Criar Comer Crescer: O blogue que ensina pais com filhos alérgicos à soja e ao leite

Filipa Rosa

publicado há 6 anos

Um blogue alérgico ao leite e à soja. É assim que Sofia Carvalho descreve o seu projeto Criar Comer Crescer. As alergias do filho mais novo levaram-na a criar o blogue, que tem ajudado muitas mães com o mesmo problema.

Sofia Carvalho vive na Suíça e é mãe de dois meninos. Faz parte da percentagem que emigrou à procura de uma vida melhor. Vive com o marido e o filho mais novo, com mais de um ano. O mais velho, com 12 anos, ficou em Portugal com os avós onde se sente mais confortável e confiante.

Antes do pequeno Afonso completar os dois meses de idade, Sofia descobriu que o filho mais novo era alérgico ao leite. À soja descobriu mais tarde, aos 12 meses. «Ficámos um pouco desnorteados. Ao início parecia tudo muito complicado porque existe leite quase em tudo. Para quem está habituado a uma alimentação dita normal, retirar da alimentação tudo o que pode fazer mal ao nosso bebé parece uma missão impossível. Retirámos todo o leite e derivados da nossa alimentação, substituindo a maioria das coisas por receitas caseiras e o mais saudáveis possível», começa por contar ao site Crescer.

Foi nessa altura que Sofia percebeu que não estava sozinha neste dilema e não eram poucas as mães a fazer a mesma mudança no seu estilo de vida. Com o blogue Criar Comer Crescer nasceu uma outra forma de ver os hábitos alimentares. «Apercebi-me que, tal como eu, muitas mães ficam desorientadas e sem saber o que fazer. Decidi partilhar a minha experiência e, principalmente, as minhas receitas para que este caminho seja mais fácil para todos os que passem pelo mesmo», diz.

Apesar do sucesso das suas receitas, Sofia nem sempre gostou de cozinhar. «Confesso que, apesar de adorar comer, até aos meus quase 28 anos detestava cozinhar, da mesma maneira que detestava fotografia (principalmente de mim mesma). De um momento para o outro passei a amar cozinhar, de fotografar e ultimamente fazer vídeos, como podem ver no meu canal do youtube (ver aqui). São, sem dúvida, das coisas que mais gosto de fazer», confessa aquela que tenta atualizar-se diariamente. «Sou de uma forma geral uma pessoa criativa, mas aprendo todos os dias! Todos os dias e em todo o lado existe sempre algo interessante a ver, a explorar e a aprender, não fosse eu uma autodidata nata.»

Quais os principais cuidados a ter?

Há muitos cuidados a ter quando se tem um filho com este tipo de alergias. Todo o cuidado é pouco. O pior é mesmo fora de casa. «São situações complicadas, que podem levar à morte e que, infelizmente, ‘atrapalham’ a vida social de qualquer um», diz Sofia. «Eu sempre tive mais cuidado fora de casa, mas mesmo levando a ‘casa às costas’ (alimentação e tudo o que ele necessite), existe sempre a possibilidade de alguém oferecer algo sem perguntar. Não podemos relaxar, temos de estar sempre em alerta.»

É fundamental avisar toda a gente que rodeia a criança. «Isto parece algo simples, mas como está muito enraizado o ‘dar’, o ‘ele estava a olhar’, pode ser muito complicado e colocar a criança em risco», explica.

«Existem pessoas que vão levar a mal e outras até que vão achar ‘palermice’. O conselho que dou aos pais de crianças alérgicas é que os filhos são vossos! Só vocês sabem o que eles sofrem numa reação! Só vocês choram com eles! E só vocês sabem o que eles necessitam! Os outros têm que respeitar, não tenham medo, vocês é que sabem! Já passei por aí, não são sentimentos fáceis de gerir, mas é necessário fazer o que for preciso para manter os nossos sãos e salvos.»

Sofia apela à paciência das mães que estejam na sua situação e deixa alguns conselhos que poderão ajudar no dia a dia. «Calma, muita calma! Tudo parece muito complicado, que a nossa vida vai desmoronar, ficamos sem pé e sem chão, mas hoje em dia já existe muita informação na Internet, os produtos alimentares são obrigados a descrever alérgenos (deviam fazer isso em todos os outros também para facilitar, tais como champô, sabão, fraldas, balões, canetas, etc), muitas mães com inexperiência, grupos no Facebook e até associações de apoio, como O Alergias (em breve vamos dar a conhecer no site Crescer). Não desesperem que tudo parece mais difícil do que é e que os hábitos depressa se ganham. Força!»

As saudades do filho mais velho que ficou em Portugal

Sofia Carvalho decidiu emigrar com o marido em busca de melhor qualidade de vida. «Na altura tínhamos sonhos e queríamos um futuro melhor. Portugal não nos estava a ‘dar’ o que necessitávamos para o conseguir e, por isso, decidimos fazê-lo», explica aquela que nunca se arrependeu da decisão que tomou. «Nunca teríamos a vida e as possibilidades que temos se não o tivéssemos feito por isso arrepender não faz parte do nosso pensar.»

Deixar o filho mais velho em Portugal foi o mais difícil. «Na altura tinha 10 anos, decidiu ficar em Portugal com os meus pais e ainda hoje em dia diz que não quer vir (só de férias, diz ele). Nunca o obrigaria a fazer algo que ele não estivesse de acordo, seria ainda mais penoso do que é», conta.

Para o casal, não é fácil estar longe dele, mas a educação está assegurada. «Educar de longe é mais difícil, mas hoje em dia existe a Internet, sendo mais fácil de nos vermos, conversarmos e matarmos um pouco de saudades…»

Segundo Sofia, a probabilidade de um bebé nascer com alergias, ou outras doenças, é maior quando existe histórico na família. «No entanto, não é uma regra e qualquer bebé hoje em dia pode ser alérgico sem nunca nenhum familiar o ser, tal como nós, não existe nenhum histórico na nossa família.»