Família

A Mãe é que Sabe: O que mudou desde 2014 na vida de Joana Gama e Joana Paixão Brás

Filipa Rosa
publicado há 6 anos
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No mundo da maternidade, poucas são as mães que não conhecem o blogue A Mãe é que Sabe, o cantinho de Joana Gama e Joana Paixão Brás. Ambas com 31 anos e formadas em Comunicação Social, decidiram juntar-se há três anos e meio para partilhar as suas experiências, para «extravasar» o que estavam a sentir. A necessidade de falar com mais pessoas era muita.

No Dia Mundial da Internet, o site Crescer falou com as autoras de um dos blogues mais mediáticos a nível nacional.

O primeiro post foi a 10 de novembro de 2014. Tinham Irene e Isabel oito ou nove meses. Mas afinal o que mudou desde então? Tudo! Tudo mudou no ano em que abraçaram o maior desafio das suas vidas: serem mães. «Eu divorciei-me», começa por dizer Joana Gama. «Acho que um dia – espero nunca ter tempo para isso – talvez fosse interessante ver a história toda dos meus sentimentos desde 2014 até agora. Ver a depressão, a tristeza, a solidão, a deceção, o desapontamento (como a série agora na Netflix), mas as tentativas constantes de luta, de ‘dar a volta’, de sentir ‘gratidão’, até à ‘resolução’ e atualmente o processo de readaptação e construção de uma outra família (monoparental lá em casa, mas que é família na mesma.)»

Como autora do blogue, Joana acredita que as leitoras poderão sentir que anda diferente. «Mais equilibrada (ahah, eu disse mais) e mais feliz. Também mais transparente e mais genuína, visto que agora não sinto que tenha que esconder toda a tristeza que escondia antes (até de mim mesma).»

Joana Paixão Brás, por sua vez, engravidou da segunda filha, Luísa, no final de 2015. Foi a «outra» Joana que anunciou no blogue (leia aqui). Ser mãe tem sido «a melhor experiência» da sua vida. «Profissionalmente acho que podia ter sido muitas coisas, mas ser mãe estava nas minhas prioridades de vida. Acho que aos 18 já falava nisso (LOL). É muito extenuante, principalmente quando não se tem grandes ajudas, mas é também muito gratificante. O que as minhas filhas me dão em troca é o melhor presente que já recebi. Os sorrisos, os abraços. Eu já esperava que fosse ser este o meu melhor e maior papel, mas sinceramente estava longe, em 2014, de saber que seria isto tudo. É demais!», relata Joana, que sempre sonhou em ter vários filhos, mesmo antes de saber o que era este amor único. «O caos quando elas desarrumam tudo e fazem birras, a loucura quando não querem ir para a cadeirinha no carro ou tomar banho e me fogem, a fofura quando me dizem coisas bonitas e me fazem sentir a mulher mais feliz do mundo. Mudaria algumas coisas, como elas dormirem melhor, aí isso sem dúvida! Mas tudo acaba por compensar.»

Por amor às filhas teve a coragem de se despedir. E nunca se arrependeu. «Sim, por elas fui capaz de me despedir do meu trabalho de sonho. Era de sonho antes de ser mãe, depois roubava-me muito tempo da Isabel (estava grávida da Luísa). Fomos viver para o campo e vivemos uma vida mais simples durante dois anos. Pude desfrutá-las ao máximo. Não me arrependo nem um segundo. Agora voltamos a Lisboa e está a correr muito bem!»

Os receios e angústias da maternidade

Como qualquer mulher, Joana Gama também teve os seus medos e ansiedade antes de engravidar de Irene, até porque ser mãe nunca foi um sonho. «Eu tinha muito medo que o meu corpo não funcionasse. Quando era mais nova fantasiava que seria estéril. Não queria ser mãe e, de repente, grávida, tinha medo de não estar apta e de falhar em tudo o que fosse acontecendo. Tive de ler muito para começar a sentir um pouco mais de confiança e, acima de tudo, conversar com outras mães. Sentir os receios das outras mães fazia-me sentir mais normal e, por isso, possivelmente mais apta», conta.

Desde que engravidou, nunca mais se sentiu completamente sozinha. «Sentia sempre que estava a construir algo que iria ser o mais importante da minha vida. Como se tivesse embarcado numa missão perigosa pelo Atlântico, mas consciente dos meus objetivos (enormes, megalómanos, assustadores). Com a maternidade aprendi a relativizar, a acreditar mais em mim, a ‘ver’ as outras mulheres com todas as pressões a que estão sujeitas e, por isso, a compreender melhor o que se passa em vez de julgar instantaneamente», explica Joana, que tem ganho outra perspectiva sobre ela própria. «Tenho aprendido muito sobre mim, porque ver a Irene a crescer e os desafios adjacentes e a forma como lhes vou respondendo não só dizem muito da minha maneira de ser, mas também de como fui educada. É um revisitar da nossa história. Estou convencida que é um exercício muito bonito e… by the way, produtivo.»

«Não somos Super Mães, mas somos do caraças», dizia Joana Paixão Brás num post publicado no Dia da Mãe. «Não sou uma Wonder Mum, mas talvez seja (ainda) a heroína delas. Daqui a uns anos vou ser a chata, vão revirar os olhos quando eu falar e até mesmo bater a porta do quarto com força. Por enquanto, aproveito ao máximo aqueles olhos brilhantes e aquela admiração quando me vêem fazer qualquer coisa super básica (não para elas). E esta magia, talvez a voltem a perceber quando tiverem filhos no colo e lhes sentirem o cheiro. A partir desse momento, a admiração por mim voltará a crescer. Talvez até me consigam sentir o perfume e o meu colo quente, de novo, quando precisarem dele, naqueles dias que se confundem com as noites e que somos nós que choramos, mais até do que o bebé», diz.

Especiais para milhares de mães

Ambas têm a noção da importância que têm para as milhares de mães que lêem os seus posts. São especiais, sim. Mas as suas seguidoras também o são para elas. «Sinto que sou tão especial para as pessoas que nos seguem como as pessoas que nos seguem são para mim. A gratidão é mútua porque ambas as partes vão à procura do mesmo: identificação, companhia, relativização… Eu tenho é de ir parindo posts, mas elas têm que os ler e, por isso… estamos quites», diz Joana Gama com aquele sentido de humor que a caracteriza. «Confesso que não leio blogues, mas gosto de acreditar que somos mesmo muito cruas nas nossas partilhas. This is personal, não há grande censura, mesmo. E é isso que têm de nós: tudo.»

Para Joana Paixão Brás, é Joana Gama a mais completa das duas. «Ela consegue comover toda a gente ao revelar que não se apaixonou pela filha assim que ela nasceu (até hoje choro a ler esse post – leia aqui), como consegue pôr toda a gente a rir, falando do pipi ou do episódio em que a Irene se lembrou de abrir a fralda com cocó e… bem, ficamos por aqui. E a verdade é que ela é a estrelinha das duas, vai mais gente falar com ela na rua do que comigo», descreve em tom de brincadeira. «Acho que há poucos blogues que reúnam tudo isto: humor, listas parvas, listas importantes, coração, desabafos pessoais, opiniões sobre tudo e sobre nada, parentalidade consciente, receitas, família, restaurantes… e tudo com uma assinatura, com um cariz muito pessoal. Pomos muita coisa no caldeirão, mas há logo leitoras que sabem quem escreve o quê logo pelo título ou pelas primeiras frases.»

As críticas que magoam

Entre os milhares de seguidores do blogue, há também quem critique e opine sobre determinado post, conseguindo magoar quem escreve com o coração. Joana Gama não esquece uma das críticas. «O que leva as pessoas a comentar o nosso blogue são emoções fortes: ou de comoção ou de ódio. Temos haters, sim. É normal que as tenhamos. A mensagem que mais me tocou foi dizerem que a minha ansiedade estava a prejudicar o crescimento normal da minha filha. Doeu-me, mas tirando isso nada mais me deixou desconfortável. Somos um alvo fácil e rápido para quem esteja a passar por fases mais complicadas da vida, ainda para mais sem confronto direto. É tudo natural e previsível», conta.

Curiosamente, um dos posts mais lidos do blogue – se não o mais lido – foi escrito por Joana Paixão Brás, depois de alguém ter ofendido as suas filhas (pode ler aqui). «Uma das coisas que mais me custou foi terem dito que as minhas filhas eram feias, mais do que uma vez. Só me custou à primeira. E, atenção, que não fiquei triste pela mensagem em si, mas por perceber que há gente muito feia, com aquela fealdade que realmente me incomoda, que é a que está no coração. Entretanto apercebi-me de que quem é capaz de dizer a uma mãe que a filha dela é feia ou que somos todos feios lá em casa, assim gratuitamente, é alguém com problemas ou que é infeliz. Felizmente, já consigo gerir melhor os comentários negativos que não são construtivos, já não me deixam revoltada com o mundo», confessa Joana, que nunca perdeu a noção da importância do blogue para muitas mães. Nem ela nem a outra Joana. Os seus fiéis seguidores não deixam. «Já nos disseram muitas vezes por escrito, mas também pessoalmente, que escrevemos um texto que mudou a forma de pensar ou a forma como se sentiam, que as ajudámos muito. Lembro-me de uma leitora de Inglaterra, longe de amigos e família, que nos dizia que nos sentia as únicas amigas que ela tinha e aí percebi que o nosso papel já ia muito além do que eu alguma vez sonhei. Às vezes torna-se tudo muito intenso, mas é bom.»

 

Foto de destaque gentilmente cedida por Joana Sepulveda Bandeira - The Love Project Fotografia

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