Bebés/Crianças

Coleção de lápis com vários tons de pele tenta combater a desigualdade

Filipa Rosa
publicado há 6 anos
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A marca de material escolar Giotto lançou uma nova coleção de lápis de cor para tentar combater a desigualdade. Com a Giotto Stilnovo Skin Tones é possível representar todos os tons da pele sobre qualquer desenho. O objetivo é fomentar a igualdade e diversidade em casa e na escola!

Com as 12 cores desta marca italiana, as crianças podem conseguir uma infinidade de combinações e tonalidades! Um produto ideal também para professores, pois permite trabalhar a igualdade e diversidade nas aulas.

O site Crescer quis perceber de que forma é que os pais e os educadores encaram esta iniciativa e falou com um psicólogo, uma professora e duas mães, uma delas também psicóloga.

Diana Moreno é professora e acredita que este tipo de iniciativas contribuem para um mundo melhor. E isso dependerá sempre da educação das crianças. «São elas a mudança! É um clichê, mas é dos mais verdadeiros que podem existir e faz parte do meu dia-a-dia como professora constatar essas mudanças. Esta é uma ideia de progresso e de combate às mentalidades formatadas. Tenho vindo a observar, ao longo da minha carreira docente, a forma como as crianças lidam com diferenças cognitivas ou físicas mais notórias e as integram de forma natural na sua perspetiva de uma sociedade da qual todos fazem parte. Sei, por isso, que as diferenças de género e de raça vão também ser dissipadas num futuro que espero cada vez mais próximo. Para tal, contribuem fortemente iniciativas de grandes marcas que lhes chegam diariamente», afirma a docente, que enaltece a iniciativa da Giotto.

«A sensibilização nos contextos escolares, em que a diversidade é rainha, é essencial para a verdadeira mudança e a existência de materiais como os tons de pele facilita a nossa tarefa de educadores. Já ouvi alguns dos meus alunos comentarem entre eles: ‘Qual cor de pele queres?’, não por usarem já estes lápis, mas por terem perfeita consciência que um tom de pele numa paleta é algo muito redutor quando queremos exprimir quem somos ou com quem vivemos numa folha de papel», explica Diana Moreno.

Normalizar o que é normal

Para o psicólogo João Silva, este é um tema que será sempre polémico. «Acho que quando se ‘combate’ o que quer que seja, estamos a dar ênfase à diferença. Devemos estar atentos às iniciativas das crianças e, quando surge o tema, dar-lhes espaço para falar sobre isso, não forçar o assunto. No fundo, normalizar o que é normal», afirma o psicólogo, que não deixa de elogiar a iniciativa da marca italiana, se for bem introduzida no seio familiar e escolar.

«Quando os miúdos começam a desenhar-se, muitas vezes é difícil perceber a diferença entre os tons de pele e esta nova coleção de lápis pode ajudá-los a desenvolverem essa parte da auto-imagem. Por outro lado, como qualquer brinquedo ou atividade, depende da forma como é introduzido. Se for mal introduzido pode acentuar mais a diferença, mas não creio que isso possa acontecer.»

Para João Silva, todos os assuntos deveriam ser abordados de forma natural, quer seja em casa ou na escola. «Se forem incluídas todas as culturas no discurso dos educadores, nos programas e atividades, ninguém se vai sentir diferente. Normalizar a realidade seria o ideal. Não individualizar exemplos de ‘A’ ou ‘B’ por serem diferentes porque isso por si só é discriminatório. Tal como nestes lápis, deve ser de livre escolha. Eu, branco, posso identificar-me com o preto e querer desenhar-me assim», refere.

Mães elogiam a iniciativa

A mãe e psicóloga Andreia Horta viveu os últimos sete anos em Angola, onde trabalhou em vários infantários e onde o desenho fazia parte do dia-a-dia. «Era muito interessante ver a criatividade das crianças a utilizar as cores nos desenhos, sendo que não havia dois com tons de pele igual. Tive colegas que levaram lápis com vários ‘tons de pele’ e os miúdos adoraram, podiam explorar ainda mais a sua criatividade e fazer desenhos mais fidedignos», conta Andreia, que critica o preconceito da sociedade atual, muito presente em todo o lado. «Os corredores de brinquedos ainda têm maioritariamente bonecos e bonecas brancas e loiras, tanto em Angola como em Portugal, e não faz sentido, porque o mundo não é assim. A minha filha brinca com bonecos negros e oiço comentários inaceitáveis, é uma tristeza, mas faço o meu papel.»

A psicóloga enaltece a iniciativa da Giotto e acredita num mundo melhor. «Como mãe faz-me todo o sentido que os lápis tenham vários tons de pele, se calhar o conceito de tom de pele é que está errado. Quero que a minha filha os explore e que possa ter acesso a eles sem ter de encomendar online. Ela cresceu em Angola rodeada de tons de pele lindos, para ela é normal e ainda bem que assim é. É meu objetivo como mãe criar uma filha livre de preconceitos e que veja a beleza de não sermos todos iguais.»

Mia com uma coleguinha de escola, em Angola.

Também para Teresa de Oliveira Martins, o racismo continua muito presente no dia-a-dia de muita gente. Os dois filhos, frutos do seu casamento com Hélder Paris, cabo-verdiano, encaram com naturalidade a «diferença» de cores de pele. «Para eles é ‘normal’ ser ‘diferente’», diz.

Teresa ficou surpreendida com a nova coleção da Giotto e não poupa elogios à marca. «É o fim da era do lápis ‘cor de pele’, um passo maravilhoso que alerta para a importância de respeitar a diferença. Parabéns à marca pela aposta. É uma iniciativa que mostra alguma evolução de mentalidades. Infelizmente ainda há muito racismo em Portugal», lamenta.

 

Veja o vídeo de apresentação da coleção de lápis:

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