Educação

Ser bilingue desde bebé: O cérebro agradece e o seu filho também

Filipa Rosa
publicado há 5 anos
0
Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedIn

Aprender várias línguas só traz vantagens para as crianças. E quanto mais cedo começar a educação bilingue, melhor. O site Crescer entrevistou uma especialista no assunto, que garante que as vantagens são muitas.

Conhecimento de outra cultura, maior desenvolvimento de funções cerebrais, aumento da perceção auditiva, estimular o cérebro, melhorar a fala e autoconhecimento são só algumas das vantagens que as crianças beneficiam com o facto de aprenderem mais do que uma língua.

Quando a criança nasce num contexto familiar em que os pais são falantes nativos de diferentes línguas, o ideal será cada um falar a sua língua materna com a criança desde o seu nascimento. Isto, porque, quando os mais novos desenvolvem duas línguas maternas, não as confundem e não têm desvantagens cognitivas por crescerem com duas línguas.

As vantagens sociais e profissionais

Para Cristina Flores, especialista em bilinguismo, mais do que realçar os benefícios, é importante frisar que não existem desvantagens em adquirir duas (ou mais) línguas em simultâneo na infância. «Adquirir duas línguas em simultâneo é tão natural para uma criança como adquirir apenas uma língua. Quanto aos benefícios, começamos com os benefícios afetivos. Pensemos numa família de origem portuguesa que reside num país em que a língua da sociedade não seja o português (como em França). Se os pais decidem não usar o português na comunicação com os seus filhos, estes dificilmente adquirem competência produtiva a português. Isto significa que estas crianças terão muitas dificuldades em comunicar com família portuguesa que reside em Portugal. Nestes contextos de emigração, o grande benefício reside em manter os laços afetivos ao país de origem», explica a coordenadora do Departamento de Estudos Germanísticos e Eslavos no Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho.

«Depois existem, obviamente, vantagens sociais e profissionais. Alguém que cresceu com duas línguas na infância será um falante nativo de duas línguas, o que lhe pode abrir portas no mundo de trabalho que estariam fechadas a um falante monolingue. Também existem muitos investigadores que defendem existir uma vantagem cognitiva do bilinguismo, mas esta questão ainda é muito debatida e os resultados empíricos não são consistentes.»

Confirma-se que desde bebé é mais fácil assimilar o vocabulário de várias línguas? «Sim, sabemos com muita certeza que a aquisição de duas línguas na infância é muito semelhante à aquisição de uma só língua, se a criança crescer com contacto frequente com ambas as línguas. Se a criança adquire a língua materna de forma natural e sem esforço (e é isso que acontece), também vai adquirir o vocabulário de duas línguas, que ouve diariamente, com a mesma facilidade e naturalidade», refere a especialista.

Existem psicólogos e pediatras que aconselham os casais a usarem apenas uma língua para não confundir as crianças. Para Cristina Flores, isto não faz qualquer sentido. «Não faz sentido nenhum e conselhos desses não têm qualquer fundamento empírico. Vêm de pessoas que não se informam e, assim, podem condicionar a vida de uma família. A investigação é consistente em demonstrar que o bilinguismo não leva a confusão, nem a défices cognitivos ou a dificuldades de aprendizagem. Sabemos que os bebés recém-nascidos conseguem distinguir diferentes línguas, isto é, distinguem, sem dificuldade, a língua falada pela mãe de uma língua estrangeira. Isto mostra que nascemos com uma faculdade da linguagem extraordinária, que começa a desenvolver-se no ventre materno. Aliás, mais de metade da população a nível mundial cresce com exposição a uma ou mais línguas. Todo o continente africando é bilingue. Se o bilinguismo levasse a algum tipo de confusão mental, mais de metade da população mundial teria problemas mentais», afirma.

Casos reais

Para Cátia Godinho, enfermeira emigrada em França e mãe de quatro filhos (com o quinto a caminho), sempre foi «extremamente importante», para si e para o seu marido, que eles falassem português por várias razões. «Porque são as raízes deles, porque queremos que possam falar com avós, tios, primos e amigos quando voltamos de férias a Portugal, porque não sabemos se algum deles quererá mais tarde estudar em Portugal (o que eu adorava, porque temos uma qualidade de ensino superior das melhores da Europa), e claro, porque falar duas línguas só pode trazer vantagens, além de que se sabe hoje, que as crianças bilingues desde cedo têm maior aptidão para mais tarde aprenderem outras línguas…», afirmou ao site Crescer.

Na casa de Cátia e Sérgio só se fala Língua Portuguesa, a televisão vê-se em português e há muitos livros escritos na nossa língua. Fora de casa tudo muda. «Na escola falam francês, por vezes veem filmes de animação em francês e quando temos visitas fala-se em francês também. É impressionante ver a capacidade que têm de alternar as duas línguas, por exemplo se está uma amiga minha em casa, eles podem estar a falar com ela em francês, perguntar-me algo em português e voltar a falar em francês sem qualquer dificuldade», conta a enfermeira.

«O mais novo ainda não vai à escola, mas como ouve muito o francês já começa a estar familiarizado. Apesar de sempre falarmos em português entre nós, todos eles já falavam francês minimamente quando entram para a escola aos três anos, excepto o mais velho que foi para a escolinha assim que chegámos de Portugal e a quem apenas ensinei o básico para “sobreviver” nos primeiros dias (“tenho sede, preciso fazer xixi/cocó”) e ao fim de um mês estava perfeitamente adaptado!»

Para Dinis, de 18 meses, Francisco, de três anos, Eva, de seis, e Duarte, de 11, é perfeitamente normal falar português e francês. E o bebé que está para nascer também irá encarar desta forma o bilinguismo. «Fazemos disto algo muito natural. Eles sabem que da porta para dentro é território português, embora o mais velho já tenha uma grande tendência para, muitas vezes, falar em francês. Nós, nessas alturas, relembramos que em casa falamos português. E muitas vezes entre eles, enquanto brincam, também falam em francês, mas aí dizemos que quando estão no quarto dos brinquedos estão no território deles e falam como lhes apetecer no momento.»

Um caso real

Sandro Antunes tem 30 anos e desde muito cedo que aprendeu mais do que uma língua. Filho de pais portugueses emigrados na Suiça, acabou por nascer naquele país e ter dupla nacionalidade.

«Para mim é muito simples e é uma opinião pessoal… O facto de poder falar mais do que uma língua significa abertura de espírito, porque cada país tem a sua cultura, os seus hábitos e acho que o facto de poder falar e perceber duas línguas, ajudou-me muito a respeitar os outros. O que temos de perceber é que uma coisa normal para nós em Portugal, pode ser uma grande falta de respeito noutro país e vice-versa. Agora que falo três línguas ainda é melhor…», começa por dizer ao site Crescer aquele que fala português, francês e inglês, que aprendeu mais tarde.

Para o jovem, que vive atualmente na Austrália, o facto de ser bilingue facilita também muito mais a aprendizagem de uma terceira língua. «Quando vim para a Austrália não falava inglês quase nenhum e em três meses fui capaz de falar a língua e perceber o que as pessoas diziam», conta.

«Antes de viajar para o Japão aprendi algumas frases em japonês e isso ajudou-me muito, porque os japoneses ficavam impressionados quando falava, mesmo sem sotaque! Mais um ponto positivo de falar duas línguas, ajuda muito a falar outra língua com pouco sotaque.»

Outro ponto importante para Sandro Antunes é que, sabendo falar português, francês e inglês, já foi capaz de viajar para outros países sem qualquer dificuldade. «O inglês ajudou-me em Inglaterra, o português em Espanha, porque é muito similar. Acredito que seja a mesma no continente da América do norte e sul…»

Para o jovem só traz vantagens aprender desde cedo várias línguas. «Acho que só podemos ter pontos positivos em falar mais do que uma língua… A nível profissional, há uma maior facilidade em encontrar emprego. A nível cultural, promove abertura de espírito, facilidade de aprendizagem de outras línguas em geral».

Siga a Crescer no Instagram

Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedIn

Artigos relacionados

Últimas

Botão calendário

Agenda

Consultar agenda