No outro dia, imersa no mundo das redes sociais (quem, de vez em quando, não se vê absorto nas partilhas alheias?), os meus olhos pararam numa foto que me chamou a atenção: uma mãe num chuveiro com os filhos, sendo um, um bebé de colo e uma menina de três ou quatro anos, em pé, ao seu lado. Não aparecia a cara de ninguém. E não, não era uma foto sensual, que pudesse suscitar polémica. Era uma foto linda, muito linda. Mais linda ainda era a frase que a acompanhava.
Infelizmente, não gravei o nome de quem a postou para revisitá-la. Também não tirei um “print” do ecrã do telemóvel; então, vou reproduzir a frase, mais ou menos como me lembro, porque fez todo o sentido para mim. E se quem me lê é mãe, também fará sentido, certamente, para si. Dizia algo assim: «Uma mãe deve sempre sentir-se especial… afinal, ela representa tudo na vida dos filhos».
O texto dirigia-se, claro, a mães com filhos pequenos. Aos nossos filhos, já maiores, entregamos para o mundo, inescapavelmente… Faz parte da vida, de uma forma literal. Essa rutura é gradual, e às vezes dolorosa, porém necessária e inexorável.
Enquanto pequeninos, preenchemos todo o espaço dos seus coraçõezinhos e mentes. É como se o globo terrestre tivesse a foto do nosso rosto estampada em toda a sua extensão. Somos terra e água. E também somos ar e fogo. Todos os elementos fundidos num só ser.
Leia também: «Mamã, uma mãe tem de amar os dois filhos de maneira igual!»
Tudo isto faz-me pensar no olhar de devoção da minha pequena Giovanna, hoje com três anos. Ela olha-me com adoração: no seu mundinho, sou a expressão máxima da beleza, da inteligência, da ternura e do amor. Sempre que a Giovanna tem qualquer dor, física ou emocional, sou a primeira a ser chamada. O meu colinho é milagroso, assim como meus beijinhos… «Bateste com o bracinho no sofá? Vem cá que a mãe dá-te um beijo para parar de doer». E para. Na mesma hora. Nessa idade, ainda é possível secar as lágrimas com beijos. Beijos que só uma mãe sabe dar.
O amor dela é fiel: pode estar rodeada das pessoas mais queridas e amadas, mas a mãe é a mãe. Esse sim é o significado de ter poder: como não se sentir especial, querida, amada, respeitada, festejada, se o seu filho quer apenas o conforto dos seus braços para tirar aquela sensação de medo e dor que o aflige? Como não se sentir especial, se todas as pequenas e grandes conquistas eventualmente ocorridas longe dos seus olhos, são com você partilhadas no primeiro instante em que o seu filho te encontra?
É por isso que muitas vezes queremos que o tempo dê uma trégua. Filhos pequenos dão muito trabalho: eles sugam a nossa energia. Querem a sua essência. Toda a sua atenção. Só que eles crescem, e dá saudade o cheirinho deles, as mãozinhas gordas, os bracinhos que te envolvem num abraço que diz tudo, da boquinha lambuzada, das palavras ditas com a “língua presa” ou de forma errada (e que nos esforçamos para corrigir e ao mesmo tempo achamos tão lindo…).
Leia ainda: «Todas as mães precisam de um refúgio»
Por falar em atenção, a Giovanna, por exemplo, coloca a carinha à minha frente quando estou a assistir a um filme na televisão. O que, afinal, pode ser mais interessante para mim do que ela própria? O cordão umbilical que nos une ainda está ali, pulsando. Somos uma só. A diferença é que, com o passar dos anos, os nossos filhos continuam a ser o nosso mundo, e a recíproca já não é mais verdadeira. Sempre seremos especiais, claro… «Mãe é mãe», não é assim que se diz? O facto é que o tal globo terrestre apresentará outras cores, cheiros e sabores. E lá vão eles experimentar tudo.
Nós continuaremos por aqui. Basta que nos chamem. Há uma outra regra universal no mundo da maternidade: numa certa altura da vida, o seu filho torna-se atemporal. Podem ter qualquer idade, mas serão sempre nossos bebés.
Texto: Marcella Bisetto, mãe, advogada e escritora apaixonada
Blogue
Autora do livro (disponível nas lojas Amazon, em versão digital, no mundo inteiro)