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Abuso sexual de menores: Um testemunho chocante que relata o fim da inocência | Grande Reportagem

Redação
publicado há 5 anos
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O abuso sexual de crianças tem, ao longo dos últimos anos, sido um dos crimes mais reportados à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Perante esta realidade, esta associação sentiu a necessidade de criar um projeto que se destinasse a ajudar crianças e jovens vítimas de violência sexual, surgindo assim a Rede CARE (https://apav.pt/care/).

À Impala, a criminóloga e gestora do projeto Rede CARE da APAV, Carla Ferreira, confirmou que «mais de 60 por cento das situações que são reportadas são de abuso sexual de crianças», no que diz respeito aos crimes sexuais. Só entre 2013 e 2018, a APAV registou cerca de 718 casos de abuso sexual de menores, com idades inferiores a 14 anos. De ano para ano aumenta o número de casos, tendo em cinco anos triplicado o número de crimes reportados. Em 2013 registaram-se cerca de 37 casos de abuso sexual de crianças, enquanto que em 2018 foram registados cerca de 269 crimes.

É também de referir que cerca de 80,3 por cento das vítimas deste crime são crianças e jovens do sexo feminino, sendo 18,6% das vítimas do sexo masculino.

Rede CARE – Apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual

A apoiar crianças e jovens vítimas de violência sexual há cerca de três anos, a Rede CARE foi criada com o intuito de dar resposta a todos os pedidos de ajuda que chegam diariamente, de várias zonas do país e de diferentes formas. A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, através deste projeto, já conseguiu ajudar cerca de 881 crianças e jovens.

A Rede Care pretende alertar consciências e dar a conhecer a realidade, no que toca ao crime de abuso sexual de menores, às crianças. Através de visitas às escolas, esta rede explica o que é um abuso sexual, o significado dos carinhos, toques, segredos que muitas vezes são dados e pedidos às crianças. Dessa forma, os menores estarão alertados para o que devem e não devem permitir, pedindo ajuda a familiares e/ou professores, caso algo esteja a interferir erradamente com a sua intimidade.

Segundo dados da APAV, são iniciados cerca de 22 processos de apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual, por mês. As crianças e jovens são abusados na sua maioria, cerca de 54,1 por cento, em contexto intra familiar.
Estes abusos são praticados, maioritariamente, pelos progenitores. De seguida, os avós, padrasto ou madrasta, tios, irmãos ou outro familiar seguem na lista.

Associação para a Promoção da Prevenção do Abuso Sexual

Margarida Ferraz é vice-presidente da Associação para a Promoção da Prevenção do Abuso Sexual. Um projeto inovador que surgiu em janeiro de 2017 e que tem marcado presença em várias escolas do país, incluindo a ilha de São Miguel, nos Açores, para dar a conhecer aos mais pequenos a diferença entre um toque de carinho e um toque abusador. «Todo o trabalho que está a ser feito tem sido em tempo de aulas. Tem sido algo surreal porque as vagas já começam a faltar para ocupar os espaços», conta Margarida.

Os comportamentos e os traumas comuns de uma criança abusada

O ser humano tem, desde o momento em que nasce até ao que morre, um padrão de comportamento comum. Quando algo não está bem é natural que o comportamento se altere e, no que toca às crianças, é importante perceber alguns sinais.

Alterações fisiológicas

«Podemos falar de alterações fisiológicas, nomeadamente insónias, terrores noturnos, passar a fazer xixi na cama – coisa que não fazia ou que nunca fez – portanto há aqui manifestações comportamentais. Dores de barriga, vomitar, por exemplo», refere a psicóloga.

Alterações psicológicas

«Depois do ponto de vista psicológico a questão da raiva, muitas vezes uma tristeza profunda, o sentimento de estar só. O isolamento em relação aos outros, mesmo na própria escola. Procuram situações em que se sintam mais seguros ou mais protegidos. Ou então miúdos que tinham, aparentemente, um comportamento social adequado passa a ser ele desadequado. Por exemplo, dentro da sala de aula têm manifestações comportamentais desajustadas, como responder mal. Por vezes até do ponto de vista do aproveitamento escolar. Bons alunos que depois deixam de ser bons alunos», diz.

«Embora quando falamos de crianças por vezes seja mais complicado de perceber, o que é certo é que, à partida, não será uma criança alegre. Geralmente são crianças mais recatadas, mais no seu cantinho, muitas com uma tristeza muito presente. Às vezes têm manifestações de raiva inesperada e/ou, em situações em que não era suposto, demonstram pânico e um medo irracional. Com isto não quer dizer que estas alterações não sejam resultado de outro tipo de situação, no entanto quando as mesmas acontecem algo se está a passar», esclarece.

Saiba mais aqui.

Texto: Marisa Simões | Vídeo: Shauna Ashley

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