Recém-nascido

Cada vez mais bem preparados para enfrentar a prematuridade

Virginia Esteves
publicado há 3 meses
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Ter um bebé prematuro é, segundo o relato de pais de um bebé prematuro que nasceu no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF), na Amadora, como a sensação de saltar de um comboio em andamento… Assim, quando nasce um bebé prematuro, também nascem um pai e uma mãe prematuros. E que viagem de “alta velocidade” é esta a da prematuridade! Leia o artigo de opinião da dra. Rosalina Barroso, Diretora de Serviço de Neonatologia do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca.

“Já é possível oferecer viabilidade a um bebé nascido com gestação de 23 semanas”

 Em Portugal, um em cada oito bebés nasce prematuro. Um bebé que nasça antes das 37 a 41 semanas, de uma gestação normal, é considerado pré-termo ou prematuro. A prematuridade extrema ou “grande prematuridade” é aquela que ocorre abaixo das 28 semanas.

A Neonatologia é a área da medicina que se dedica ao diagnóstico e tratamento das doenças dos recém-nascidos, e conta com cerca de meio século de existência. Em muito pouco tempo atingiram-se resultados admiráveis, se considerarmos que hoje já é possível oferecer viabilidade a um bebé nascido com gestação de 23 semanas – o que até há pouco tempo não seria de todo possível. Os avanços científicos têm permitido a sobrevivência de recém-nascidos com pesos e idades gestacionais cada vez mais baixos – hoje, muitos deles, adultos plenos –, mas este feito deve-se também graças à dedicação dos profissionais de saúde que diariamente lutam pela sobrevivência destes pequenos grandes seres, que da sua fragilidade revelam uma força e determinação em viver, que impulsiona a medicina, a ciência e a tecnologia.

Devido ao avanço da tecnologia, à regionalização dos cuidados obstétricos e neonatais, às transferências in utero no pré-parto, de modo que os grandes prematuros nasçam em Unidades diferenciadas, preparadas com as técnicas mais avançadas de intensivismo neonatal, alcançaram-se ganhos significativos em saúde nomeadamente na mortalidade materna e neonatal, sendo Portugal um exemplo citado a nível mundial.

A inversão das estatísticas em 40 anos demonstra o caminho percorrido no nosso país: a probabilidade de sobrevivência de um bebé nascido com um quilo, no século XXI, é superior a 95%, enquanto em 1960 o risco de mortalidade desse mesmo bebé era de 95%. Assim, ganha a batalha da mortalidade, a neonatologia do século XXI vive a preocupação da morbilidade, da ausência de sequelas, tornando-se cada vez mais tecnológica e menos invasiva.

A comunicação e o apoio são fundamentais

Ser confrontado com a parentalidade prematura é das maiores angústias que qualquer ser humano poderá ter na sua vida. A incerteza sobre a fragilidade do bebé, o cuidado partilhado e toda a parafernália tecnológica que envolvem um nascimento prematuro levam a sentimentos de impotência e de grande tristeza.

Por isso, a comunicação dos profissionais de saúde com os pais tem de ser clara e esclarecedora, o apoio psicológico e espiritual tem de ser facultado desde a primeira hora, e estes pais prematuros devem ser encaminhados para grupos de pais para suporte e partilha de experiências de sucesso e resiliência. A família e os amigos têm um papel preponderante na resolução de incertezas sentidas pelos pais de bebés prematuros.

Os cuidados prestados da Neonatologia são sempre centrados na família

Ao contrário do que se possa pensar, os pais têm um papel determinante na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais! Aos neonatalogistas, enfermeiros e todos os outros profissionais da equipa multidisciplinar, compete-nos cuidar e tratar do bebé, mas também da sua família, capacitando os pais em relação ao seu papel, quer durante o internamento, quer após a alta.

Os cuidados prestados da Neonatologia são sempre centrados na família, sendo os pais parte da equipa multidisciplinar. O contacto pele a pele, a nutrição precoce realizada com leite materno, e a preocupação da não separação do recém-nascido com a complexidade e ambiguidade de sentimentos que a prematuridade traz a uma família, fazem parte da cultura de cuidados integrados da Neonatologia.

A par da humanização, há também a importância da tecnologia: ventiladores com maior monitorização de parâmetros, monitorização e oximetria cerebral, ecografia cerebral, cardíaca e pulmonar, hipotermia terapêutica e aparelhos de fototerapia de alta intensidade, dispositivos altamente diferenciados que a Unidade de Cuidados Intensivos Especiais e Neonatais do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca passou a disponibilizar através do Projeto de responsabilidade social Chicco Dá Vida. A tecnologia em cuidados intensivos neonatais é de extrema importância e, atualmente a monitorização contínua, cada vez menos invasiva, permite prever e antecipar algumas sequelas.

Num futuro não muito longínquo, encaminhamo-nos provavelmente para a inteligência artificial… A Neonatologia, com todas as suas complexidades tecnológicas, sociais, éticas e de humanização, é um desafio que abraçamos em prol dos nossos pequenos grandes guerreiros!


Rosalina Barroso

Diretora de Serviço de Neonatologia do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca

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