Saúde

Perturbação da Linguagem nas Crianças: Os sinais, as dúvidas, as respostas!

Andreia Costinha de Miranda
publicado há 6 anos
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São poucos os Pais que prestam a atenção necessária à perturbação da linguagem nas crianças. Ou pensam que é preguiça dos mais pequenos ou julgam que em pouco tempo as dificuldades dos filhos acabam por passar. Sim, pode acontecer, mas é sempre bom estar alerta para alguns fatores.

Dessa forma, o site Crescer conversou com a Terapeuta da Fala, Luísa Rezende, que nos tirou todas as dúvidas em relação a este tema.

Não há uma idade específica para que as dificuldades comecem a ser notadas, por isso mesmo há que estar atento aos sinais, desde sempre. «Todas as pessoas envolvidas no círculo de vida de qualquer criança devem estar atentas a sinais desde o nascimento, ou seja, ao longo de todo o desenvolvimento. Existem fatores, mesmo durante a interação/comunicação de um bebé recém-nascido com a sua mãe, que nos podem indicar sinais de alerta tendo em conta o desenvolvimento normal de uma criança. Esses sinais podem manifestar-se ao nível da comunicação verbal e não verbal, como por exemplo, a criança pode não manter o contacto ocular ou pode desviar constantemente; também se podem manifestar na alimentação, como por exemplo, se conseguem ou não mamar, se rejeitam algumas texturas de alimentos ou diferentes temperaturas. Podem também surgir indicadores de que a audição está alterada, quando por exemplo não respondem pelo nome, ou não produzem determinados sons. Também se deve estar atento ao desenvolvimento muscular oro-facial, ou seja se apresentam flacidez da língua, lábios, bochechas ou se respiram sempre pela boca, à altura em que surgem os primeiros sons, palavras, entre outros», começa por dar a conhecer.

Existem Pais que descredibilizam, muitas vezes, estas dificuldades. Acham que a criança é preguiçosa ou acreditam que está um pouco mais atrasada no desenvolvimento em relação a outras crianças. Mas a realidade é bem diferente. A criança pode, efetivamente, precisar de uma consulta especializada. «É um tópico sensível e que depende muito da opinião de cada um. Ainda existem pais que se apoiam bastante na opinião de outros profissionais de saúde que, nalgumas ocasiões, tendem, por vezes, a desvalorizar. Como o terapeuta da fala é um técnico superior independente e especializado, já presente na maioria das escolas e hospitais, sugiro que se existirem dúvidas sobre qualquer área do desenvolvimento (fala, linguagem, comunicação, alimentação, voz, leitura e escrita, fluência, processamento auditivo) não devem hesitar em pedir apenas um despiste e/ou avaliação mais detalhada. A maior parte das alterações quanto mais cedo for identificada e trabalhada, melhor», explica a terapeuta.

E que sinais se devem ter em atenção? 

 

Na página do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão os principais alertas estão todos especificados.

Estes sinais de alerta podem ser:

– Dizer as primeiras palavras mais tarde comparativamente a outras crianças da mesma idade;
– Trocar sons nas palavras (Ex: bota/mota);
– Fazer reformulações constantes do que quer dizer (Hoje cinema vamos…Vamos hoje ao cinema?);
– Fazer frases curtas e/ou desorganizadas (Está à filha calçar sapato);
– Dificuldade em lembrar-se dos nomes das coisas (descrevendo-as pela função, pela acção, pelas características, através de gestos, ou ainda substituindo por outra);
– Não ser objetivo nas descrições que faz dos acontecimentos;
– Dificuldades em perceber piadas, anedotas ou charadas, interpretando-as à letra;
– Não conseguir manter o mesmo tema de conversa;
– Responder desadequadamente a perguntas começadas por «Quem, Como, Quando, Onde, Qual…»;
– Não adaptar o estilo de linguagem, de acordo com o contexto e com o interlocutor;
– Dificuldade em e produzir histórias, lengalengas e canções;
– Compromisso na produção e reconhecimento de rimas.

Mas no fim do 1.º ano de escolaridade (período de automatização dos mecanismos da escrita/leitura) consideram-se ainda como sinais de alerta:

– Inversões ou troca de letras ou sílabas e/ou palavras Ex: secola (escola); fela (vela);
– Omissão de letras e/ou sílabas, Ex: Sato (sapato); casola (camisola);
– Dificuldades em discriminar sons, Ex: f/v s/z ch/J
– Dificuldade na interpretação de frases e/ou textos;
– Dificuldades em integrar as regras ortográficas Ex: comião (comiam);
– Narrativa escrita pobre, mal estruturada no espaço e no tempo (morfossintaxe).

A especialista Luísa Rezende explica também que tipo de testes são realizados nas consultas de terapia da fala. «Existem diversos testes, consoante a faixa etária, validados para o português-europeu que nos ajudam a identificar as áreas que podem ser estimuladas na criança e assim facilitar o seu desenvolvimento linguístico e/ou facilitar a entrada no 1.º ano», revela. E quanto tempo poderão durar essas terapias? «Depende muito da causa da necessidade da mesma, da maturidade da criança, da altura em que foi detetada, mas diria que o tempo pode variar entre três meses a 1/2 anos. Noutros casos a criança poderá necessitar de uma estimulação constante ao longo de longos períodos de tempo», realça.

 

Conselhos importantes

A terapeuta da fala Luísa Rezende deixa alguns conselhos aos pais no que diz respeito aos sinais de alerta na linguagem e na fala das crianças: «Como terapeuta sugiro que se os pais tiverem alguma dúvida que contactem um técnico especializado. É muito fácil serem influenciados pela opinião de outros profissionais, amigos ou professores. Ao longo dos anos tenho vindo sempre a falar na extrema importância da comunicação entre pais e filhos. As crianças devem ser estimuladas a conversar, a explicar acontecimentos breves, a resumirem histórias ou inventarem histórias, existem vários jogos que podem fazer no carro (exemplo: diz-me nomes de palavras começadas por /pa/, ou que terminem em /ão/, palavras que rimem, diz-me nomes de alimentos, ferramentas, profissões; explicar as diferenças e semelhanças, fazer pequenos teatros. Também existe um livro que pode ajudar neste caso, intitulado ‘O Gato Comeu-te a Língua?’, da autoria de Joana Rombert )».

Assim, e por forma a tirar todas as dúvidas em relação a este tema «os pais deverão procurar um terapeuta da fala e fazerem sempre um rastreio auditivo…» «Penso que também é importante referir que em crianças mais velhas (+- 12/15 anos) que apresentem dificuldades na disciplina de português (por exemplo, interpretação de textos, resumos, organização de frases) o terapeuta da fala também pode e deve atuar. Crianças que pareçam distraídas ou que apresentem dificuldades na memória auditiva, ou que seja preciso repetir a informação muitas vezes em ambientes ruidosos também poderão beneficiar de uma avaliação de processamento auditivo realizada por terapeutas da fala – diferente de exame audiológicos realizados por audiologistas», finaliza.

 

Contactos da Terapeuta da Fala Luísa Rezende

Telemóvel: 91 684 24 85

Email: [email protected]

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