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«É difícil lidar com os nossos castelos de emoções»

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publicado há 5 anos
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«Desculpe! As crianças de dois anos podem andar neste brinquedo?», pergunto, enquanto ouço os grunhidos de dinossauros a poucos metros dali.

Diante da resposta positiva da vendedora, comprei os bilhetes, ainda atordoada com o barulho assustador dos dinossauros.

Recriminei-me por sentir medo do barulho emitido por um brinquedo. Mas as nossas memórias de infância não nos abandonam e a criança que habita em nós faz-nos sempre recordar que o nosso corpo e mente amadureceram, mas que no nosso coração e na raiz mais profunda de nossos sentimentos, há um espaço reservado para nossa criança interior.

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Lembrei-me de sempre ter tido pavor de comboios fantasma nos parques de diversões. Não gostava de andar nesses brinquedos e, sinceramente, não gosto ainda hoje, acreditem…

Lá estava eu, aos 46 anos, sentada num carrinho em formato de ovo de dinossauro, com a minha pequena de dois anos ao colo.

O carrinho começou a deslizar pelos trilhos e seguíamos em direção a um portão fechado. O barulho dos dinossauros era ensurdecedor atrás do tal portão e eu tremia de puro pavor, mas tinha que disfarçar, pois a minha pequena olhava para mim e perguntava: «Estás com medo, mãe?»

Respondia que não, claro! «Somos corajosas, lembras-te?», perguntava eu, animando-a a encarar o portão que se aproximava cada vez mais do nosso nariz.

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Eu tinha vontade de fechar os olhos, mas precisei de mantê-los abertos porque a minha preciosidade em forma de gente estava encostada ao meu peito. E foi um alívio quando o caminho do carrinho em forma de ovo pré-histórico chegou ao fim.

A questão é que, se a minha menina quisesse repetir aquele passeio (que, para os olhos da minha criança interior, era horrível), eu repetiria porque, afinal, fazemos tudo por eles, não é?

Tudo isso fez-me pensar quantas vezes passamos por cima dos nossos medos e vontades para oferecer o melhor, o tudo, o intransponível aos nossos filhos…

Temos um dia cansativo no trabalho, queremos chegar a casa, descarregar aquela energia pesada pelo ralo do chuveiro e deitarmo-nos em posição fetal na cama.

Mas não é isso que acontece quando temos filhos! Chegamos a casa, abrimos o nosso melhor sorriso (aquele que retiramos lá dos escombros), e seguimos no “palco da vida”.

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Sim, é paradoxal: Temos que preparar os nossos filhos para que enfrentem e conheçam a realidade da vida, mas também temos que ser atrizes, porque queremos que, mesmo num dia difícil para nós, o nosso filho tenha momentos felizes e lembranças açucaradas. Sempre!

Guardo, até hoje na memória, o cheirinho do biscoito de laranja que minha avó fazia e depois ficava entranhado no armário da cozinha.

Lembro-me também do cheirinho reconfortante do creme que a minha mãe passava no corpo depois do banho e da alegria de acordar num sábado de manhã porque não tinha escola naquele dia e iria brincar muito.

Quero que as minhas filhas também guardem memórias felizes. E com esses tijolinhos de afeto olfativo, visual, tátil e auditivo vamos construindo o castelo da existência dos nossos filhos, para que um dia, lá mais à frente, eles sorriam sozinhos ao lembrar, com o olhar perdido, da sensação de segurança do nosso abraço protetor de mã, e possam repassar esse amor para os seus netos e para os netos dos nossos netos…

Texto: Marcella Bisetto, mãe, advogada e escritora apaixonada

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