Saúde

Menopausa: Duas histórias… a mesma realidade!

Andreia Costinha de Miranda
publicado há 5 anos
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A 18 de outubro assinala-se o Dia Mundial da Menopausa.

O site Crescer conversou com duas mulheres que passaram por este processo de forma completamente diferente e ambas contaram as suas histórias, que são comuns a tantas outras mulheres.

O que é a menopausa?

 

No site CUF pode ler-se que a  menopausa corresponde ao fim das menstruações espontâneas e pode ser confirmada após doze meses consecutivos sem qualquer período menstrual. Trata-se de um processo biológico natural e perfeitamente normal da vida da mulher. Este período assinala o fim da fertilidade.

É uma consequência da redução na atividade dos ovários, que deixam de libertar óvulos mensalmente. Ao mesmo tempo, os estrogénios começam a ser produzidos em menor quantidade. Este novo ambiente hormonal, quando ocorre de um modo súbito, origina sintomas mais intensos do que se ocorrer de um modo gradual, mais lento.

A primeira expressão da redução significativa da função dos folículos ováricos é o aparecimento das irregularidades menstruais, que podem durar vários anos. Numa primeira fase, os ciclos tornam-se mais curtos, mantendo alguma regularidade; mais tarde, tornam-se irregulares, sucedendo-se ciclos de duração muito variável. A amenorreia (isto é, ausência de menstruação normal) definitiva surge ao fim de algum tempo, quando ocorre a falência ovárica, devida ao consumo total dos seus folículos.

Embora seja um processo normal, as alterações associadas à menopausa apresentam importante impacto em diversos aspetos da vida da mulher, podendo fazer desta etapa um período bastante difícil.

A menopausa precoce também existe

 

Exemplo destas irregularidades é Ana Raquel Madeira. Hoje tem 40 anos, mas os primeiros sintomas apareceram aos 34. «Comecei por ter períodos muito irregulares, de dois em dois meses e mais. Na altura andava a tentar engravidar a segunda vez e não conseguia. Fiz vários exames e no início estava tudo bem mas depois comecei a sentir afrontamentos e alguma irritabilidade», conta.

No meio deste processo esta mulher foi «diagnosticada com fibromialgia.» «Voltei a fazer muitos exames e os valores hormonais começaram a vir alterados. Sempre fui ao médico desde os primeiros sintomas mas como era muito nova nem punham em causa que fosse menopausa. As alterações a nível de produção de estrógeno e outras hormonas eram bastantes claras», avança.

Apesar do diagnóstico de menopausa precoce, Ana Raquel não reagiu «muito mal, pois já desconfiava». E a esperança de dar um irmão à filhota de dez anos, ainda não esmoreceu. «O meu ginecologista diz que é possível com algum tratamento e possivelmente por fertilização artificial. A medicina está muito avançada nesta área e dá ânimo a quem está nesta situação».

Um assunto ainda tabu

 

No meio de todo este processo, divorciou-se. Mas não baixou os braços. «Não foi fácil mas tive de arranjar forças pois a minha filhota, hoje com 10 anos, precisa da mãe».  Com tantos problemas, os sintomas da menopausa não dão tréguas. «Tenho os calores próprios, sinto que ganhei barriga, tenho algumas dificuldades em dormir. Há medicação e o médico receitou-me mas quando iniciei tive de parar pois não reagi bem», revela.

Optou por não procurar ajuda psicológica e ‘refugiou-se’ nas terapias alternativas como são exemplo ioga e meditação que a ajudaram a ultrapassar as fases mais complicadas. Mas Ana Raquel dá ainda a opinião de que as mulheres, mas também os companheiros, deveriam estar mais bem informados sobre o tema menopausa: «Acho que muitas mulheres acham que é algo mau e os companheiros também não compreendem e acham que as mulheres se tornam menos apelativas. Mas hoje em dia já não é motivo para tal», garante.

E acrescenta: «Todas as pessoas me diziam coitada e que coisa tão chata. E eu respondia que é uma manifestação do nosso corpo e que nós temos de aceitar e tentar aprender a conviver com ela de forma positiva.»

Tendo Ana Raquel já passado pela menopausa, dá conselhos a quem esteja na mesma situação. «Não deixem de se arranjar e sentir que são lindas e sexy, que falem abertamente com os seus companheiros sobre o que sentem para que ambos possam procurar uma forma de se sentirem bem e que tenham um bom ginecologista que lhes faça o acompanhamento necessário», finaliza.

Extração ovárica ‘à força’

 

Sandra Miguel tem 45 anos e aos 14  teve um «rompimento do corpo do folículo amarelo no ovário esquerdo.» «Não foi detetado a tempo e quando fui operada de urgência já o mesmo tinha apodrecido e sido absorvido pelo meu organismo. Teve de ser retirado o que ficou. Tive muitos quistos e folículos ao longo dos anos. Morreram-me dois bebés (sete semanas e 28) e até que fiz tratamento com médico naturista. Fiquei bem e tive três filhos», conta.

Na última gravidez, Sandra não queria seguir com a gestação e fez exames para abortar. «Durante os exames descobri que tinha um quisto com cerca de dois centímetros. Supostamente diminuiria com a gravidez se a levasse avante. Acabei por ter o meu filho, pois na altura o aborto não era legal e tive medo de deixar três filhos órfãos pequenos. O meu filho mais novo, tal como os irmãos, nasceu de 32 semanas com cesariana marcada», continua a relatar.

Mas foi nessa altura que o inesperado aconteceu. A criança decidiu nascer de urgência, de madrugada. «A equipa de serviço não leu o historial médico. O quisto tinha na altura do nascimento 9,2 centímetros e optaram por retirar o ovário. Só depois a minha médica informou o que tinha acontecido.» 

O sentimento foi ambíguo. «Fiquei triste e ao mesmo tempo não. Não queria mais filhos, mas deveria ser uma opção minha e não uma constatação», garante.

 

«Sentia-me uma velha num corpo de jovem»

 

Os sintomas da menopausa começaram a ser sentidos por Sandra quando esta tinha 31 anos. «Foram muito violentos. Frio, calor, irritabilidade, zanga, insónia, sonolência… Tudo em simultâneo! Iniciei terapia de substituição hormonal e engordei 10 quilos em seis meses. Era medicação cara e não comparticipada pois não era uma doença, segundo a médica. Não seria aos 50, mas na minha idade deveria ser considerado como tal», dispara com revolta. E acrescenta: «Sentia-me velha num corpo jovem. Foi difícil e contribuiu para o meu divórcio», revela.

Ao fim de dois anos desistiu da terapia de substituição hormonal e não a voltou a fazer. «Emocionalmente foi muito mau porque me desequilibrei muito e mais tarde acabei com uma violenta depressão», diz.

O afetar na relação com os outros

 

O divórcio foi um acontecimento complicado na vida de Sandra, assim como a relação com os homens desde então: «A relação com os outros, principalmente a nível sexual tornou se inexistente de há três anos para cá e em seis anos, as poucas vezes que aconteceu foram dolorosas fisicamente devido à extrema secura vaginal e fui perdendo o desejo… até à data».

Desde há nove anos que tem acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Apesar de existirem tratamentos para amenizar os sintomas da menopausa, o facto de ter três filhos para criar sozinha, fez com que optasse por não gastar dinheiro em medicamentos. «Separei-me quando o meu filho mais novo fez um ano. Não podia gastar tanto dinheiro em medicação. À data, cada caixa para 30 dias eram 28 euros sem comparticipação. Não me podia dar a esse luxo. Lavava e passava roupa para fora para sustentar os meus filhos, já que o pai não dava nada».

«Fui-me abaixo, mas levantei-me»

 

A falta de medicação para os sintomas que tinha, fez com que as consequências fossem muitas. «A osteopenia é só uma delas. O sobrepeso outra. Também fiquei com artrite, artroses e afins», conta.

E onde se arranjam forças para lutar contra tudo isto? «Às vezes não se arranja, mas depois vemos que os filhos só nos têm a nós. Somos o mundo deles e eles o nosso. Estive internada na psiquiatria três semanas, fiz hospital de dia três meses. Fui-me abaixo, mas levantei-me».

E depois de tanta luta, eis que hoje, Sandra é uma mulher nova e cheia de força. «Com altos e baixos, hoje encontro-me a tirar o curso de licenciatura em Ciências Sociais. Estou no primeiro semestre do segundo ano. Está a ser difícil mas chegarei lá», assegura.

«A única coisa que não quero mais na minha vida é um homem»

 

Sandra é também da opinião que o assunto menopausa é ainda tabu e que se deveria falar mais do tema. «Principalmente na parte do sexo. É muito difícil admitir que se perde o desejo e que em determinadas alturas até nos mete nojo. Tornei-me intolerante e antissocial, mais exigente. Talvez para esconder o medo de ficar sozinha, embora não o admita».

E quanto a certezas… só há uma: «A única coisa que não quero mais na minha vida é um homem».

E que conselhos dá a mulheres que estejam a passar pelo mesmo? «Depende da idade em que acontece e o que motivou, mas procurem sempre ajuda. Da ginecologista, endocrinologista e para a parte psicológica. Não vale a pena fingir que está tudo bem», finaliza.

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