O que acontece ao gémeo que não sobreviveu? Esta é a questão que mais me têm colocado nos últimos tempos. Perder um bebé nunca é fácil, mas quando é só um, sabemos que o final passa inevitavelmente por uma expulsão, ou em último recurso uma cirurgia para remover o embrião.
No decorrer de uma gravidez gemelar, em que ambos partilham a mesma placenta, como é o meu caso, as coisas não são assim tão simples.
Carrego o meu bebé morto há seis semanas e vou carregá-lo até ao final da gravidez. Vejo-o em cada ecografia. No meu caso ele tem apenas quatro centímetros, mas o cenário é idêntico quando a morte fetal acontece mais tarde.
No meu caso, daqui até ao parto pode atrofiar, no momento do parto poderemos vê-lo ou não. No caso de uma morte fetal mais tardia, as mães passam pelo mesmo, carregam o seu bebé morto até ao parto. Mês após mês vêem o seu bebé degradar-se, e no parto, são confrontadas com a alegria de dar a vida e a tristeza deste encontro com a morte.
É assim mesmo. Quando os gémeos partilham a mesma placenta não há outra solução. Somos confrontadas com esta realidade a cada ecografia.
Hoje, embora ainda pense muito em como seria ter os meus dois bebés nos braços, o facto de saber que o meu bebé está bem, deixa-me mais serena, mais tranquila, e ajuda-me a aceitar este nosso caminho.
Ainda ontem dizia que a dor não desaparece, mas aprendemos a aceitar e a não nos deixar corroer por ela.
Hoje sou grata por ter o meu bebé a crescer bem. E é nisso que foco a minha energia.
Um beijinho muito especial a todas as mães que já tiveram perdas gestacionais e um abraço muito apertado às mães que tal como eu tiveram de carregar durante vários meses o seu bebé sem vida, vivendo esta dualidade de carregar a morte e a vida lado a lado…
Texto: Cátia Godinho do projeto A Nossa Mãe é Enfermeira