É na hora de deitar que a conversa chega. «Mãe, tenho saudades da avó e ela nunca mais vai voltar».
A Maria Inês tinha uma relação muito próxima com a avó «Nieta» e sente necessidade de falar dela e do que a inquieta. Ontem, com a mão no peito, perguntava-me: «Como é que se tira esta coisa que fica aqui?».
Já li algumas coisas acerca da perceção que as crianças têm da morte e a lição principal é não subestimar os sentimentos das crianças e não inventar coisas abstratas, como o típico «foi para o céu», porque até aos oito anos elas baseiam-se precisamente em factos e coisas concretas.
Tento dizer-lhe que é bom sentir saudades da avó porque é sinal de que gostavam muito uma da outra. Que eu já sou adulta e continuo a chorar quando penso na minha avó e que não há qualquer problema com isso.
Ontem acrescentou uma nova preocupação: «Eu não quero que mais ninguém nesta família morra. Principalmente tu, o pai e as manas». Tentei dizer-lhe para não se preocupar com isso, que estamos cá para ela e confesso que tentei mudar de conversa falando das férias que se aproximam. Não resultou…
«Tu não vais morrer, pois não mãe?» Tive de lhe dizer a verdade mas, para a sossegar, disse que estou a cuidar de mim o melhor que posso para viver muitos anos (achei que não valia a pena falar em tudo o que escapa ao nosso controlo…)
Quando ela finalmente adormeceu continuei a segurar-lhe a mão e a pensar que isto de ser mãe é mesmo um desafio constante, sempre com novos obstáculos à espreita. E que isto de ser criança também não é muito mais fácil…
Texto: Catarina Fernandes Raminhos, autora do blogue 7 da tarde
