Já pensou que, com dois anos, contar até três é uma ‘lengalenga’, uma sequência de três palavras com pouco significado na cabeça deles, mas que faz sentido porque dão direito a um reforço positivo, palmas e sorrisos, dos adultos que estão mais próximo?
Efetivamente ele não sabe, nessa altura, contar até três!
A noção de quantidade adquire-se mais tarde.
Pais… não se iludam com os números, eles não são uma prioridade antes dos cinco anos. Vão-se aprendendo de forma natural, a partir de situações do dia-a-dia, nos botões do elevador, na fila do supermercado, através dos botões do comando da televisão, quando os vamos ajudando a esticar os dedos de acordo com a idade que têm…
Naturalmente que, se a criança é curiosa e demonstra interesse por este mundo dos números, não devemos travar, o que não precisamos é de ‘ensinar’.
Deixem que descubram, que faça sentido para eles. Que concretizem na cabeça o significado destas coisas a que chamamos números (esta idade é uma idade do concreto, se não é concreto não faz sentido para os pequeninos).
E se a criança está no infantário irá contactar com atividades que ajudam neste processo, por isso, nós Pais, podemos dedicar-nos a ajudá-los a ‘desenvolver’ a matemática numa vertente diferente.
Nesta fase há competências a desenvolver para melhorar o raciocínio matemático… e não passa por saber os números, nem por reconhecê-los, muito menos por desenhar os algarismos.
Vejamos como, através do jogo (que tem uma importância crucial no desenvolvimento da criança), podemos desenvolver competências importantes para a matemática e para o raciocínio matemático.
Podemos trabalhar a persistência tentando que não desistam à primeira, não percam a vontade face à dificuldade, seja numa tarefa, seja numa aprendizagem, seja numa atividade… tentem, voltem a tentar, mas não se deem por vencidos face à dificuldade. Nenhuma criança aprende, por exemplo, a apertar atacadores à primeira vez que lhe ensinamos. Tem de ter vontade de aprender e juntar uma boa dose de persistência até começar a conseguir.
Através do jogo melhoramos a paciência
Todos, nós e eles, temos de trabalhar a nossa paciência. Precisamos de ser pessoas mais pacientes. E eles têm de crescer a perceber que a paciência é uma importante competência, cada vez mais valorizada e tão importante na matemática!
Potenciamos com estas atividades o cumprimento de regras… uma competência muito importante também para a nossa matemática – a frustração – e, se de pequeninos estimularmos estas competências, ficará a semente necessária para quando a matemática começar a estar mais presente no dia a dia deles, terem as ferramentas necessárias para a aprenderem com interesse e motivação.
Partilho ideias de alguns jogos para ajudarmos os mais pequenos a desenvolverem competências matemáticas importantes que farão muita falta na sala de aula e no percurso dos nossos pequenos.
Jogos de encaixe
Jogos com peças para encaixar. Com animais, peças geométricas, de madeira, de plástico, todos são ótimos para desenvolver competências importantes.
Até o jogo do tetris, que se adequa a diferentes idades e existe em aplicação de telemóvel, é um jogo que agrada a muitas crianças (e adultos!), e não é mais do que um jogo de encaixe. Com figuras que se colocam de forma a não ficarem espaços livres.
Já pensou nas competências que desenvolve num jogo destes?
Cubos puzzle
Um outro brinquedo que permite desenvolver no nosso pequenino, por exemplo, noções 3D, atenção, memória visual, ordenação espacial. Já alguma vez tinha pensado nisto?
Legos
Quem nunca brincou com legos? Como é possível uma criança não gostar de legos? É uma atividade que pode fazer-se quando se tem dois anos, seis anos, 12 anos, 18 anos, 40 anos, 80 anos… Mas concentrando-nos nesta faixa etária o que podemos aprender através dos legos?
Se a criança recebeu um presente de legos vê de imediato na caixa qual o desafio que tem pela frente. Juntar as peças soltas que tem e obter a figura da foto. Como? Seguindo as instruções da brochura.
Deixem a criança tentar, errar, voltar atrás, repetir, estar atenta ao pormenor, insistir, não desistir… deixem que solte o sorriso por conseguir obter uma peça igual à da foto. Festejar as conquistas é importante nesta fase (e em todas as outras).
Deixem que peça ajuda, que saiba esperar, que entenda que nem sempre se consegue à primeira. E depois da peça feita, quando desmontam e juntam estas peças e outras numa caixa, permitam que deem asas à imaginação e à criatividade.
Enquanto mais pequenos podemos usar as peças de legos para desenvolver com eles noções espaciais, noções de direção, noções de sentido… distinguir o maior do mais pequeno, identificar (a cor) do lego que está por cima e do que está por baixo, à direita, à esquerda, dentro, fora, juntar peças da mesma cor, … desenvolvendo o que anteriormente se foi indicando, a paciência, a frustração, a autonomia, a atenção, o foco…
Se isto vai fazer falta na sala de aula de matemática? Vai! Nem imagina quanto!
Não sabemos o futuro dos nossos filhos nem fazemos ideia das profissões que irão ser ainda inventadas e que os farão felizes (que muito provavelmente nem se chamarão profissões) mas sabemos que há competências matemáticas que farão toda a diferença na vida deles. Não me restrinjo só à sala de aula, às aprendizagens mas, no global, a competências que farão a diferença na vida deles.
Se isto vai fazer falta na vida dos mais pequenos? Vai! Nem imagina quanto!
Texto: Inês Cruz, professora de matemática e autora blogue Inês Ferreira Cruz
