O mundo é ainda muito cruel para as mulheres. Principalmente para as que querem ter ou que têm uma família.
Houve uma altura da minha vida em que quis mudar a minha atividade profissional. Cheguei a acordo com os meus antigos patrões e despedi-me.
Desde então, parti logo à luta e fui a várias (muitas!) entrevistas. Em todas fiquei com a sensação que me queriam nas suas empresas, mas quando chegavam à parte do “tem filhos”, os semblantes mudavam.
Leia também: «Fui despedida por ter sido mãe»: A dura realidade de uma mulher que foi ignorada
Eu notava de imediato que essa questão, o facto de ter dois filhos, era impedimento para me contratarem.
Esperava pela semana em que me diziam que iam dar resposta e os telefonemas não chegavam.
Numa dessas entrevistas, quando respondi que tinha filhos, sorriram (agora sei que com sorriso falso) e disseram: «Ainda bem! Precisamos de uma pessoa com experiência de mãe para determinado projeto que vamos ter». Despediram-se de mim desta forma: «A T. é mesmo a pessoa indicada para o lugar. Tem tudo o que precisamos. Para a semana ligamos para acertar tudo».
Cheguei a casa e disse que já tinha trabalho. Mas passou uma semana, duas e… nada! Tentei falar com as pessoas que me entrevistaram. Não me atenderam e nunca me responderam às mensagens e e-mails. Nunca!
Até que, por ordem, do destino, uma pessoa que conhecia me confidenciou que ia a uma entrevista – para a mesma empresa onde eu tinha ido -, mas para outra área. Ela, mais nova uns cinco anos e… sem filhos! Sabem quem ficou com o lugar? Ela! Uma pessoa que ocupou, afinal o “meu” lugar quando nem pertencia à minha área.
Leia ainda: «Carta a todos os chefes e patrões de mulheres grávidas ou com filhos»
Até hoje ninguém, mesmo ninguém me disse nada. E não espero que o façam. As atitudes ficam para quem as praticam, não é?
Depois de saber disto, fui a uma outra entrevista e menti. Disse que não tinha filhos. E adivinhem! Fiquei com o trabalho. Mas como sou uma tontinha, quando me ligaram, pedi para falar pessoalmente com eles porque tinha algo para lhes dizer.
Aí, contei tudo o que já expliquei neste testemunho. E disse que entendia que já não me quisessem, mas que não podia viver numa mentira. Que a minha atitude não tinha sido bonita, mas que jamais poderia trabalhar lá e fingir que não tinha uma família.
Entenderam e elogiaram a minha atitude! Não é para todos! Podia ter-me “queimado” à grande com o que fiz! Mas todos entenderam e hoje, sou uma profissional feliz! E sou, também, uma mãe muito feliz!
Que a mentalidade comece a mudar, porque todos temos direito a ter uma família e a trabalhar!
Texto: T.V.