Hoje é uma confissão. Um desvendar de um segredo que partilhei apenas com uma pessoa: a Filipa.
A Filipa é a pessoa menos julgadora que conheço e talvez por isso tenha sido fácil falar com ela. Por isso e porque trabalhávamos juntas, portanto também acabava por ser minha confidente e por aturar os meus queixumes de grávida oito horas por dia.
Imagino que algumas mulheres me possam julgar mas a verdade, é a seguinte:
Quis muito ser mãe. No entanto quando pensava na amamentação ficava de pé atrás. Eu sei bem o que pensava e o que sentia mas acredito que a maioria das pessoas não o entendam. Não queria mesmo amamentar. Por um lado tinha lido horrores. Que doía, que ficavam com o peito ferido, que até sangrava.
Depois a ideia de ter um bebé com a boca no meu peito a beber leite, não era «uau», mesmo.
Na verdade era algo abstrato ainda. Há grávidas que desde o momento em que fazem o teste ficam apaixonadas pelo seu feijãozinho, eu não.
Tive de guardar isso comigo. Uma mãe que não quer amamentar? Que raio de mãe é essa?
Na verdade eu até tive sorte com a equipa me acompanhou desde o início da gravidez. Perguntavam-me sempre se eu queria amamentar e não tomavam isso como garantido. Eu dizia que sim, porque sabia que era o melhor para o meu filho e já tinha decidido fazê-lo. Ok, também achava que se dissesse que não me iam responder «Como não???».
Depois o Gustavo nasceu. Aí já não me perguntaram nada. A enfermeira apenas informou: «Mãe está na hora de pôr o bebé a mamar». Não adorei a primeira mamada, foi estranho. Não tive um «click» de «Yupi, sou mãe» assim que ele nasceu. Por vezes ainda olhava para ele e pensava: «Hum… isto é meu. Sou mãe? Não me sinto mãe».
A estadia no hospital foi péssima apesar de a equipa toda ser extremamente cuidadosa e preocupada. Eu achava que o miúdo morria de fome, mas as enfermeiras diziam que não. O meu marido seguia a opinião delas.
Estive assim quatro dias com um bebé a berrar. Eu também berrava, porque achava mesmo que ele tinha muita fome, mas ninguém me ligava. Um dia quando tiver coragem escrevo sobre isso. (E sim, afinal era fome!)
Voltei para casa e a cada dia que passava me fazia menos impressão o bebé a mamar. Até ao dia em que para além de não me fazer confusão, eu queria mesmo amamentar.
Não me doía nada, não me custava nada. Era até maravilhoso. Comecei a desejar que ele fosse daqueles bebés que mamava até tarde. Pelo menos até fazer um ano.
Aos três meses começou a largar a mama. Eu ia tentando insistir, mas ele simplesmente não queria. Aos quatro meses deixei de ter leite.
Há dias vi uma fotografia que uma bloguer portuguesa postou a amamentar a filha já com um ano e meio. Tive saudades. E tristeza. Queria que o meu tivesse sido assim. E depois de amamentar e ver como era maravilhoso (comigo foi) queria mesmo. Às vezes penso que será castigo por eu ter pensado que não queria amamentar o meu filho.
O leite materno é o melhor para o bebé e quanto a isso não há nada que possa dizer. É assim, ponto. E pelo bem do meu filho eu faria tudo. Comecei a amamentar mesmo não querendo.
Ainda assim acho que cada mulher é dona do seu corpo e devia poder tomar essa decisão livremente sem ter de se sujeitar a pressões da sociedade.
Texto: Catarina Garcia no blogue O nosso, as dele e os dos outros