Educação

Educadora de infância: Educar os filhos dos outros de dia e os próprios filhos ao chegar a casa

Andreia Costinha de Miranda
publicado há 6 anos
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Ser educadora de infância é muito mais do que se pensa. É educar e ensinar os filhos dos outros durante o dia, mas é também, muitas vezes, chegar a casa e ter os próprios filhos para cuidar.

Passar o dia com as crianças dos ‘outros’ e ter as suas crianças também para cuidar, não é, de todo, tarefa fácil.

Mas apesar de ser cansativo é, para as educadoras, um ato de amor. Não só porque amam os seus filhos incondicionalmente, mas porque exercem a sua profissão também com muito amor.

A paixão pela profissão

 

Fábia Gerós é a prova de tudo isto. Educadora de infância no Centro de Solidariedade Social de Valdozende, no distrito de Braga, esta mulher de 32 anos sempre teve uma enorme paixão por crianças, mas a escolha do curso universitário surgiu por acaso.  «Desde sempre gostei de crianças e quando era mais nova adorava ir para a pré. Mesmo já frequentando o primeiro ciclo, a educadora de tarde pegava em mim e levava-me para a pré para junto da minha irmã mais nova, mas nunca me passou pela cabeça ser educadora. Quando concorri à universidade, com 17 anos, candidatei-me para Educação de Infância um pouco sem certezas, mas fui e fiquei. Hoje posso dizer com toda a certeza que era este o curso certo para mim, pois adoro toda a dinâmica do trabalho e mesmo após 11 anos de concluir a licenciatura tenho muita motivação a cada ano que começa! São sempre crianças novas, idades diferentes, projetos diferentes e a minha cabeça é um turbilhão de ideias giras que adoro pôr em prática», conta ao site Crescer.

Para Fábia, o maior encanto da profissão que exerce «são as crianças». Mas não só! «Procuramos sempre fazer coisas diferentes e novas mas por vezes são as coisas simples e banais que para eles têm mais valor, quando nos sentamos na manta a fazer umas palhaçadas com eles, a cantar, a dar mimo», diz.

Quando os mais pequenos chamam ‘mãe’ às educadoras…

 

Na verdade, não são só as educadoras que ensinam as crianças. As docentes também adquirem muitas aprendizagens com os mais pequenos. «Cada carinho deles, o sorriso e aquilo que nos transmitem do que vamos ensinando são uma conquista para nós enquanto profissionais. Estou há vários anos na creche e somos muitas vezes chamadas de ‘mãe’,  ‘mamã’, pois é das primeiras palavras que aprendem», realça.

Até porque são elas que estão em algumas das alturas mais importantes do início de vida das crianças. «É connosco que muitas vezes começam a andar, a comer a sopa, a fazer o desfralde, somos uma ‘peça’ essencial no seu dia-a-dia e é connosco que passam grande parte do dia. A opinião dos pais também é muito relevante e é bom receber deles palavras de gratidão pois diariamente eles estão connosco e gostamos de ver reconhecido o nosso esforço», assegura.

 

 

Ser educadora e mãe

 

Estar diariamente com crianças não é tarefa fácil. Mas chegar a casa depois de um dia de trabalho e ter os próprios filhos para cuidar, também não. «Acredito que isto seja o mais difícil de gerir na nossa profissão. Para além de educadora surgiu há quase quatro anos uma nova profissão: a de MÃE, com uma carga semanal de muitas horas», diz, acrescentando que a profissão de educadora de infância «implica um desgaste muito grande diário e também trabalho de casa».

Por isso é muito difícil gerir o tempo «quando se quer dar tudo». «Antes de ser mãe levava muito trabalho de casa, depois de ser mãe continuo a levar, mas menos e torna-se sempre mais difícil de gerir o tempo, quer na escola quer em casa. Temos sempre a ideia ‘quando for mãe vou ler histórias para o meu filho, vou brincar, vamos passear, vamos cozinhar’,  mas depois de estar todo o dia com crianças a fazer muitas destas atividades a paciência para chegar a casa e fazer ‘mais do mesmo’ não é assim tão grande. Tento gerir isso da melhor forma e procuro que o pai ajude nessa missão».

«A minha filha está numa fase que adora histórias e, ou eu ou o pai, contamos diariamente uma história antes de ir para a cama. Por vezes cozinhamos juntas, peço ajuda para pôr a mesa, estender a roupa, enquanto falo com ela do dia dela na escola. É uma maneira de incutir nela já algumas responsabilidades e de proporcionar interações positivas», explica.

Ser educadora na mesma escola onde anda a filha

 

Quando os filhos andam nas mesmas escolas onde as mães lecionam, muitas vezes essas situações não são vistas com bons olhos. Mas Fábia Gerós tem uma ideia contrária. «O facto de ter a Leonor na mesma instituição tem, a meu ver, mais vantagens que desvantagens, nomeadamente ao nível de horários e de preocupações», explica.

E há sempre tendência a ir ‘espreitar’ a filha na sala do lado? «Há, sim. Ver se está bem, se come tudo, de perguntar se ela se porta bem, se come bem, se trabalha, se é obediente, mas esta proximidade também nos dá, a nós mães, outra segurança que não tínhamos se tivéssemos de a deixar num colégio onde não conhecemos ninguém, que é aquilo que acontece com os outros pais», garante.

O problema é quando existem atividades coletivas. «Aí já é mais difícil gerir. Eu tenho de estar ali para trabalhar e a Leonor procura-me enquanto mãe. Ainda há pouco tempo ela dizia que o pai ia trabalhar e quando eu perguntava ‘e a mãe?’ E ela dizia: ‘A mãe vai para a escola.’ Não considerava isso como sendo o meu trabalho. Agora não e já diz ‘quando for grande quero ser professora como tu’», conta, orgulhosa.

E na opinião desta profissional, deverão os filhos ser alunos das próprias mães? A resposta é perentória: «Não. É muito complicado, quer para a mãe quer para o filho, separar as coisas. Principalmente para a criança. A educadora ali não é educadora é mãe, por muito que se explique isso à criança», finaliza.

 

 

 

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