Há seis anos, a história de amor de Cristina e Ricardo começou na praia. «Começámos a namorar no verão de 2013 e passados poucos meses já estávamos a viver juntos. Depois de um pedido de casamento em Nova York, decidimos casar no dia 27 de maio de 2017 no Mosteiro da Batalha.»
Quase um ano depois decidiram aumentar a família e em julho de 2018 descobriram que estavam à espera de bebé. A gestação correu dentro da normalidade, «sem os típicos enjoos e desejos.»
«Chamou-me a atenção a Sofia ter os olhinhos rasgados»
Em fevereiro de 2019, aquando do nascimento da menina, a quem Cristina e Ricardo deram o nome de Sofia, o pai foi para o recobro com a filha e algo de diferente “saltou à vista”. «Chamou-me a atenção a Sofia ter os olhinhos rasgados, uma das características de quem tem Síndrome de Down», começa por revelar Ricardo.
Ainda no recobro, uma das enfermeiras pegou na menina e deu a entender «que algo se passava, mas nunca confirmando nada.» «No dia seguinte a pediatra de serviço informou-nos que à partida o diagnóstico de Síndrome de Down se confirmava, mas só haveria certezas depois das análises», salientam.
Quando ao fim «de um interminável mês e meio» receberam os resultados das análises ao sangue, o diagnóstico chegou: Sofia tem Síndrome de Down.
A vida depois do diagnóstico
Os sonhos, projetos e expectativas, foram, por instantes, desmoronados. «As primeiras 24 horas foram talvez as mais difíceis da nossas vidas, devido ao desmoronar de todas as expectativas que tínhamos criado ao longo da gravidez. Um dos momentos mais complicados foi quando tivemos que dar a notícia aos amigos e família, em especial aos avós da Sofia», revelam.
Durante a gravidez os resultados nunca foram fora do previsto, até porque «nos exames e nas ecografias nada de anormal foi detetado.» Mas talvez um indício possível fosse «a deteção da artéria subclávia aberrante, patalogia que pode ser encontrada em qualquer pessoa.» «Apesar desta descoberta nunca fizemos parte do grupo de risco», garantem.
A adaptação à vida de pais tem sido tranquila e Cristina e Ricardo garantem que ainda se estão ambientar às novas rotinas que são «muito exigentes.» «No final de contas é compensador quando a Sofia, dia após dia, nos presenteia com novas aptidões e muitos sorrisos. A experiência está a ser maravilhosa e enriquecedora a todos os níveis».
Uma sessão fotográfica para mais tarde recordar
Meses antes do nascimento de Sofia, o casal entrou em contacto com Maria Evangelista, uma fotógrafa de 43 anos, que vive desta profissão há duas décadas, tendo-se dedicado a 100 por cento a sessões de maternidade, recém-nascido e bebés/famílias há cerca de cinco anos.
«Conhecemo-la através do nosso primo que também é cliente da Maria Evangelista e aconselhou os seus serviços por ter adorado as fotos que a Maria tinha tirado ao seu filho. Como já éramos fãs destas sessões fotográficas de recém-nascidos, decidimos também registar os primeiros dias da Sofia, visto serem momentos inesquecíveis», anunciam.
Maria Evangelista tem um estúdio nas Caldas da Rainha e foi lá que conheceu esta família, já sabendo que Sofia tinha uns olhos e sorriso especiais. «Soube que a Sofia era especial, quando o Ricardo enviou mensagem duas semanas antes da data prevista a informar que a menina já tinha nascido e que havia a suspeita de ter Síndrome de Down, mas que isso não iria limitar em nada a vida nem a felicidade que estavam a sentir no momento», conta a profissional que ficou encantada com a positividade deste casal.
«Da parte dos papás, senti que para eles não mudou rigorasamente nada, antes pelo contrário. Eles ainda sentiram mais amor pela Sofia. Na altura não senti que devia abordar esse tema, se já sabiam antes de nascer ou se tinham descoberto na altura do parto. Deixei para que, quando eles chegassem ao estúdio, se assim fosse o desejo deles contarem, teria todo o gosto em saber e ouvir a história deles. Fiquei deliciada e ao mesmo tempo arrepiada quando o Ricardo na mensagem referiu a situação. Percebi uma maturidade e um amor fora de comum. Eu sei o que é ter alguém na família com deficiência. Eu própria tenho uma irmã deficiente», revela.
A menina do sorriso especial
Quando esta família entrou no estúdio de Maria Evangelista, «foi só maravilhoso.» «Estava muito ansiosa com a sessão da Sofia, e nervosa, mas quando eles entraram no estúdio, foi algo maravilhoso. Eles chegaram 20 minutos antes da hora prevista, estavam bonitos, a Cristina tinha um ar sereno e estava maquilhada… estavam super relaxados e descontraídos. A Sofia precisava de mamar e assim foi! Era o retrato de uma família normal e feliz. O Ricardo, um pai muito presente, sempre atento ao que ambas podiam precisar… Foi muito bom de ver, senti orgulho mesmo antes de os conhecer», garante a fotógrafa.
Por tudo isto e, acima de tudo pela situação da bebé, Maria sentiu uma responsabilidade acrescida nesta sessão. «Sinto sempre em cada sessão de recém-nascido, são bebés com dias que tenho de ter todo o cuidado, desde o máximo de higiene e segurança, ter o cuidado de não forçar a realizar certas poses que poderão incomodar. Na Sofia eram essas situações todas, mais o facto de eu não saber como ela iria reagir, se eu iria perceber ou se iria notar-se na forma como eu lhe mexia, se ela estaria confortável ou a pudesse magoar de alguma forma», explica.
«Foi inspirador fotografar a Sofia e os papás»
Também os pais estavam impressionados com o trabalho realizado por Maria. «Ela recebeu-nos muito bem e fez-nos sentir como se estivéssemos em casa! A sessão correu lindamente devido ao seu profissionalismo, descontração e simpatia, deixando-nos ainda mais babados com a nossa Sofia! É realmente impressionante observar a dedicação e a paixão com que a Maria trata os nossos bebés», dizem.
Durante a sessão, Sofia «dormiu o tempo todo, nunca chorou ou reclamou, sorriu imenso, foi um verdadeiro anjo.» «Era uma bebé recém-nascida feliz. Foi inspirador fotografar a Sofia e os papás», garante a profissional.
«O resultado final deixou-nos realmente muito emocionados e orgulhosos da nossa filha, Sofia. A Maria conseguiu, através das fotografias, exprimir aquilo que nós sentimos quando olhamos para ela: muito amor e orgulho», realçam os papás.
«Hoje sou mais rica e mais feliz»
«A lição que tirei desta história é que o Amor é o caminho para tudo, e temos de ver a vida de uma forma mais simplificada e menos materialista, ou seja, hoje a sociedade dá valor às coisas erradas, e somos todos, no fundo, arrastados para isso, muitas vezes sem querermos ou sem nos aperceberemos. Foi muito bom ver esta família, tão simples, mas tão feliz e com tanto amor, e que perante uma dificuldade há sempre uma solução. Por maior que a dificuldade seja, percebi que a vida é demasiado curta para não valorizar as coisas certas e agradeci, acima de tudo, ter tido o privilégio de ter privado com eles. Hoje sou mais rica e mais feliz», diz Maria Evangelista sobre esta família.
O contacto entre a profissional e os pais de Sofia continua, até porque Cristina e Ricardo criaram uma página dedicada à menina, que pode acompanhar na rede social Instagram.
E que conselhos dão os pais de Sofia a outras famílias que possam passar (ou que passem) pela mesma situação que eles?
Este casal é perentório na resposta: «Não desesperem pois a vida prega-nos partidas que nos demonstram que nem tudo o que achamos que é perfeito para nós, o é na realidade. Depois de ultrapassado o choque inicial e depois de alguma pesquisa, irão ver que bebés com Síndrome de Down são iguais a todos os outros mas com alguns cuidados acrescidos. Resumindo, aproveitem ao máximo esta experiência pois fomos os escolhidos para sermos pais destes anjinhos maravilhosos», finalizam.
Fotos: Gentilmente cedidas por Maria Evangelista (www.mariaevangelista.com; https://www.facebook.com/MariaEvangelistaFotografia; https://www.instagram.com/mariaevangelistaphotographer_/ ; [email protected])
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