Gravidez

Hipotiroidismo na gravidez: Quais os sintomas, tratamentos e riscos para a mãe e bebé?

Filipa Rosa
publicado há 6 anos
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Durante os nove meses de gravidez, todo o cuidado é pouco. A saúde da mulher e do bebé são uma prioridade constante e há que estar atenta a todos os sinais que o corpo dá.

O hipotiroidismo, se for diagnosticado tarde, pode provocar graves problemas na gestação para a mãe e para o bebé. Até mesmo depois da gravidez. Sabia que a disfunção da tiróide pode resultar numa depressão pós-parto?

O principal problema do diagnóstico tardio é o facto dos sintomas serem associados a outro tipo de problema. «O hipotiroidismo é como se todo o organismo funcionasse mais devagar. Manifesta-se lentamente e os seus sinais e sintomas podem ser inespecíficos. Cansaço, maior sensibilidade ao frio, queda de cabelo, pele seca, aumento de peso, edemas, fraqueza muscular, depressão, obstipação e irregularidades menstruais são as mais presentes nesta patologia. Esta clínica nem sempre é valorizada quer pelo doente, quer pelo médico, e o seu diagnóstico é muitas vezes tardio», explica ao site Crescer Maria João Oliveira, médica endocrinologista no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia e Espinho. «Também durante a gestação, os sinais e sintomas do hipotiroidismo são inespecíficos e facilmente confundíveis com queixas frequentes na gravidez: aumento de peso, falta de forças, cansaço e obstipação. Pode haver ainda um aumento do volume da glândula tiroideia, vulgarmente conhecido por bócio.»

Segundo a endocrinologista, o diagnóstico e tratamento tardios podem comprometer o desenvolvimento do feto e mais tarde da criança. «Durante a gravidez há alterações fisiológicas no organismo da mãe que obrigam a glândula tiroideia a um esforço acrescido. Até cerca das 20 semanas de gestação a tiróide fetal não sintetiza as hormonas necessárias para o desenvolvimento do feto pelo que este necessita das hormonas tiroideias produzidas pela mãe. As hormonas da tiróide são indispensáveis ao desenvolvimento do sistema nervoso central fetal. Um défice destas pode-se traduzir mais tarde num atraso cognitivo ou dificuldades de aprendizagem da criança», afirma, alertando para este grave problema. «O hipotiroidismo não tratado pode causar alterações na circulação sanguínea placentária, do líquido amniótico e aumentar a probabilidade de um parto pré-termo ou instrumentado.»

De forma geral, as doenças da tiróide são relativamente frequentes. O hipotiroidismo é a mais comum. «Pensa-se que entre cinco a 10 por cento dos portugueses tenha alguma forma de doença da tiróide. No entanto, não se conhecem números exatos em Portugal. As mulheres são cerca de 10 vezes mais afetadas que os homens», avança Maria João Oliveira, que alerta as grávidas. «A carência materna de hormonas tiroideias (hipotiroidismo) pode atingir mais de três por cento das gestações.» Por isso, há que estar atenta aos sinais.

Para quem quer engravidar, é um problema se sofrer de hipotiroidismo?

No caso da mulher em idade fértil que pretende engravidar, o hipotiroidismo não tratado pode dificultar a fecundação, aumenta o risco de aborto e a evolução normal da gestação. «Se o hipotiroidismo já era conhecido pela mulher antes de engravidar e se não estiver tratado conduz geralmente a uma infertilidade. Deverá estar controlado e a mulher deve falar com o seu médico e fazer análises da função tiroideia quando pensar em engravidar», recomenda a endocrinologista.

«Se o hipotiroidismo foi diagnosticado antes da gravidez, a dose de levotiroxina (T4) necessita de ser aumentada, até 30 ou 50 por cento, pelas quatro a seis semanas de gestação. Após o parto, as necessidades de levotiroxina, em geral, diminuem para doses habituais na mulher não grávida, mesmo durante o período de amamentação», explica a especialista, descansando as grávidas que possam sofrer com este problema. «Desde que a função da tiróide esteja dentro dos limites pretendidos durante a gravidez, e a mulher seja convenientemente vigiada, a gestação pode decorrer de uma forma perfeitamente normal.»

Qual o tratamento?

Segundo explica Maria João Oliveira, o tratamento do hipotiroidismo é um tratamento de substituição. «Faz-se com a toma diária, em jejum, de um comprimido de T4 (levotiroxina). No organismo é convertida em T3. É um tratamento simples e eficaz desde que na dose certa, geralmente é para toda a vida. A dose de levotiroxina deve ser ajustada periodicamente, caso necessário, após o doseamento da TSH no sangue.»

No caso da mulher que pretende engravidar e na grávida este controle e ajuste deve ser realizado de uma forma mais frequente.

«Sendo o hipotiroidismo uma doença que se desenvolve de uma forma simples e progressiva e sendo a sua sintomatologia muito inespecífica e existente noutras alterações clínicas, o seu diagnóstico pode ser tardio se não for pensado atempadamente e como tal o seu tratamento atrasado», refere.

O diagnóstico do hipotiroidismo faz-se através do doseamento da TSH (hormona estimuladora da tiróide) e da T4 no sangue. «É um doseamento simples e pouco oneroso», sublinha.

Dada a inespecificidade dos sintomas é necessário estar atento ao seu aparecimento e persistência, especialmente se cursarem com aumento do volume ou tumefacção cervical.

Para Maria João Oliveira, «apesar da disfunção da tiróide, nomeadamente o hipotiroidismo, ser bastante frequente, o seu rastreio não é ainda recomendado por rotina. Contudo é aconselhado nalgumas circunstâncias como na história familiar de doença tiroideia, na presença de doenças auto-imunes (como vitiligo, diabetes tipo 1) ou certos síndromes (Down ou Turner), na história de radiação da cabeça e pescoço, quando há toma de fármacos que possam interferir com a função da tiróide e, especialmente, na mulher que pretende engravidar.»

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