Para evitar as frustrações infantis, os pais têm a tendência natural de acolher e proteger os filhos de uma maneira excessiva, sem perceber que estão a impedi-los de desenvolver a autonomia e o crescimento.
Quando há excesso de proteção e pouco estímulo, acabamos por reforçar nas crianças sentimentos como a inferioridade, a falta de iniciativa, a insegurança, os medos e até a frustração. Essas características podem contribuir para que as crianças de hoje se tornem adultos tímidos, inseguros e com dificuldades de inserção no meio social.
Por esse motivo, devemos estimular desde cedo as crianças a tornarem-se independentes. Não nos estamos a referir em minimizar o afeto e os cuidados, mas sim a dar espaço para o seu crescimento, para a experimentação, para as tentativas e para os erros.
Além disso, é importante ter-se em mente que a independência se dá aos poucos, através de pequenos atos e em cada fase da infância. É no dia-a-dia que os pais atentos dão pequenas responsabilidades aos filhos, encorajam-nos a tentar coisas novas e valorizam as suas conquistas.
Para o pai e a mãe que também acreditam que a independência é uma virtude que deve ser ensinada aos filhos desde pequenos, temos algumas dicas para estimular e desenvolver a autonomia.
1) VALORIZE E MOSTRE RESPEITO PELO ESFORÇO DA CRIANÇA
Vivemos na era da correria, do grande desejo de praticidade e agilidade para realizar as nossas tarefas. Nesse emaranhado de tarefas acabamos por interferir diretamente nas ações da criança, na tentativa de ajudá-la a ser mais ágil e assertiva.
Quando bloqueamos o seu processo de aprendizagem, demonstramos-lhe que sozinha não consegue. É extremamente importante valorizar cada pequeno esforço do seu filho, pois, assim, ele aprende que pode continuar a tentar sempre, criando cada vez mais coragem para os novos desafios. Portanto, em vez de lhes fazer tudo, ensine-as a fazer.
As crianças precisam de aprender que para conseguir o que se quer não basta pedir, é necessário agir também.
2) DEIXE SEU FILHO FAZER ESCOLHAS
A experiência das escolhas permite que a criança aprenda e exercite a sua tomada de decisões. Incentive o seu filho a expressar as suas ideias! Demonstre que acredita que ele é capaz de tomar boas decisões, isso torná-lo-á mais seguro e aumentará a sua autoconfiança.
Quanto às escolhas ainda na infância, falamos de coisas simples e opções previamente definidas pelos pais: roupa, alguns alimentos, lugar para o passeio… Sempre mantendo a atenção!
Nem sempre as crianças conseguem distinguir o certo do errado. Então, cabe aos adultos fazer um grupo de opções adequadas para que escolham entre elas. Mantenha sempre o diálogo com ela, estimule-a a falar, pergunte a opinião e, principalmente, aguarde para que lhe responda. Isso fará com que aprenda a expressar-se em qualquer situação.
3) ENSINE-A SOBRE RESPONSABILIDADES
Quando crescemos e começamos a ver e a vivenciar o mundo de outra maneira, damo-nos conta de que a vida lá fora exige muito de nós. Precisamos de manter uma postura dinâmica, capaz de nos relacionarmos com diversas pessoas e situações.
Portanto, incentive o seu filho a relacionar-se com o ambiente fora de casa com segurança. A responsabilidade é fundamental para adquirir independência! Não o prive de oportunidades que o façam crescer quanto à sua independência, ao contrário, incentive-o!
Ir ao supermercado, por exemplo (mesmo que seja na companhia de adultos), e sugerir que a criança vá até à caixa ou que vá buscar artigos à prateleira são bons meios de exercitar a autonomia. São pequenas oportunidades que exploram essa autonomia e autoconfiança em ambientes diferenciados.
4) DEIXE-A PARTICIPAR NAS ATIVIDADES DE CASA
Esse é um ótimo caminho para a criança dar início (com naturalidade) à sua independência. Pequenas ações, como colocar a roupa suja no cesto, guardar os brinquedos ou retirar o prato da mesa ajudam o seu filho a compreender que existem responsabilidades que, quanto mais cedo aprender, melhor será para ele. Mas ajudar nas tarefas de casa não é uma proposta muito pesada para uma criança?
A resposta é não! Levando em conta a idade e a maturidade da criança, ela pode – e deve – participar nas atividades da casa. Fazer parte e ser valorizado por isso gera autoestima, autoconfiança e cooperação. Comece com pequenos passos e escolha tarefas que ela tenha condições de realizar. E lembre-se: a criança vai precisar de tempo, apoio e supervisão no início.
Não tente cobrar algo que ela não está preparada para realizar. Você (adulto) faz parte do processo, é o exemplo e o modelo para seu filho. Sempre! Quando as crianças ajudam em casa, elas não só se sentem úteis e capazes como isso também é uma excelente motivação para quererem ajudar, aprender e realizar novas tarefas.
Lógico que, algumas vezes, terá que refazer o trabalho que lhes passou, mas só o facto dos seus filhos saberem que é necessário ajudar nas tarefas domésticas surte um efeito positivo no relacionamento familiar, aumenta a colaboração e fortalece a autoestima.
5) NUNCA TIRE A ESPERANÇA DA CRIANÇA
A maioria de nós tem dificuldade em ver os filhos a passar por alguma frustração. A nossa atitude quase natural é protegê-los ou tirá-los de uma situação difícil. Sempre que podemos, queremos dar ‘aquela mãozinha’ para facilitar, agilizar ou até mesmo para fazer aquilo que a criança não está a conseguir. Enganamo-nos frequentemente quanto a isso: concluir as atividades para uma criança não as deixa mais felizes ou realizadas.
Pelo contrário, isso ensina-a a desistir facilmente de algo, a evitar deceções e diminui a autoconfiança a médio e longo prazo. Sempre que o seu filho estiver a tentar algo e não conseguir, dê-lhe incentivos e motivações. Mostre que ele é capaz e que com esforço conquistará os objetivos. Tentar e não conseguir também faz parte do processo.
Nem sempre tudo dá certo e não precisa de esconder essa verdade dele. A qualquer momento ele vai precisar de enfrentar fracassos e frustrações. É compreensível que, em muitos momentos, seja difícil ajudá-lo apenas com orientações e estímulos sem interferir. Mas é assim que ele, aos poucos, se tornará independente.
Quando crescerem e não precisarem mais de nós por perto, olharemos para eles com orgulho e teremos a consciência de que fizemos um bom trabalho. Criamos os nossos filhos para voarem, para se tornarem indivíduos independentes, que serão capazes de funcionar por conta própria e em função dos seus próprios sonhos.
AGRADECIMENTOS: Dra. Fernanda Domingos Spengler, Psicóloga; Site: www.psicoinfantil.net/blog; Facebook: https://www.facebook.com/psicoinfantilnet/