Tenho uma ferida que não sara. E tudo graças a uma vida que mais parece uma montanha-russa, cheia de altos e baixos.
Há muito que tenho o sonho de ser mãe. E há muito que o tento realizar. Tinha 27 anos quando engravidei pela primeira vez. Foi um momento mágico para mim e para o meu marido. Era uma menina. Ia chamar-se Maria.
A Maria era muito mexida. Gostava que lhe cantasse e adorava quando eu comia chocolate. A Maria nunca chegou a nascer. Antes de completar cinco meses abortei. Nem direito tive a uma despedida digna. É considerado “lixo” e o feto é deitado fora. Aí foi o início do pesadelo, o início de uma vida de altos e baixos, de alegrias e tristezas, de esperança e de… nada.
Depois da Maria seguiram-se as gravidezes do Manuel, do Rodrigo, do Pedro e da Beatriz. Nenhum deles nasceu. Mas a última gravidez foi a facada total nesta ferida que não sara.
Estava grávida de 38 semanas da Beatriz quando começo a ter contrações e vou de imediato para o hospital. No parto não se ouviu nenhum choro. Levaram-na de imediato para fora dali. Tive um pressentimento que algo não estava bem. E estava correta. Nasceu sem respeitar. Sei que ainda tentaram reanimar a bebé, mas infelizmente em vão…
Isto foi há dois anos. Desde então entrei em depressão e não tenho coragem de voltar a tentar engravidar. Acho que não nasci para ser mãe. É um karma qualquer… Noutra vida devo ter feito muito mal a alguém. Ninguém merece isto.
Engravidei cinco vezes e nunca consegui ser mãe… e talvez nunca consiga chegar a saber o que é o amor de um filho…
Texto: Luísa Guimarães