Aquilo que idealizava em relação ao crescimento do meu filho, está a ser completamente diferente. As conversas que iríamos ter sobre brincadeiras na rua, sobre as novas amizades, a escolinha e tudo o que, alegadamente, estaria relacionado com a fase infantil dele… nunca aconteceram.
Desde que começou a saber explicar-se melhor, que o meu A. só fala sobre morte. Todas as conversas vão ter à morte. Tudo o que ele quer saber é sobre morte. Todas as explicações que me pede estão relacionadas com a morte.
Ao início achei que fossem as curiosidades típicas da idade, mas só há pouco tempo comecei a perceber que é, efetivamente, o assunto da vida dele. Falei com as educadoras e também com algumas mães de coleguinhas dele e, as conversas dos outros meninos não têm a dimensão das dele.
Alguns já abordaram o tema ‘morte’ em casa, mas nunca da forma que o A. o faz. Seja ao almoço, ao jantar, nas idas ao parque… todos os momentos vão dar ao mesmo.
Ainda há pouco tempo fomos ao Oceanário de Lisboa e, sem mais nem menos, enquanto olhava para os peixinhos, chamou-me e perguntou baixinho: «Mamã! Já sabes, afinal, quando vais morrer?»
Sinto-me assustada e sofro sozinha com esta preocupação, porque o meu marido foi na conversa da pediatra e acredita que é «’apenas’ uma fase». Não acredito que seja e não consigo pensar assim!
Quero levá-lo a um psicólogo, mas o meu marido não me apoia nesta decisão. Faço-o às escondidas? Como continuo a viver com isto?
Por mais que lhe responda de forma ‘bonita’ e ‘florida’, sinto-me afetada com esta conversa. Não tivemos mortes na família, nunca abordámos essa questão com ele e, do nada, ele não fala de outra coisa.
Parece que só a morte faz parte da curta vida do meu filho e isso assusta-me.
Texto: Anónimo
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