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Hábitos de sono das crianças: O que os pais devem e não devem fazer

Redação
publicado há 5 anos
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Ter hábitos de sono é fundamental na vida de uma criança. A psicóloga Teresa Rebelo Pinto dá alguns conselhos práticos e aponta alguns dos maiores erros dos pais.

 

Em qualquer fase da vida, a hora de deitar devia ser uma das melhores alturas do dia. Se tudo corresse bem, faríamos uma síntese do que conseguimos alcançar nesse dia, resumindo os aspetos a melhorar no dia seguinte e gratificando-nos pelas mais variadas conquistas.

Já sossegados, de olhos fechados, encomendávamos o nosso sonho preferido para garantir que o sono poderia aparecer sem demoras, pois estava tudo confortável e seguro, por dentro e por fora. Mas quantas vezes é que o nosso final do dia é realmente tranquilo e prazeroso? Se não começarmos a investir desde cedo em rotinas mais favoráveis ao sono, será difícil melhorar a epidemia de maus hábitos de sono que se tem instalado em Portugal.

A verdade é que na sociedade atual as pessoas gostam pouco de dormir e dormem muitas vezes mal. Parece que dormir não é cool, não dá jeito e não faz falta – o que não será de todo verdade, ou não fosse o sono uma função vital para a nossa sobrevivência. Esta desvalorização do sono é rapidamente aprendida pelas crianças que se habituam a pensar no sono como um castigo («se não te portas bem, vais já para a cama») ou como uma perda de tempo, porque «lá em casa ninguém dorme».

Há que refletir no exemplo que queremos transmitir, atualizando o nosso discurso e, já agora, procurando corrigir atitudes e comportamentos relacionados com o sono. Além disso, sabemos que hoje em dia as crianças têm estilos de vida muito pouco propícios a bons hábitos de sono. As exigências escolares e sociais, o ritmo acelerado da vida familiar, a dependência das tecnologias e dos ecrãs, o sedentarismo, a falta de competências de autorregulação e de conhecimento científico sobre a importância de dormir, são alguns dos fatores que dificultam a adesão das crianças a um sono saudável.

Na escola, professores e educadores de todos os níveis de escolaridade descrevem cenários que denunciam os maus hábitos de sono desde muito cedo: os alunos adormecem durante as aulas, andam agitados, irritáveis e desatentos. Estes indicadores são preocupantes do ponto de vista da saúde física e mental dos jovens, associando-se frequentemente a problemas no desenvolvimento, a níveis mais baixos de desempenho escolar, ao aparecimento de doenças crónicas e ao aumento dos comportamentos de risco.

No contexto familiar, é reconhecido que um distúrbio de sono rapidamente se transforma numa questão que afeta toda a família. Por outro lado, os pais reportam cada vez mais problemas de sono em consultas pediátricas, existindo maior procura de intervenções clínicas e educativas específicas para crianças.

Embora seja fundamental reconhecer que as crianças também têm patologias do sono, que devem ser devidamente tratadas em contexto clínico, existem alguns aspetos a salvaguardar quanto à promoção da qualidade do sono. Uma das principais estratégias remonta aos tempos em que não havia televisores com programação 24 horas: contar uma história ao deitar.

Os benefícios de implementar este hábito – que apesar de simples parece um verdadeiro desafio nas vidas aceleradas que levamos – relacionam-se com a introdução de um momento afetivo no final do dia, preparando crianças e adultos para uma boa noite de sono.

E quem não gosta de ouvir uma boa história? Aliás, tem vindo a ser essa a mensagem da campanha de responsabilidade social promovida pelo LIDL: todas as crianças deviam ter uma história ao deitar, independentemente do local onde estejam; e daí o apoio, neste natal, à Associação Nuvem Vitória cuja missão é precisamente contar histórias de embalar, todas as noites, nas pediatria nacionais.

Regras a respeitar:

  • Respeitar os padrões de sono de cada criança quanto à duração de sono (dormir o suficiente durante a noite e deixar dormir sestas enquanto for preciso – desaparece a necessidade entre os três e os cinco anos).
  • Definir claramente e supervisionar os horários de deitar e levantar (manter uma regularidade diária e evitar exceções).
  • Incentivar a autonomia na hora de ir para a cama, tal como no adormecer e readormecer durante a noite (contar uma história antes de dormir, dar um beijinho, ter um objeto transitivo que facilite o sentimento de segurança durante o sono).
  • Permitir que a criança durma na sua própria cama e num ambiente com poucos estímulos contrários ao sono (evitar cores fortes, demasiados brinquedos, equipamentos electrónicos, luz, ruído, interferências, etc.).
  • Promover bons hábitos alimentares e horários regulares nas refeições (evitar líquidos e alimentos estimulantes à noite, como refrigerantes e chocolates).
  • Estimular uma relação positiva com o sono, valorizando-o e dando-lhe prioridade na hora de ir dormir.
    Ensinar a dormir bem (ajudando a criança a sossegar-se a si mesma e a gerir o impacto dos sonhos).
  • Ter atenção a fenómenos estranhos relacionados com o sono e que precisam de ser investigados no âmbito das patologias do sono (não é normal a criança recusar dormir, ressonar, ter sonolência diurna excessiva, ranger os dentes, dar pontapés ou gritar durante o sono).

O que os pais não devem fazer:

  • Impedir as crianças de dormir o tempo necessário, perturbando o ambiente favorável ao sono (com excesso de estímulos, ruído, luz e ativação cognitiva ou emocional).
  • Deixar a criança ir para a cama quando quer ou só quando tem sono.
  • Criar dependências sempre que há uma dificuldade em dormir sozinho (medos, inseguranças e pesadelos devem ser olhados na lógica da resolução de problemas e não da incapacidade da criança em dormir sozinha).
  • Criar uma má relação com a cama ou com o quarto.
  • Interromper o sono para comer (depois dos seis meses), deitar logo depois do jantar.
  • Ter excesso de atividades durante o dia, fazer trabalhos da escola antes de ir para a cama, ralhar ou ter uma discussão à noite.
  • Associar a cama a um castigo ou dizer que dormir é apenas uma “obrigação” (explicar que é uma necessidade do organismo, que sem dormir o cérebro fica desarrumado e não podemos funcionar bem durante o dia).
  • Desvalorizar uma queixa de sono ou uma dificuldade em dormir (procurar ajuda o quanto antes para não piorar o distúrbio de sono e não correr riscos sérios de saúde).

 

 

Texto: Psicóloga Teresa Rebelo Pinto, especialista do sono

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