Artigo de opinião no Painel Saúde da Nova Gente
Por Ana Candeias – Médica Ginecologista
O cancro do ovário é pouco frequente, apenas 4 por cento dos tumores malignos, mas é o mais agressivo dos tumores ginecológicos, sendo a 7.ª causa de morte a nível mundial.
É de difícil diagnóstico por se desenvolver de forma silenciosa e os sintomas geralmente só surgirem nos estádios mais avançados. Podem ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequentes nas mulheres em pós-menopausa, entre os 50 e 60 anos.
Em Portugal surgem todos os anos mais de 350 novos casos e apresentam cerca de 70 por cento de mortalidade. São factores de risco ter antecedentes familiares de cancro do ovário, mas existem testes genéticos para identificar as possíveis mutações herdadas e avaliar o risco de vir a desenvolver cancro do ovário (20-30 por cento se mutação no gene BRCA1 e 10-35 por cento no BRCA2).
Também são fatores de risco, entre outros, antecedentes de cancro da mama, útero ou colo-rectal, bem como ter efetuado tratamentos de infertilidade com indutores da ovulação.
O uso regular e prolongado de pílula contracetiva, por inibir a ovulação, diminui o risco de doença em 30 a 60 por cento.
O ovário é formado por três tipos de células, as células epiteliais que revestem a superfície do ovário, as células germinativas que produzem os óvulos e as células do estroma que produzem as hormonas, estrogénio e progesterona.
Os tumores epiteliais representam 90 por cento dos tumores do ovário, mas são de difícil diagnóstico, com 75 por cento detectados já no estadio III e IV.Os tumores do estroma correspondem a cerca de 7 por cento dos tumores do ovário e geralmente diagnosticam-se em estádios precoces, tendo por isso bons resultados de cura.
Os tumores germinativos são raros, apenas 3 a 5 por cento e tendem a ocorrer em mulheres mais jovens, entre os 20 e 30 anos e também apresentam bons resultados de cura.
O diagnóstico e estadiamento requerem cirurgia (laparotomia exploradora) e o tratamento e resultados dependem do tipo de células do tumor e estádio em que foi diagnosticado.
Os exames de imagem, como a ecografia pélvica com eco doppler, TAC abdomino pélvico e RM, são pouco eficazes na deteção precoce de pequenas lesões. O doseamento de marcadores tumorais, como o CA125 associado aos tumores epiteliais, também não é preditivo, sobretudo na pré-menopausa por também poder estar elevado em patologias benignas.
Assim, trata-se de um tumor com elevada taxa de mortalidade por ainda não existir um exame de rastreio para o diagnóstico precoce.
Texto: Dra. Ana Candeias - Médica Ginecologista