Bebés/Crianças

«Nunca tivemos uma geração tão triste, tão depressiva»

Redação
publicado há 6 anos
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«Nunca tivemos uma geração tão triste». Quem o diz é o famoso psiquiatra brasileiro Augusto Cury, que tem livros publicados em mais de 70 países. Saiba a sua opinião sobre a maneira como os pais educam os filhos nos dias de hoje.

Excesso de estímulos

«Estamos a assistir ao assassinato coletivo da infância das crianças e da juventude dos adolescentes no mundo todo. Nós alteramos o ritmo de construção dos pensamentos por excesso de estímulos, principalmente no acesso ilimitado a smartphones, redes sociais, jogos de consolas ou excesso de TV. Eles estão a perder as habilidades sócio-emocionais mais importantes: se se colocar no lugar do outro, pensar antes de agir, expor e não impor as ideias, aprender a arte de agradecer. É preciso ensiná-los a proteger a emoção para que fiquem livres de transtornos psíquicos. Eles precisam de gerir os pensamentos para prevenir a ansiedade. Ter consciência crítica e desenvolver a concentração. Aprender a não agir pela reação, no esquema ‘bateu, levou’, e a desenvolver altruísmo e generosidade.»

Geração triste

«Nunca tivemos uma geração tão triste, tão depressiva. Temos de ensinar as nossas crianças a fazerem pausas e contemplar o belo. Esta geração precisa de muito para sentir prazer: viciamos os nossos filhos e alunos a receber muitos estímulos para sentir migalhas de prazer. O resultado: são intolerantes e superficiais. O índice de suicídio tem aumentado. A família não se pode esquecer que o consumo não faz ninguém feliz. Suplico aos pais: os adolescentes precisam de ser estimulados a aventurarem-se, a ter contacto com a natureza, encantar-se com astronomia, com os estímulos lentos, estáveis e profundos da natureza que não são rápidos como as redes sociais.»

Partilhar a dor

«É fundamental que as crianças aprendam a elaborar as experiências. Por exemplo, perante uma perda ou dificuldade, é necessário que tenham uma assimilação profunda do que houve e aprender com aquilo. Como ajudá-las nesse processo? Os pais precisam de falar das suas lágrimas, as suas dificuldades, os seus fracassos. Em vez disso, pai e mãe deixam os filhos no tablet, no smartphone e metem-nos em escolas todo o dia. Pais que só dão produtos para os seus filhos, mas são incapazes de transmitir a sua história, transformam seres humanos em consumidores. É preciso sentar e conversar: ‘Filho, eu também fracassei, também passei por dores, também fui rejeitado. Houve momentos em que chorei’. Quando os pais cruzam o seu mundo com os dos filhos, formam-se arquivos saudáveis poderosos na sua mente, que eu chamo de janelas light: memórias capazes de levar crianças e adolescentes a trabalhar dores, perdas e frustrações.»

Intimidade

«Pais que não cruzam o seu mundo com o dos filhos e só atuam como manuais de regras estão aptos a lidar com máquinas. É preciso criar uma intimidade real com os pequenos, uma empatia verdadeira. A família não pode só criticar comportamentos, apontar falhas. A emoção deve ser transmitida na relação. Os pais devem ser os melhores brinquedos dos seus filhos. A nutrição emocional é importante mesmo que não se tenha tempo, o tempo precisa ser qualitativo. Quinze minutos na semana podem valer por um ano. Pais têm que ser mestres da vida dos filhos. As escolas também precisam de mudar. São muito cartesianas, ensinam raciocínio e pensamento lógico, mas esquecem-se das habilidades sócio-emocionais.»

Mais brincadeira, menos informação

«Uma criança tem que ter infância. Precisa de brincar e não ficar com uma agenda pré-estabelecida o tempo todo, com aulas variadas. É importante que criem brincadeiras, desenvolvendo a criatividade. Hoje, uma criança de sete anos tem mais informação do que um imperador romano. São informações desacompanhadas de conhecimento. Os pais podem e devem impor limites ao tempo que os filhos passam em frente aos ecrãs. Sugiro duas horas por dia. Se não colocarmos limites, eles vão desenvolver uma emoção viciante, precisando de cada vez mais para sentir cada vez menos: vão deixar de refletir, de interiorizar, brincar e contemplar o belo.»

Parabéns!

«Em vez de apontar falhas, os pais devem promover os acertos. Todos os dias, filhos e alunos têm pequenos acertos e atitudes inteligentes. Pais que só criticam e educadores que só constrangem provocam timidez, insegurança, dificuldade em empreender. Os educadores precisam ser carismáticos, promover os seus educandos. Assim, o filho e o aluno vão ter o prazer de receber o elogio. Isso não tem ocorrido. O ser humano tem apontado comportamentos errados e não promovido características saudáveis.»

Conselho final para os pais

«Vejo pais que reclamam de tudo e de todos, não sabem ouvir ‘não’, não sabem trabalhar as perdas. São adultos, mas com idade emocional não desenvolvida. Para atuar como verdadeiros mestres, pai e mãe precisam estar equilibrados emocionalmente. Devem desligar o telemóvel no fim de semana e serem pais. Muitos são viciados em smartphones, não conseguem desconectar-se. Como vão ensinar os seus filhos a fazer pausas e contemplar a vida? Se os adultos têm o que eu chamo de síndrome do pensamento acelerado, que é viver sem conseguir aquietar a mente, como vão ajudar os seus filhos a diminuírem a ansiedade?»

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