Desenganem-se aqueles que acham que a partir do momento em que os filhos vão para a cama, podemos estar descansados no sofá a ver um filme ou… a namorar.
Tenho dois filhos, mas o episódio que vou contar foi com o mais velho, antes do mais novo nascer. Tinha pouco mais de três anos. Já dormia bem sozinho no seu quarto a noite toda! Raramente acordava a meio da noite. Sempre gostou de dormir e podia passar um camião por ele que nem se mexia.
Mas o meu filho tinha outra característica. De manhã, quando acordava, aparecia no nosso quarto de repente. Nunca o ouvíamos. Acordava e lá vinha ele em pezinhos de lã ter connosco.
Foi por isso que houve um dia que nos surpreendeu… no sofá! Sim, podíamos ter ido fazer brincadeiras para a nossa cama, mas estávamos em casa com o filho a dormir… o clima aqueceu e quando demos por ela já estávamos envolvidos demais para interromper e mudar de lugar.
(Sim, namoramos e muito! Um casal não deve esquecer-se do amor, dos mimos, daquilo que sempre os uniu só porque agora nasceu uma criança… Está completamente errado! Namorem! Com cuidado…)
Claro que ele podia ter apanhado os pais no quarto também. A diferença é que na sala estávamos completamente desprotegidos e com a luz da televisão.
Apareceu-nos à frente, ficou especado à entrada da sala com o seu pinguim na mão. Eu parecia que tinha visto um fantasma! Gritei e desatei-me a rir numa mistura de nervos e vergonha.
O meu marido ficou branco e começou a gaguejar. Perguntámos-lhe se não tinha sono, se tinha fome… Queríamos perceber a razão daquele aparecimento repentino. Ele apenas disse: «Vim beber um copo de água, papás!» Virou costas, foi à cozinha e deitou-se.
Nunca se falou no assunto. Nunca nos fez qualquer pergunta. Provavelmente não percebeu rigorosamente nada. Pelo menos é o que esperamos.
Hoje em dia temos tido muito mais cuidado… Já não confiamos nos sonos profundos dos pirralhos, mas a vida é mesmo assim. Haverá muitos mais episódios como este noutras casas, certamente.
Ah! E a garrafinha de água está sempre na mesinha de cabeceira deles…
Texto: Catarina Gouveia