos.

«Imunidade de grupo»

Além de protegerem individualmente cada uma das pessoas vacinadas (embora de forma variável), muitas vacinas têm a capacidade de, a partir de determinadas taxas de cobertura vacinal (em geral 90 a 95% da população), interromper a circulação dos microrganismos nos membros dessa população, mesmo os não vacinados, originando aquilo a que se chama «imunidade de grupo». Isto permite proteger as pessoas que, por motivos vários, não responderam à vacinação ou não podem ser vacinadas (imunocomprometidos, prematuros, pessoas com doenças oncológicas ativas…), o que constitui uma mais-valia importante da vacinação.

Um efeito «indireto» das vacinas é o da prevenção do cancro, como é o caso da vacina contra o papilomavírus humano (HPV), que protege contra alguns tipos oncogénicos deste vírus, que provocam o aparecimento de lesões do colo do útero, da vagina, da vulva, do ânus e até da cavidade oral, que podem evoluir para o cancro (inclusivamente em homens, o que justifica a necessidade de vacinar os rapazes). Pensa-se que outras doenças oncológicas, como os linfomas, também estejam relacionadas com vírus e por isso possam vir a ser prevenidas por vacinação.

Em Portugal vacinas são gratuitas

São poucos os países que obrigam a fazer vacinas, apostando-se mais na educação para a saúde e na vontade que a grande maioria das pessoas tem mostrado em se proteger e em proteger os seus filhos. Em Portugal, a vacinação conta as doenças alvo do Programa Nacional de Vacinação (PNV), é gratuita, universal, vivamente aconselhada e veementemente recomendada (para a maioria das doenças abrangidas pelo PNV, o seu controlo depende da manutenção de uma proporção elevada de pessoas vacinadas) mas não é obrigatória. No entanto, os portugueses têm aderido maciçamente à vacinação, o que permite ter uma elevada cobertura vacinal, que atinge 95 por cento da população até aos 18 anos de idade em relação a todas as vacinas, com exceção da HPV, que chega a 85 por cento.

Desde que foi implementado, em 1965, o PNV tem sofrido inúmeras adaptações (atualmente abrange 13 doenças: difteria, tétano, tosse convulsa, tuberculose, poliomielite, sarampo, rubéola, parotidite epidémica, hepatite B, HPV e doenças invasivas por Hib, meningococo C e pneumococos) e foi alvo de várias «Campanhas de Vacinação» Os resultados estão à vista, tendo-se já conseguido a erradicação da varíola, a eliminação da difteria, do tétano neonatal, da poliomielite, do sarampo e da rubéola e o controlo do tétano, das infeções por meningococos C e Haemophilus influenzae b, da hepatite B, da parotidite epidémica, da tosse convulsa e da tuberculose.

Defender a vacinação como um bem universal!

Apesar do inquestionável sucesso que as vacinas têm demonstrado, estão a surgir movimentos antivacinação nas sociedades ocidentais, onde menos seriam esperados. O receio de efeitos secundários graves e, por vezes, mortais (que realmente existem, mas são muito raros, não chegando para pôr em causa a excelente relação custo/benefício da vacinação) e as «modas» do naturalismo, do veganismo ou da fitoterapia têm vindo a afastar muitos pais dos centros de vacinação e a confiar que, miraculosamente, os seus filhos sejam capazes de crescer livres de doenças infecciosas numa sociedade eminentemente gregária, na qual as crianças, desde muito novas, estão expostas a múltiplos microrganismos geradores de doenças graves.

Se queremos continuar a proteger as nossas crianças e a dar-lhes as melhores condições de vida possíveis, será preciso que todos colaborem, promovendo a sua saúde, prevenindo as doenças, colaborando no seu tratamento e defendendo o meio ambiente. Será necessário um grande investimento técnico, financeiro e em recursos humanos e a sociedade terá de se organizar de uma forma mais solidária, permitindo que os cuidados de saúde cheguem a todos. Teremos de vencer resistências de vária ordem (como a resistência à vacinação) e desafios de toda a espécie (desde o combate à pobreza até ao terrorismo), para os quais devemos estar preparados. E teremos, entre outras tarefas, de defender a vacinação como um bem universal!

Texto e agradecimentos: Por: Dr. Viriato Horta, Especialista de Medicina Geral e Familiar, Clínica Europa (Carcavelos)

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