Alimentação

Dura realidade: A má alimentação nas escolas está a afetar a saúde das crianças

Filipa Rosa
publicado há 6 anos
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A saúde e alimentação das crianças é cada vez mais a principal prioridade dos pais. Mas será que nas escolas se cumprem as regras para os mais pequenos terem um estilo de vida saudável? Será que os nossos filhos sabem fazer as melhores opções alimentares? A Ordem dos Nutricionistas tem dúvidas e critica o Ministério da Educação pelas «falhas de fiscalização» na alimentação escolar e pela «falta de competências» dadas aos alunos para fazer as escolhas de alimentação saudáveis.

O site Crescer falou com Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, que assume como urgente a implementação da proposta de inserir nutricionistas nas escolas para trabalharem questões de fiscalização, mas também de mudança de atitudes e conhecimentos junto da comunidade escolar.

Segundo a Bastonária, em Portugal 30 por cento das crianças tem peso em excesso e mais de 70 por cento das crianças e adolescentes não cumpre a recomendação da Organização Mundial da Saúde de consumir mais de 400g/dia de fruta e produtos hortícolas (equivalente a cinco ou mais porções diárias).

«O caminho faz-se caminhando. A proposta já foi entregue. Para que este cenário seja alterado, é necessária uma grande vontade política. Caso contrário, continuaremos a ter medidas avulsas no que respeita à alimentação das escolas, não sendo possível reverter o panorama alimentar atual», diz-nos.

«A proposta que a Ordem dos Nutricionistas apresentou em fevereiro de 2018 à Secretaria de Estado da Educação baseia-se em recomendações de autoridades internacionais e nacionais, com o objetivo de criar ambientes alimentares saudáveis nas escolas e de capacitar a comunidade escolar, os pais e encarregados de educação para escolhas alimentares saudáveis», explica-nos.

«Esta proposta daria resposta à recomendação da Assembleia da República (Resolução da Assembleia da República n.º 67/2012, de 10 de maio) que prevê a integração de nutricionistas nas escolas, responsáveis pela implementação e aplicação de uma política alimentar escolar estruturada e sustentável.»

Segundo Alexandra Bento, a proposta prevê o enquadramento de um conjunto de medidas para a alimentação escolar em dois eixos fundamentais:

  • Intervenção ao nível da comunidade escolar, com o objetivo de incrementar a literacia alimentar e nutricional e capacitar para escolhas mais saudáveis, bem como da melhoria da formação, qualificação e modo de atuação dos diferentes agentes e profissionais que podem influenciar o consumo alimentar dos alunos;
  • Intervenção ao nível do ambiente escolar, com o intuito de definição de normas de oferta alimentar; alteração da disponibilidade alimentar e monitorização do seu cumprimento.

Para a Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, os hábitos alimentares adquiridos em tenra idade perduram na idade adulta e influenciam o estado de saúde do indivíduo adulto. «Existe ainda um longo caminho a percorrer no sistema alimentar escolar: há medidas positivas, como é o caso dos normativos que regem a alimentação das cantinas, dos bufetes escolares e das máquinas de venda automática. Mas a Ordem dos Nutricionistas considera que é necessário haver vontade política para colocar a alimentação escolar no centro da decisão política. Desta forma seria possível melhorar os hábitos alimentares das crianças utilizando a escola como palco de excelência para este desiderato», considera.

Os maiores erros alimentares cometidos pelas escolas

A Ordem dos Nutricionistas tem vindo a defender a integração de nutricionistas nas escolas. «O objetivo é, por um lado, assegurarem uma adequada alimentação fornecida às crianças e, por outro, auxiliarem na capacitação dos nossos alunos para escolhas alimentares verdadeiramente saudáveis», conta Alexandra Bento.

«Das visitas que a Ordem dos Nutricionistas tem vindo a realizar a várias escolas, bem como dos dados revelados pela literatura científica, é possível constatar que existe algum incumprimento dos normativos publicados pelo Ministério da Educação relativos à oferta alimentar em meio escolar e que o desperdício de alimentos nas cantinas atinge valores preocupantes.»

Que alimentos nunca deveriam ser oferecidos às crianças no ambiente escolar?

Há inúmeros alimentos que são oferecidos às crianças nas escolas que não deveriam estar à sua disposição. Estes são só alguns exemplos:

  • Bolos
  • Pastéis de massa folhada
  • Refrigerantes
  • Salgados
  • Charcutaria
  • Guloseimas

«A Direção-Geral da Educação dispõe de um guia orientador para os bufetes escolares e para as máquinas de venda automáticas, onde estão identificados os géneros alimentícios que devem ser promovidos, limitados ou não disponibilizados em meio escolar. Assim, aqueles que recaem na lista de alimentos a não disponibilizar não devem estar acessíveis às crianças em ambiente escolar», explica Alexandra Bento.

O acompanhamento de nutricionistas nas escolas é fundamental, segundo a Bastonária. «O nutricionista é um profissional habilitado para lidar com as questões da garantia do cumprimento dos normativos do Ministério da Educação, no que respeita à adequação alimentar e nutricional das ementas escolares e da oferta alimentar nos bufetes e nas máquinas de venda automática, bem como a higiene e segurança alimentar. Mas a atuação dos nutricionistas não se circunscreve ao ambiente alimentar escolar. A sua intervenção deve focar-se de igual modo, no envolvimento dos alunos e dos diferentes agentes educativos e toda a comunidade escolar (professores, pais, encarregados de educação, auxiliares, pessoal da cozinha), de modo a transmitir-lhes conhecimentos e competências em literacia alimentar e nutricional, tornando-os capazes de fazerem escolhas alimentares mais saudáveis.»

«Assim, os nutricionistas nas escolas, ao intervirem concomitantemente na oferta alimentar e no incremento de literacia alimentar e nutricional e capacitação dos alunos e restantes agentes potencialmente influenciadores do consumo alimentar, estarão a promover a saúde através da alimentação, contribuindo de forma efetiva para a alteração de comportamentos alimentares e consequentes ganhos em saúde.»

Sendo os pais os principais pilares dos filhos na educação e hábitos alimentares, é urgente trabalhar em paralelo entre a escola e o ambiente familiar. «Os hábitos alimentares aprendidos durante a infância determinam os comportamentos alimentares na idade adulta. Os pais constituem um dos principais fatores modeladores das preferências e dos hábitos alimentares das crianças. Neste sentido, qualquer intervenção que seja realizada na comunidade escolar, ao nível da promoção de uma alimentação saudável e da capacitação para melhores escolhas alimentares dos alunos, só poderá sem bem-sucedida e efetiva se os pais ou encarregados da educação forem ativamente envolvidos e integrados em todas as atividades, enquanto agentes influenciadores do consumo alimentar das crianças», explica.

«A Ordem dos Nutricionistas gostaria muito de ver este assunto passar da agenda pública, para a definição em papel de uma estratégia nacional para a alimentação escolar, e a consequente implementação no terreno, com a integração de nutricionistas nas escolas. Assim haja vontade política», afirma Alexandra Bento.

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