Educação

«Movemo-nos num universo muito rico e muito pouco explorado»

Redação
publicado há 5 anos
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Leia a entrevista à arquiteta Paula Torgal, Presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Arquitetos Secção Regional Sul, relacionada com o primeiro seminário sobre Educação em Arquitetura.

Site Crescer – A Ordem dos Arquitetos, Secção Regional Sul, promove, nos próximos dias 15 e 16, o primeiro seminário sobre Educação em Arquitetura, com um programa de atividades específicas para crianças. O que nos pode dizer sobre esse programa de atividades?
Arquiteta Paula Torgal – O programa de atividades para crianças e jovens decorre em paralelo com o Seminário PuEmA – Por uma Educação em Arquitetura. E isso não acontece por acaso. A nossa visão foi a de estarmos a discutir o tema Educação em Arquitetura, com um conjunto de especialistas, que é uma matéria apaixonante e um grande desafio. E, ao mesmo tempo, estar a materializar esta proposição da educação num contexto prático. Para tanto, envolvemos algumas personalidades e coletivos, que, ao longo dos dois últimos anos, têm vindo a realizar atividades na Sede da Ordem dos Arquitetos, aquando das pausas letivas, por forma a promover o contacto de crianças e jovens com o tema da Arquitetura. Estas oficinas para crianças, famílias e professores proporcionarão contactos diferenciados com a Arquitetura numa vertente prática, permitindo explorar a arquitetura num contexto original e criativo.

As oficinas, cremos que serão quatro…?
Sim, quatro…

Destinam-se a crianças dos cinco aos 15 anos. Trata-se dos mesmos conteúdos adaptados a idades diferentes ou são conteúdos diferentes?
São conteúdos diferentes, adaptados às diferentes idades e que têm mesmo por objetivo mostrar a diversidade de formas que a Educação em Arquitetura pode adotar. Movemo-nos num universo muito rico e muito pouco explorado. Quanto mais pensamos na Educação em Arquitetura, mais caminhos e possibilidades se abrem para tornar a temática interessante e relevante para as crianças e os jovens.

Porque, provavelmente, haverá formas diferentes de ver, consoante a idade…
Fazemo-lo no sentido de perceberem a envolvente que as rodeia diariamente e, ao mesmo tempo, aguçarem um sentido crítico sobre os lugares onde vivem. Temos oficinas que vão desde histórias contadas num ambiente confortável e informal de um livro, para criar algo a partir dele, com a Oficina Plástica e de Filosofia Popville, à descoberta e experimentação das relações entre a Arquitetura e a Geometria através da identificação de figuras planas e os sólidos geométricos, em edifícios muito representativos da Arquitetura nacional e internacional, promovido pela oficina Pequenos e Atelier, passando por uma festa-workshop que promove construções de maquetes, promovido pela oficina Uma Casa para Ti, até, por exemplo, um workshop que propõe uma reflexão sobre os modos de sentir e perceber os limites, referências, signos e sítios que configuram os espaços arquitetónicos, da oficina A Aventura dos Sentidos. Programas diversificados e interessantes para os quais convido os leitores a inscreverem os filhos e a participarem!

A arquiteta Paula Torgal, Presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Arquitetos Secção Regional Sul
A arquiteta Paula Torgal, Presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Arquitetos Secção Regional Sul

 

Como se educa uma criança no pré-escolar para a Arquitetura?
Em primeiro lugar, percebendo que esse é um desafio que devemos encarar como uma grande oportunidade educativa. Estamos a falar de idades em que as crianças absorvem tudo o que as rodeiam e têm uma curiosidade imensa. A resposta passa por despertar a criança para os espaços onde vive, onde brinca, permitindo sempre que faça a sua própria apropriação do que a rodeia, por forma a que consiga entender a sua escala e a dos espaços. Incutindo desde cedo estas premissas, vamos despertando as mentes das crianças e abrir-lhes um novo mundo de possibilidades que tem estado por explorar, ao mesmo tempo reconhecendo uma profissão que é tão vital quanto a dos médicos.

Ir buscar diversos animadores estrangeiros significa que Portugal está agora a despertar agora para a temática da Educação em Arquitetura?
Não posso dizer que é um assunto completamente novo, mas é um facto que desde que assumi funções como Presidente da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitetos, e como me é um tema muito grato, assumi que esta temática deveria ganhar mais visibilidade e importância, junto de todos, arquitetos e não arquitetos. Como tal, gostaria de poder contribuir para que fosse ainda mais presente, e que tivesse uma tradução concreta do ponto de vista educativo. Em Espanha, estão mais avançados do que nós, mas creio que muitos dos meus colegas portugueses compreendem a importância estratégica desta temática, e sinto que há uma vontade global crescente em discutir o assunto, mas também de querer ver coisas a acontecerem. E isso entusiasma-me muito e dá-me motivação para avançar.

Existe também um workshop para professores. É preciso educar quem educa?
Educar é uma missão, mas é também um compromisso. E ninguém nasce ensinado… Os Arquitetos percebem de arquitetura, mas quem está na sala de aula ou noutro tipo de contextos educativos é quem tem a principal missão de educar. Missão esta entendida na aceção tradicional do que representa a Escola. Assim, temos de trabalhar competências e valências em conjunto para que o conhecimento possa ser trabalhado de forma pedagógica, proveitosa e interessante. É natural que os professores que, depois dos pais, são quem mais tempo passa com as crianças e jovens, tenham de ser sensibilizados, e até formados na temática da Arquitetura, para poderem transmitir de forma mais assertiva todas as nuances que fazem parte deste tema tão abrangente.

Já têm muitas crianças e famílias inscritas?
Já temos algumas inscrições, tanto no seminário como nas oficinas. E de público nacional como estrangeiro. Mas contamos ter muitas mais, durante esta semana.

Haverá uma exibição especial do filme A Educadora de Infância, no âmbito do seminário. Procuram nesta obra cinematográfica inspiração e motivação para o ensino da Arquitetura?
Sim, tal como a educadora do filme que percebe o potencial da criança e começa a explorar a sua sensibilidade para a Arte, também a Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitetos pretende que o público do PuEmA fique desperto para a urgência do Ensino em Arquitetura e para as potencialidades que cada um pode dar nesta matéria. Vamos também ter uma exposição com trabalhos feitos por crianças e jovens em atividades que desenvolvemos nos dois últimos anos e que são a expressão visual do conteúdo dessas oficinas e desses workshops.

No fim do dia 16, o que espera de uma criança que tenha visto a exposição e participado numa das oficinas? Que ela saia da exposição e sinta…
… Que desperte os sentidos para o Mundo que a rodeia, que sinta que é capaz de perceber e defender o espaço onde vive, as ruas onde brinca, a escola que frequenta. Que este universo faz parte de um universo projetado por arquitetos e que no futuro compreenda e reconheça que a profissão é imprescindível para o ambiente que as envolve diariamente, que faz parte do seu quotidiano, quer seja em casa, na rua, na escola ou no jardim. Que cresçam estimuladas para este ambiente e que reconheçam a profissão como uma mais-valia. Por último, e a propósito do dia 16, e no imediato, que sintam que foi um dia bem passado.

 

Texto: Luís Martins

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