Uma separação nunca é tarefa fácil, seja numa família mais ou menos conservadora. A minha é um pouco conservadora, daí que sempre que existisse alguma separação, durante uns tempos não se falava em mais nada.
Arranjam-se culpados, arranjam-se bodes expiatórios, arranjam-se razões para tudo e mais alguma coisa. O que nunca ninguém põe em causa é a felicidade que as pessoas podem não estar a viver.
Fui mãe, pela primeira vez, aos 27 anos. Estava junta com o meu então marido desde os 18, o que implicava que era uma relação coesa. E éramos felizes. Crescemos juntos, construímos uma casa, uma família, um amor…
Quando casei, achei que ia ficar junto a ele para sempre. Era, sem sombra de dúvidas, o amor da minha vida.
Até que os anos foram passando, a rotina foi chegando e o amor foi-se desgastando. Sim… Não é necessário haver um novo amor para que as pessoas se separem. Não é preciso existir traição.
Quando me separei e comecei a contar que já não estava junto do M., ao início foi surpresa total, até porque toda a gente olhava para nós como um exemplo e “condenados” a um amor eterno.
As questões em relação a mim eram: «Foste traída?» «O gajo arranjou outra?» Não!!! Nem uma coisa nem outra. O amor esgotou-se. Ficou a amizade. E nós, pessoas bem formadas e conscientes da realidade, queríamos ser felizes. E decidimos pôr um ponto final no casamento. Foi fácil? Não! Claro que não! Houve sonhos desfeitos e projetos deitados fora…
A nossa filha foi posta a par de tudo. Nunca lhe escondemos nada. De todo! Hoje, alguns anos depois da separação, a J. é uma criança feliz com as suas novas famílias.
Sim, novas famílias. Tanto eu como o pai, algum tempo depois acabámos por reconstruir as nossas vidas. Apaixonei-me por outra pessoa cerca de um ano depois de me separar. Dois anos depois disso fui mãe pela segunda vez. E sabem aquela sensação de serem olhadas de lado porque são mães de dois filhos, mas de pais diferentes?
A minha maior sorte foi sempre ter a minha cabeça bem estruturada. Porque falar dos outros e das suas decisões é sempre tão fácil e é sempre tão maldoso… Mas ter coragem para ser feliz é que é complicado!
A sociedade ainda não está aberta a estas questões e isso choca-me. Se reconstruí a minha vida, por que razão não poderia ter um segundo filho? Não ia seguir a minha felicidade porque sabia que ia ser “condenada” por algumas pessoas?
Não! Não estou nem aí para o que os outros pensam e muito menos dou crédito a comentários de pessoas que criticam, comentam e abordam os assuntos, mas que no fundo adorariam ter outra vida e adorariam ter a coragem de seguirem o seu coração e serem, acima de tudo, felizes.
Muitas vezes só me apetece dizer: «Sim, sou mãe de dois filhos de pais diferentes. E sou mais feliz do que tu!»
Porque no fundo, os julgamentos vêm de quem não é feliz. Mas eu sou… e não estou nem aí para o que os outros pensam. Tenho a minha família e somos todos pessoas bem resolvidas.
A partir daí… Nada mais importa.
Texto: C.B.