Alimentação

Não sabe viver sem o leite de vaca?

Redação
publicado há 6 anos
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Cá em casa fazemos os possíveis por termos uma alimentação saudável e consciente. Tal, não significa porém, que seguimos uma qualquer dieta muito fashion ou que eliminámos certos alimentos só porque está na moda e, que deles fugimos, como o diabo foge da cruz.

Um desses alimentos é, sem dúvida, o leite de vaca. Hoje em dia falar sobre este alimento é comprar uma guerra e esperar a carta com a data para o linchamento público.

A Organização Mundial de Saúde recomenda que até aos dois anos ou mais, o bebé seja amamentado. Na impossibilidade de tal acontecer, as fórmula infantis são o caminho a seguir.

Preferencialmente devem ser mantidas também até aos dois anos ou, pelo menos até aos 12 meses de idade. Altura em que poderá substituir a fórmula por leite de vaca gordo. Este não contém tanto açúcar como as fórmulas mas, por outro lado não é fortificado, logo não é tão rico em micronutrientes.

Nas crianças vegetarianas, no que diz respeito ao leite e seus substitutos, as diretrizes preconizadas são exatamente as mesmas que para as crianças omnívoras.

É frequente as famílias vegetarianas estritas ou vegans, na ausência de leite materno, optarem por fórmulas infantis com proteína de soja pelo que é importante acrescentar que este substituto do leite está previsto e pode ser utilizado em lactentes saudáveis. As outras alternativas vegetais são vulgarmente conhecidas como «leite de…» soja, arroz, amêndoa, aveia e afins. Tal denominação não só é errada como falaciosa. O mais correcto é mesmo denominá-las de bebidas vegetais, já que, a sua composição é significativamente diferente da do leite, que tecnicamente é um alimento resultante da secreção da glândula mamária das fêmeas dos mamíferos.

Tais bebidas vegetais, fortificadas ou não, são alternativas inapropriadas ao leite materno, fórmula infantil ou ao leite de vaca gordo nos primeiros 2 anos de vida.

É ainda importante referir que, a título de exemplo, quando falamos de bebida de soja, esta de soja tem muito pouco. As versões normais possuem entre  cinco por cento a 13 por cento de grãos de soja e a versão light de cada marca ainda menos. O mesmo se passa nas restantes bebidas com outras fontes vegetais: são versões muito diluídas da bebida em si, a um preço que chega a ser quatro vezes superior a um pacote de leite de vaca.

Um exercício que sugiro que façam numa próxima visita ao supermercado é olhar atentamente para os rótulos de muitas destas bebidas. Pois é: água e açúcar (maltodextrinas) nos dois lugares cimeiros. Parece-lhe que água com açúcar é um bom substituto do leite de vaca?

Então e se fizermos as bebidas vegetais em casa, sem qualquer adição de açúcar? Não existe qualquer problema. Dei algumas vezes «leite de arroz» e «leite de coco» (a minha bebida vegetal preferida), à Francisca. Principalmente porque, a partir de dada altura, não conseguia extrair, leite materno, com a bomba, para
adicionar às papinhas.

No entanto, tinha sempre a consciência que, neste caso o «leite» de coco (fruto), quanto muito substituía a fruta daquela refeição e não o leite, visto estarem longe de serem alimentos equivalentes. Se for este o caso, é importante ter o cuidado de que o aporte diário de leite se mantém invariável.

Ainda, e face a esta tendência crescente de substituir o leite por bebidas vegetais, sendo um tema recorrente em fóruns e grupos de Facebook, cabe-me dizer o seguinte:

  • Estudos reportam a existência de carências, sobretudo de cálcio e vitamina D em crianças cujo leite (materno ou fórmula) foi preterido em função do consumo desta bebidas, com consequências muito graves para a criança.
  • As preparações com soja, apresentam elevada concentração de alumínio, fitatos e fitoestrogénios, que são substâncias com comprovadas acções hormonais e não hormonais, desconhecendo-se os efeitos a longo prazo, desta exposição precoce. Não devendo por isso ser introduzidas antes dos dois anos de idade.
  • A proteína da soja para além de ter menor digestibilidade que a do leite de vaca, não é tão equilibrada no que diz respeito ao seu teor em aminoácidos.
  • A soja é, assim como o leite de vaca, um alimento potencialmente alergénico.
  • As bebidas de aveia, amêndoa ou arroz têm muito baixo teor proteico e elevado teor de hidratos de carbono totais e açúcares.
  • Apesar do cálcio adicionado, a estas bebidas, a sua biodisponibilidade (aquilo que o bebé consegue absorver), pode ser afectada pelos antinutrientos presentes na bebida (ex: fitatos).
  • Normalmente, o leite de vaca e soja são os gatilhos mais comuns para uma reacção FPIES (FoodProtein Induced Enterocolitis Syndrome). Esta é uma condição clínica, que afecta lactentes e crianças jovens e se traduz numa inflamação intensa e imediata do intestino (enterocolite), causada pelo nosso sistema imunológico, em reação a determinada proteína alimentar. Contudo, todos os alimentos podem induzir esta reação, mesmo aqueles que não são normalmente consideradas como alérgenos, como arroz e aveia e respectivas bebidas.
  • A amêndoa e restantes frutos oleaginosos, por serem alimentos que podem causar alergias nas crianças mais sensíveis, só devem ser oferecidos à criança depois dos 18-24 meses. O mesmo se aplica às bebidas que a contêm.

 

Se após tais considerações for a sua vontade, eliminar o leite de vaca da dieta do seu filho, saiba que:

  • Só é recomendado que o faça a partir dos dois anos de idade.
  • O leite de vaca fornece ao seu filho proteínas de elevado valor biológico, cálcio, fósforo e zinco, com elevada biodisponibilidade, com uma excelente relação qualidade/preço.
  • O leite de vaca integra as recomendações alimentares e nutricionais ao longo do ciclo de vida, baseadas na evidência científica.
  • Mesmo no caso de situações patológicas, como por exemplo, crianças com APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca), deverão optar, até aos dois anos de idade, por fórmula infantil, com proteínas extensamente hidrolisadas.
  • Os casos de intolerância à lactose são raríssimos em crianças com idade inferior a dois ou três anos.
  • O leite de vaca têm prós mas também contras, assim como as bebidas vegetais.
  • Leite de vaca e bebidas vegetais são alimentos diferentes, não quer dizer estas sejam melhores.
  • É possível ir buscar cálcio a outros alimentos que não os laticínios mas é muito mais difícil mas sendo esta a sua opção, deverá saber que não existe um único alimento que substitua o leite (excepto os seus
    derivados, tais como iogurte e queijo) mas sim o somatório de vários outros alimentos, que quando combinados poderão assim suprir os mesmos nutrientes que o leite.
  • O leite, principalmente após a idade pediátrica, não é um alimento essencial mas está muito, muito longe de ser o veneno que o pintam e não podemos ainda ignorar a forte ligação deste alimento com a nossa
    cultura e raízes.

Como em tudo na vida é importante respeitarmos as liberdades individuais. Porém, é também urgente uma posição mais crítica face ao enorme fenómeno de partilha desenfreada de conteúdos sobre nutrição e alimentação, muitas vezes com qualidade duvidosa ou perniciosa. Sobretudo quando tal pode afetar diretamente a saúde dos nossos filhos!

Texto: Sandra Santos, Nutricionista e autora do blogue Papinhas da Xica

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