Quando tens um filho fazes tudo por ele. Passamos a vida a tentar protegê-los. E se um dia o vês entre a vida e a morte, fazes coisas inimagináveis…
A minha filha tinha apenas quatro anos quando ia morrendo sufocada. Era um domingo. Estávamos todos em família na nossa casa. O jardim era onde passávamos mais tempo. O almoço foi grelhada mista. Ela adorava, mas ainda não tinha autonomia para comer um bife sozinha. Tinha de o cortar sempre aos bocadinhos bem pequenos. Para mim, mais vale prevenir do que remediar.
Só que nesse dia foi a minha cunhada que lhe cortou a carne. Éramos muitos, havia muita confusão. Eu nem sequer reparei que ela tinha pedido à tia para cortar o bifinho. Estava com fome, a minha menina…
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A meio da refeição engasgou-se. Ficou um bocado de carne preso na garganta pequena que tem. O meu mundo parou ali. Naquele instante era como se nada mais existisse à minha volta. Não ouvia ninguém. Só queria salvá-la. Sei que ouvia ao longe os priminhos a chorar muito aflitos. O meu marido tentava ligar para o 112, mas de lá disseram para tentar de tudo, porque se a menina já estava a mudar de cor, a ambulância não chegaria a tempo.
Foi nesse momento que, depois de tantas tentativas, de pancadas nas costas, de apertões no peito, de colocar os dedos na garganta dela e nada resultar… foi nesse momento que olhei para a mangueira que estava mesmo ali à mão, liguei-a na velocidade máxima e coloquei na boquinha dela. Toda eu tremia. Não sabia se ela iria sobreviver. Ainda podia morrer afogada, tal era a pressão. Mas não. O bocado de carne entrou e ela começou a tossir muito muito muito. Chorava tanto… Sentiu-se aflita com a água, mas tinha de ser.
Não sei como fui capaz, mas tinha de fazer algo para salvar a minha filha…
Texto: Sara Nogueira
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