Não sou nada stressada com timings, prazos e datas expectáveis no que toca às miúdas.
Cada uma tem o seu tempo para crescer, evoluir e amadurecer e o que não têm mesmo é uma mãe sempre em cima, ansiosa para que cumpram etapas só porque uma prima distante anda desde os 10 meses de idade ou um colega da escola conta até 30 em três línguas aos três anos.
A Beatriz começou a mostrar interesse em deixar a fralda durante o dia uns meses antes de fazer três anos.
A Constança não estava sequer para ai virada e quando lhe falava no assunto ficava tão pouco ralada que nem valia a pena prosseguir neste tema. O facto de ter uma irmã mais nova não ajudava claramente, mas tínhamos tempo, sem stress. Há cerca de dois meses que começou a não querer usar fraldas, mas sempre que queria fazer pedia para colocar a fralda.
Esta semana, após dois episódios que envolviam o tema desfralde na escola, fui novamente pressionada para falar com ela. Insisti e voltei a explicar que a minha filha é teimosa e que ainda não estava preparada, mas que já faltaria pouco. Insistiram e sugeriram marcar consulta com o médico assistente para discutir uma estratégia…
Fiquei stressada com o stress deles e acabei por pressionar um pouco a Constança e durante uns três dias insisti com ela, que tinha mesmo de começar a usar o bacio. Combinámos na sexta-feira que, após a escola, iria sentar-se no bacio. Ela que nem a brincar alguma vez se tinha sentado no bacio ou sanita, mesmo após várias tentativas e pedidos nos últimos meses.
Após o almoço (cheio de líquidos!), após a lavagem dos dentes, coloquei as irmãs no quarto e conversámos as duas. Chorou… muito! Disse que não era capaz, que o bacio fazia dói-dói. Estivemos 20 minutos até que a consegui sentar. Disse-lhe que ela era capaz. Que é uma menina muito linda e corajosa e que ia conseguir porque todos os meninos conseguiam. A mamã e o papá também já foram pequeninos e também usaram bacio. Os avós, os tios, os primos, o João e a Eugénia, todos os crescidos usaram bacio. Não aquele. Não, este bacio cor-de-rosa é da Constança.
Depois, mais calma e sentada no bacio, contei uma história (ora abrindo a torneira ou fazendo o som da água). Uma menina que tinha muita sede, porque estava muito calor, bebeu muita água, depois pediu mais água à mãe e teve de ir fazer xixi no bacio. E depois foi brincar na piscina e o pai encheu a piscina, mas a menina tinha muito xixi porque bebeu muita água… Percebem a ideia, não é?!
A Beatriz aparece também para ouvir a história e de repente, nem percebo muito bem como, cai e quando a vou ajudar a Constança grita: «Já está mamã! Já fiz xixi no bacio!»
Como assim? 40 minutos no WC e no milésimo de segundo que tiro os olhos dela é quando ela trata do assunto?
Quase com as lágrimas a caírem digo-lhe o quanto estou orgulhosa dela. E contente e feliz (e aliviada!).
Fizemos uma festa! Mesmo! Tinha-lhes dito que quando a Constança usasse o bacio que fazíamos uma festa e ainda nem tínhamos saído da casa de banho já elas estavam a falar na festa e em quem iam convidar! Expliquei que seriamos só nós as quatro e que a mamã ia tratar da festa para quando acordassem da sesta!
Uma grinalda de aniversário, uns balões, pompons e música um pouco mais alto e a festa estava quase feita! Quase, porque festa tem bolo diz a Beatriz! Fomos então para a cozinha e saíram uns queques de cacau maravilhosos para a nossa festa!
Depois disso, a minha pequena conquistadora de bacios fez mais três xixis nesse mesmo dia!
Mas a Beatriz também conquistou algo esta semana! Determinada, na quarta-feira disse-me ao deitar que não queria fralda. «Não preciso mamã, já fiz xixi na sanita.» E assim foi. Anda mais segura de si e mais tranquila.
As birras também estão a abrandar. As conquistas após estes pulos de crescimento fazem-nos mesmo «acreditar» que são males necessários. E por isso sei e acredito que não é necessário forçar a nossa própria natureza, muito menos com crianças. Vão ter muito tempo no futuro para tentar melhorar timings, esticar prazos ou encurtar etapas. Mas agora não. Não no meu turno!
«Afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte», por José Saramago.
Texto: Filipa Gonçalves, no blogue Hands Full
