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«Se soubesse o que sei hoje, nunca teria engravidado»

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publicado há 6 anos
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Não quero julgamentos. Cada mulher sente a maternidade à sua maneira. E sim, amo muito os meus filhos, mesmo quando me levam à loucura.

Tenho 44 anos e dois gémeos para criar. Dois rapazões de apenas quatro anos que parecem mais dois furacões!

A história da minha vida resume-se ao sonho de ser mãe e durante anos não ter conseguido engravidar. Casei-me com 28 anos e pouco antes da cerimónia deixei a pílula. Ambos sabíamos bem o que queríamos, tínhamos estabilidade financeira e emocional. Naquela altura era tudo tão diferente…

Foram mais de 10 anos a tentar alcançar um objetivo que só foi conseguido através de inúmeros tratamentos.

Quando decidimos avançar com a inseminação artificial sabíamos que poderiam vir gémeos… mas não sabíamos do resto.

A alegria foi imensa! Ver pela primeira vez aquele teste de gravidez positivo… nem sei como explicar, foi indescritível! A gravidez foi maravilhosa, o parto foi horrível. Mais de 30 horas a sofrer para depois decidirem fazer cesariana. E aí tudo muda.

Ser mãe é duro. Ser mãe é muito muito duro e sei que as mães de gémeos me vão entender. Levaram-me ao limite. Mamavam de duas em duas horas! O meu marido trabalha por turnos, faz várias viagens ao estrangeiro e eu fico sozinha com eles. Os nossos pais infelizmente já cá não estão e eu não tive apoio de ninguém.

Foram noites a fio sem dormir. Para ser sincera, nunca mais dormi qualquer coisa de jeito. Foram dias e dias a tentar perceber quando é que passaria aquela fase, que nunca passou. Quando um acalmava, o outro chorava e acordava o irmão. Choravam os dois. Gritavam durante horas e horas. Entrei em desespero e quando dei por mim já estava com uma depressão pós-parto que me obrigou a mergulhar no mundo dos calmantes e anti-depressivos fortes.

O meu regresso ao trabalho foi tardio. Gozei a licença de maternidade e pedi mais uns meses para tratar a depressão. Fui despedida pouco depois. O meu escape era o meu trabalho. Tinha tantas saudades, ansiava pelo regresso. Mas o mundo ruiu quando o meu marido também foi despedido. Ele que ganhava bem e sustentava praticamente sozinho esta família… Chorei muito, chorámos os dois.

Olhava para os meus filhos e pensava: «Como é que será daqui para a frente? Como é que vamos gerir a nossa vida com dois filhos pequenos para criar?»

Volto a frisar. Amo muito os meus filhos. Mais do que tudo nesta humilde vida. Mas se soubesse o que sei hoje… Talvez não tivesse avançado com a gravidez. Por vezes não tenho força psicológica para tratar deles. Já não tenho 30 anos. Não tenho paciência. É desgastante. É desumano o cansaço que nos causam.

Para piorar… Tenho uma lesão enorme na coluna, que me acompanha desde a gravidez. Há dias que não me aguento em pé. Até começarem a andar era um sofrimento andar com eles ao colo. Quantas e quantas vezes choravam ao mesmo tempo… E eu cheia de dores.

Eles são a nossa vida! E dia após dia tentamos erguer-nos para encontrar o melhor caminho. Mas não tem sido fácil. Eles não são fáceis de criar. Sei o que vão dizer: «Nunca é fácil! Uma mulher tem de estar preparada para o pior. Ter um filho não é ter um brinquedo blá blá blá». Sim, tudo isso é verdade. Mas eu não estava preparada.

Não estava e assumo isso. Assumo porque neste momento perdi as forças. Aproveitei uma sesta deles para escrever o texto, pouco depois de uma birra do tamanho do mundo. Não me lembro de um dia em quatro anos que não tenham feito birras. Se já custa aturar uma birra, imaginem duas!

Peço mais uma vez para não fazerem julgamentos nem lançar críticas, porque não há mães perfeitas. Se calhar sou fraca, sou péssima mãe por assumir algo incompreensível para muita gente. Mas sou um ser humano e é isto que sinto, infelizmente. A minha melhor amiga é a minha terapeuta. Obrigada doutora. É o meu verdadeiro pilar para conseguir alcançar o equilíbrio e tratar dos meus meninos, os amores da minha vida.

Texto: P. R.

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