Sempre me fez confusão ouvir falar de depressões pós-parto. Não entendia como alguém podia ficar depressiva quando tem nos seus braços a maior felicidade do Mundo. Mas agora entendo! Entendo porque passei por uma! Entendo porque me senti a desabar! Entendo porque estive prestes a bater no fundo!
Tive uma gravidez santa. Sem enjoos, sem dramas de maior, com família e amigos a vibrarem com cada pontapé, com cada roupinha, com cada decoração comprada para o meu menino.
Mas no último mês, alguns graves problemas laborais fizeram com que a tensão aumentasse e ficasse com princípio de pré-eclampsia. Posto isto, induziram-me o parto às 38 semanas. Nada de dilatação 11 horas depois do início da indução. Águas rebentadas «à força», estagiários, enfermeiros e médicos a fazer o «gosto à mão», mil e uma peripécias que davam capítulos de uma história, que teve tudo menos contornos cor de rosa.
Tudo teria sido facilitado com uma cesariana, mas não! Foram necessárias dores insuportáveis, ter o bebé em sofrimento (deixei de ouvir o coração e achei que nasceria sem vida!!!), uma mãe cortada e rasgada «de uma ponta à outra», um médico a empurrar a barriga de grávida para o bebé descer (não estava preparado ainda), um pai a ser «expulso» do bloco de partos porque o bebé não conseguiu sair a ventosas e teriam de «dar uso» aos ferros… mil e um mistos de emoções que me tornaram, de um minuto para o outro, uma pessoa insegura… coisa que nunca fui na vida.
Depois de tudo isto, o meu filho, finalmente, nasceu! Beijei-o! Chorei! Não aproveitei o momento como imaginei! Nunca imaginei que nos dias de hoje alguém pudesse sofrer tanto para ter um filho! Ninguém deveria sofrer assim! Somos mulheres e o parto é animalesco. É selvagem! O meu foi! Fui cosida de uma ponta à outra, por dentro e por fora. E na obstetrícia obrigavam-me a andar! Eu tocava à campainha e obrigavam-me a andar, quando estava sem forças físicas e anímicas com tudo o que tinha passado!
Para ajudar, apanhei greve de enfermeiros. O meu filho teve icterícia e ficou internado uma semana. Estive com um médico que me disse que o meu filho poderia ficar com lesões cerebrais se a icterícia se prolongasse… As lágrimas escorriam-me pelo rosto com mais esse pesadelo que caiu como uma bomba na minha nova vida de mãe… E afinal, as coisas não eram bem assim…
Saí do hospital sem o meu bebé! O ovinho foi para o hospital cheio de amor e saiu com um vazio inimaginável. Durante uma semana passei os dias na neonatologia. As noites teriam de ser passadas numa cadeira de plástico e da forma como estava nas «partes baixas» (chamemos-lhes assim!), era impensável dormir sentada naquelas condições! Nem em almofadas próprias as dores eram suportáveis…
Nesses primeiros dias não consegui tocar no meu filho… a fragilidade, a insegurança, os sonhos desmoronados tomaram conta de mim. Tive o apoio incondicional do meu marido (que sorte eu tenho!). Foi pai, mãe, marido, amigo, companheiro… foi ele que, sem me dizer que no fundo sabia o que eu estava a sentir, me fez, com muita calma, ir conseguindo fazer as coisas ao meu tempo. A pessoa mais segura do mundo tinha desaparecido. Não estava a ser a mãe que sempre disse que seria. Não estava a ser a mãe que o meu bebé precisava. Não estava a ser mãe… ponto!
Depois dessa semana cheia de peripécias, finalmente o meu bebé foi para casa… amarelo que até metia impressão, mas podia ir para o seu cantinho de amor.
Desde então foi uma «luta». O marido regressou ao trabalho e eu, habituada a andar na labuta do dia a dia, fiquei em casa sozinha. Um inverno como não tenho memória… quase quatro meses em casa. Insegura. A criar fantasmas na minha cabeça. A viver em função de um bebé e a recuperar, muito calmamente, física e psicologicamente, de um parto traumatizante.
Durante os meses seguintes, e mesmo depois de voltar ao trabalho, continuava a ser uma pessoa que não era eu! A entrada naquele bloco de partos mudou a minha vida! Percebi que não estava bem. Comecei a ter medo de andar na rua. Achava que toda a gente me ia fazer mal. Que o meu filho ia ficar doente ou algo péssimo lhe aconteceria.
Sofri em silêncio! Quase ninguém sabia o que se estava a passar. Jamais alguém desconfiou! Até que meti na cabeça que tinha de voltar a ser quem era. Pedi ajuda. Fui ao médico, fui à psiquiatra (esqueçam! Só querem medicar!) e à psicóloga (esta ajudou-me bastante!) e fiquei em choque quando me perguntaram se alguma vez pensei em fazer mal ao meu filho. Fiquei em choque com a pergunta, mas agora entendo. Embora nunca me tivesse acontecido, os pensamentos maldosos em relação ao bebé, para quem tem depressão pós-parto, é algo «normal» – dependendo do grau em que o estado depressivo está. Agora sei que são mais mães que passam por isto do que imaginamos.
Se se sentirem diferentes, procurem ajuda. Somos nós que temos de dar o primeiro passo e assumir que temos um problema. Somos nós as mais interessadas na nossa cura. Os nossos filhos precisam de nós, de corpo e mente sã!
Agora, três anos depois do nascimento do meu pequenino, olho para trás e não reconheço a menina insegura em que me tornei durante aquele tempo. Passei por muito, é verdade! Pouco, comparando com outros casos que vi na neonatologia. Senti-me a ser injusta por estar a sofrer tanto e estar a ser apoiada por pais que tinham os filhos a lutar pela vida… o meu filho estava bem. Eu estava em péssimas condições, mas com o passar do tempo percebemos que por um filho, podemos dobrar, mas não quebramos por completo.
Hoje sou a menina/mulher/mãe segura de outrora e, imaginem só… nunca pus em causa não ter um segundo filho.
Peçam ajuda porque estarão a ajudar não só a pessoa que são, mas o maior amor do Mundo: os vossos filhos!
Texto: Leonor Antunes