Educação

Brincar ou estudar nas férias? A importância do tempo livre na infância

Redação
publicado há 5 anos
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A formação escolar é essencial, mas será que estamos a dar tempo suficiente às crianças para aquilo que é o mais importante, brincar?

Terminou o ano escolar e finalmente as crianças podem desempenhar a mais importante atividade para o seu crescimento: brincar.

E brincar não é enchê-las de atividades extracurriculares, termo atual que, muitas vezes, é apenas a desculpa perfeita dos pais com cada vez menos disponibilidade e condições para estarem com os filhos.

De facto, nos dias de hoje, há uma sobrecarga de tarefas e responsabilidades infantis, além das da escola, cursos de línguas, desportos, artes, música, entre outras de uma lista sem fim à vista, que podem ser contraproducentes.

Por um lado, estas ocupações favorecem o desenvolvimento infantil, mas em excesso provocam a exaustão e retiram o tempo destinado à principal tarefa infantil, brincar: a forma de comunicação infantil primordial.

Quando brinca, a criança reproduz o seu quotidiano através de atividades lúdicas enquanto aprende e vai construindo a reflexão, a autonomia e a criatividade, fatores fundamentais para o desenvolvimento do ser humano nos aspetos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo.

O tempo de chão

Não é por acaso que brincar é uma das ferramentas usadas pela pedopsiquiatria em crianças problemáticas. Pedro Caldeira da Silva explica a importância da atividade lúdica. Para o chefe de equipa da Unidade da Primeira Infância (UPI) do Hospital Dona Estefânia, brincar também é um boa ferramenta de trabalho clínico porque «fornecemos experiências» à criança. «Nós, aqui na UPI, utilizamos a experiência, o tratamento floortime [tempo de chão], modelo desenvolvido nos Estados Unidos nos anos 90 do século passado, que trouxemos para cá» e que consiste, tão simplesmente, em diagnosticar e promover o desenvolvimento através da brincadeira.

Chefe de equipa da Unidade da Primeira Infância (UPI) do Hospital Dona Estefânia Pedro Caldeira da Silva

As atividades lúdicas são uma necessidade humana em qualquer idade, mas principalmente na infância. É neste momento precoce da vida que a ludicidade deve ser vivenciada tanto quanto possível, não apenas como diversão, mas com objetivo de desenvolver as potencialidades da criança.

Pais, educadores e sociedade em geral devem por isso estar conscientes da importância de a criança vivenciar a ludicidade: brincar é aprender com prazer as regras constituídas por si e pelo grupo e simultaneamente ajuda na integração do indivíduo no mundo que o cerca. Assim, ao brincar, a criança está a aprender a resolver conflitos, a adquirir conhecimento e a desenvolver as capacidades de compreender pontos de vista diferentes, de se fazer entender e de demonstrar a sua opinião em relação aos outros.

Incentivar e não obrigar

Perceber e incentivar a capacidade criativa das crianças é de grande importância, sublinha António Nabais. Enfermeiro professor na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e coordenador da Pedopsiquiatria do Hospital Dona Estefânia, alerta para a importância de irmos ao encontro dos interesses das crianças, não as contrariando, e isto é válido tanto para atividades lúdicas quanto para as escolares.

«Por vezes, pode haver áreas, interesses, competências muito mais desenvolvidos do que outras e cai-se na tentação de não estimular estas situações e apostar-se onde há maior défice», isto é: enchê-las de atividades para colmatar essas «falhas»… Isto não é necessariamente um mal. O mal é insistir-se de mais nisto, menosprezando aquilo que apetece à criança, que lhe dá prazer e em que ela é realmente boa.

António Nabais. Enfermeiro professor na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e coordenador da Pedopsiquiatria do Hospital Dona Estefânia

«Onde há maior défice deve tentar chegar-se até a um nível regular funcional, ao qual chamaríamos normal (embora a gente não goste de utilizar a palavra normal)», elucida António Nabais. «Ou seja, deve conseguir desenvolver-se ao ponto de deixar de causar incapacidade» sem insistir demasiado, para não «massacrar» a criança.

Por outro lado, deve «estimular-se aquilo em que ela é boa, para que seja realmente muito boa, porque é o que a motiva, lhe dá prazer, que a faz continuar a desenvolver-se, a investir e a estar com prazer e com vontade na vida.»

Escola nas férias: a dose certa

No período de férias, «as crianças não devem, naturalmente, abandonar por completo as atividades curriculares», considera Sofia Martins. A professora primária encontra no «meio termo, no equilíbrio, a forma correta» de abordar a questão.

«Pode ser contraproducente carregar os alunos com trabalhos de casa, mas quando o período de férias é longo, é conveniente as crianças manterem contactos mais ou menos regulares com o estudo» até de forma «indireta, por exemplo leitura ou jogos didáticos, de acordo com a idade e os interesses individuais.»

Dr.ª Sofia Martins

A dose certa «é uma questão de bom senso», diz a professora, que não condena nem aplaude a dependência cada vez maior das crianças pela informática, que «hoje é incontornável.»

Adverte, no entanto, para «a vigilância parental e a adequação dos conteúdos – os jogos, por exemplo – para cada faixa etária». Já não se brinca como antigamente e Sofia Martins aceita as alterações a este nível e, indo ao encontro do que António Nabais aconselha, a professora primária defende é que, «seja qual for a atividade ao ar livre, o importante é a criança tirar prazer dela.»

O bom exemplo finlandês

Na Finlândia, onde o sistema educacional é dos melhores do ranking mundial, o aumento do tempo livre (o tal «tempo de chão» destinado a brincadeiras) foi um dos fatores para a melhoria do desempenho escolar infantil.

Cargas horárias educacionais excessivas levam a baixa produtividade escolar e à consequente desmotivação dos alunos para o ensino.

Texto: Luís Martins | WiN

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